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A História de “Carimbador Maluco” de Raul Seixas: Seis Curiosidades

“Carimbador Maluco” é uma canção que excita teses anarquistas, embala crianças e representa uma espécie de volta por cima de Raul Seixas. Para compreender a história dessa música, é essencial entender o contexto da vida de Raul nos anos que antecederam o lançamento deste disco.

Uma Fase Difícil

Nos anos anteriores ao lançamento do álbum em 1983, Raul Seixas não vivia uma boa fase. Entre 1981 e 1983, ele ficou sem gravadora, enfrentando problemas financeiros e faltando a shows e reuniões. Esse comportamento acabou deixando Raul muito desacreditado na indústria fonográfica, além de afastá-lo da mídia, rádios e emissoras de TV. No entanto, duas coisas mudaram esse cenário.

Curiosidade 1: O Resgate da Eldorado

Em meio a essa turbulência, a gravadora Eldorado, em São Paulo, pensou na ideia de gravar um disco com Raul. Na época, Raul e Kika Seixas estavam morando no Rio de Janeiro, mas a situação financeira do casal estava tão ruim que não tinham dinheiro para viajar até São Paulo. Kika contou a Carlos Minuano no livro Raul Seixas: Por Trás das Canções que eles estavam “duros” e não tinham grana para nada, andando de ônibus pela cidade. As passagens foram enviadas pela Eldorado, e assim Raul conseguiu assinar com a gravadora em janeiro de 1983, resultando no disco homônimo que muitos conhecem como Carimbador Maluco.

Curiosidade 2: A Volta à Televisão

Paralelamente, Kika tentava trazer Raul de volta à televisão. Ela contou no documentário Raul Seixas: O Início, o Fim e o Meio que ouviu muitos “não” de empresários que estavam “vacinados contra Raul Seixas”. A situação era crítica, mas Kika persistiu. Ela ligou para a Globo e conseguiu falar com Augusto César Vannucci, diretor e produtor de especiais da emissora. Vannucci, sensibilizado pela situação, sugeriu que Raul escrevesse uma música para um especial infantil que a Globo estava preparando, mesmo sabendo que isso poderia alienar o público usual de Raul.

Curiosidade 3: O Especial Infantil PLunct PLact Zoom

O especial infantil, Plunct PLact Zoom, apresentava seis crianças que, proibidas de fazer o que gostavam, conseguiam uma nave espacial e decidiram deixar o planeta Terra. No meio do caminho, encontram um burocrata, interpretado por Raul Seixas, que exigia os documentos da nave. No final, Raul liberava as crianças, desejando-lhes boa viagem. Este especial contou com a participação de artistas renomados como Jô Soares, Maria Bethânia e Fafá de Belém, e foi ao ar em 3 de junho de 1983, às 21h30. A participação de Raul, com a música Carimbador Maluco, foi um dos pontos altos do programa.

Curiosidade 4: A Criação da Música

Raul compôs Carimbador Maluco em uma madrugada. Kika, sua esposa, contou a Carlos Minuano que Raul costumava ficar acordado até tarde escrevendo músicas. Na manhã seguinte à composição, Raul estava entusiasmado e apresentou a canção para Kika. Pouco depois, o casal foi até a Globo para mostrar a música ao diretor Guto Graça Melo. Inicialmente, a música foi considerada curta, mas Raul sugeriu uma repetição para aumentar a duração. A música foi incluída no disco após a Eldorado conseguir autorização da Globo, e o álbum vendeu mais de 100 mil cópias, garantindo a Raul um disco de ouro.

Curiosidade 5: Reações ao Carimbador Maluco

A música foi mal recebida por uma parte do público de Raul, que não entendeu sua participação em um especial infantil. JB Medeiros, em Raul Seixas: Não Diga que a Canção Está Perdida, relatou que o inesperado sucesso da música era acompanhado por um videoclipe que mostrava Raul como um agente de alfândega dos voos da imaginação. Muitos fãs mais antigos viam isso como uma venda ao sistema, uma traição à sua imagem de maluco beleza e questionador. Contudo, essa nova faceta de Raul também conquistou um público mais jovem, e a música se tornou um grande sucesso.

Curiosidade 6: A Mensagem Subliminar

Poucos entenderam a mensagem subliminar na letra de “Carimbador Maluco”. Raul estava falando de anarquismo e citando Pierre-Joseph Proudhon, um dos grandes teóricos da corrente. Proudhon escreveu em 1851 A Ideia Geral da Revolução no Século XIX, onde descreve uma sociedade sem fronteiras e sem um poder central. Na música, Raul critica a burocracia e o controle estatal, refletindo as ideias de Proudhon. JB Medeiros conclui que Raul usou a canção para criticar a xenofobia e a dificuldade de se transitar livremente entre nações, mesmo que essa mensagem não fosse compreendida pelas crianças.

A história de “Carimbador Maluco” é uma jornada de resiliência e reinvenção para Raul Seixas. De uma fase difícil e desacreditada, ele encontrou uma nova maneira de se conectar com o público, mesmo que isso significasse desafiar as expectativas de seus fãs. Se você gosta do trabalho de Raul Seixas, considere fazer uma contribuição para apoiar a produção de mais histórias e a compra de mais livros para ampliar a bibliografia. 


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