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A Fascinante Jornada de “Malandragem”: Da Decepção à Imortalidade Musical

No início de 1988, o cenário musical brasileiro vivia uma efervescência cultural única, marcada por figuras icônicas e inovações audaciosas. Entre essas figuras estava o renomado cantor e compositor Cazuza, conhecido por sua visão lírica inovadora e sua capacidade de capturar a essência da vida cotidiana em suas canções. Foi nesse contexto que surgiu a história da música “Malandragem”, uma canção que, apesar de ter enfrentado um percurso tortuoso, acabou se tornando um marco na carreira de outra artista lendária, Cássia Eller.

A Gênese de “Malandragem”

Em 1988, Cazuza, já uma figura consolidada na música brasileira, decidiu prestar uma homenagem à sua amiga Angela Ro Ro, uma artista com uma voz inconfundível e uma trajetória marcada por polêmicas e talento. Cazuza, conhecido por seu estilo irreverente e suas letras profundamente pessoais, resolveu criar uma música especialmente para Angela, que na época estava se preparando para o lançamento de seu sétimo álbum de estúdio. Para essa tarefa, ele contou com a colaboração do guitarrista e compositor Frejat, com quem havia uma parceria criativa de longa data.

O processo criativo de “Malandragem” foi descrito por Frejat como algo quase mágico. Segundo ele, a música surgiu de uma vez só, como um sopro divino que deu vida a uma composição completa e coesa. No entanto, a resposta inicial de Angela Ro Ro à canção não foi a esperada. Ela ouviu a fita cassete enviada por Cazuza e Frejat, mas, para sua surpresa, não se sentiu identificada com a letra. Angela estava à beira dos 40 anos e, embora a letra da música descrevesse uma “garotinha das meias três quartos”, ela não se via representada por essa imagem. A canção, então, foi deixada de lado e caiu no esquecimento, enquanto Angela finalizava seu repertório para o disco que viria a ser lançado.

O Destino da Música

A música “Malandragem” foi, portanto, engavetada e esquecida por cerca de seis anos. Durante esse tempo, Cazuza, um dos grandes nomes da música brasileira, falecia em 1990, sem nunca ter visto a sua criação ganhar vida. A música permanecia uma obra órfã, sem um lar para sua melodia e letra envolventes.

A reviravolta na história de “Malandragem” aconteceu em 1994, quando o produtor musical Ezequiel Neves, conhecido por seu trabalho com o Barão Vermelho e por sua parceria com a artista Cássia Eller, decidiu reviver a canção. Naquele momento, Cássia Eller estava lutando para solidificar sua carreira, após dois álbuns que não haviam alcançado o sucesso esperado. O disco que ela estava prestes a lançar era crucial para sua carreira, e a gravadora estava ansiosa para encontrar um material que pudesse realmente ressoar com o público.

Neves, em busca de uma canção que pudesse se destacar, entrou em contato com Frejat, que imediatamente pensou em “Malandragem”. No entanto, havia um desafio: a música ainda pertencia a Angela Ro Ro. Ezequiel Neves teve que convencer Angela a liberar a música para Cássia Eller, e, surpreendentemente, Angela, após um primeiro momento de rejeição, deu sua autorização. Ela declarou que não via mais sentido em manter a música para si e estava disposta a deixá-la brilhar nas mãos de Cássia.

O Renascimento da Canção

Cássia Eller, com sua voz poderosa e única, tomou a canção e a transformou em um sucesso absoluto. A música, que originalmente parecia destinada ao esquecimento, foi agora recebida com entusiasmo tanto pela crítica quanto pelo público. O arranjo de “Malandragem” foi feito com sensibilidade por Márcio Miranda, e a canção se tornou um dos maiores sucessos do álbum de 1994 de Cássia.

O sucesso de “Malandragem” foi um marco na carreira de Cássia Eller. A música não só fez com que o álbum se destacasse, mas também ajudou Cássia a alcançar novos patamares de reconhecimento e sucesso. “Malandragem” foi um dos grandes responsáveis por ela ganhar seu primeiro disco de ouro, uma conquista significativa que a consolidou como uma das maiores vozes do rock brasileiro.

A Conexão Pessoal e o Legado Duradouro

O impacto de “Malandragem” não se limitou ao lançamento inicial. A música continuou a ser um sucesso em diferentes formatos e reinterpretações. Em 1996, Cássia lançou um álbum ao vivo, e “Malandragem” continuou a ser uma peça central de seu repertório. Em 2001, durante o famoso “Acústico MTV”, a música ganhou uma nova versão, mais rápida e enérgica, que cativou ainda mais o público.

Angela Ro Ro, com o tempo, começou a reavaliar a canção. Ao atingir a maturidade, ela passou a reconhecer que a letra de “Malandragem” refletia uma parte importante de sua própria jornada. Em uma surpreendente reviravolta, Angela passou a cantar a música em seus shows, e a canção se tornou um dos destaques de sua performance. Ela também teve a oportunidade de se unir a Cássia Eller em uma apresentação memorável em 2001, pouco antes do falecimento prematuro de Cássia. Essa performance conjunta foi um momento inesquecível para os fãs e marcou uma celebração da amizade e da música que transcendia o tempo.

Conclusão: O Ciclo Completo de “Malandragem”

“Malandragem” é mais do que uma música; é uma história de amizade, rejeição, redescoberta e legado musical. Desde sua criação por Cazuza e Frejat até sua transformação nas mãos de Cássia Eller, a canção percorreu um caminho inesperado. A ironia do destino fez com que uma música que quase caiu no esquecimento se tornasse um clássico, provando que, no mundo da música, mesmo as obras mais esquecidas podem encontrar uma nova vida e ressoar de maneira profunda e duradoura.

A história de “Malandragem” ilustra a beleza do processo criativo e a capacidade da música de se reinventar e tocar vidas de maneiras inesperadas. Através da conexão entre Cazuza, Frejat, Angela Ro Ro e Cássia Eller, vemos como a música pode transcender as limitações e se tornar um testemunho eterno das emoções humanas e da arte.

Se você é fã de música ou apenas curioso sobre a trajetória de canções icônicas, a história de “Malandragem” é um lembrete poderoso de como a arte pode se transformar e impactar gerações. Até a próxima, e que a música continue a nos inspirar e a nos unir de maneiras que nunca imaginamos.

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