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A História de ‘Proibida Para Mim’: Amor e Rock dos Anos 90

A história por trás de “Proibida para Mim”, um dos maiores sucessos do rock nacional dos anos 90, é tão intrigante quanto a própria música. Esta canção é baseada no verdadeiro romance entre Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., e Graziela Gonçalves. O que muitos talvez não saibam é que a música surgiu de um encontro casual e, em parte, da reação inusitada de Graziela ao visual de Chorão. Segundo relatos, ela achou seu cabelo engraçado e a partir daí, nasceu um dos grandes clássicos do rock brasileiro.

“Proibida para Mim” faz parte do álbum de estreia do Charlie Brown Jr., *Transpiração Continua Prolongada*, lançado em 1997. Este álbum marcou uma virada na carreira da banda paulista, que naquela época era composta por Chorão (vocal), Renato Pelado (bateria), Marcão Brito e Thiago Castanho (guitarras), e Champignon (baixo). A formação da banda na época refletia uma combinação explosiva de talentos, que ajudou a solidificar o Charlie Brown Jr. como uma das maiores bandas do Brasil.

Chorão, cujo nome verdadeiro é Alexandre Magno Abrão, nasceu em São Paulo em 1970. No entanto, sua trajetória musical e pessoal teve um marco significativo quando, aos 20 anos, mudou-se para Santos, no litoral paulista. Foi em Santos, em 1994, que Chorão conheceu Graziela Gonçalves. Antes de conhecer Graziela, Chorão já era uma figura bem conhecida na cidade, famoso por seu estilo provocador e sua personalidade expansiva. Santos, embora pequena em comparação com grandes centros urbanos, era o cenário perfeito para a notoriedade de Chorão, que rapidamente se tornou um personagem emblemático, com seu estilo irreverente e aparência marcante.

Graziela descreve Chorão como um homem que se destacava entre os demais. “Imagine um cara bonito, com cabelo comprido, corpo atlético, andando pelas ruas sem camisa e com um skate a tiracolo, sempre pronto para mostrar suas manobras”, ela relembra. Esse tipo de atitude chamava a atenção de todos e gerava tanto admiração quanto inveja. O currículo de Chorão na época incluía um casamento fracassado e um filho pequeno, o que só aumentava seu status de “bad boy” na cidade.

Graziela inicialmente não queria se envolver com Chorão, em parte devido à sua fama de mulherengo e também porque ela temia que ele não estivesse interessado em mulheres comuns, mas sim em patricinhas. Essa ideia não era totalmente infundada, já que Chorão frequentemente mencionava em suas músicas o desdém por superficialidades e estereótipos.

O encontro decisivo entre Graziela e Chorão ocorreu quando ela estava caminhando com sua mãe entre os canais quatro e cinco em Santos. A cidade é conhecida por seus canais que cortam a ilha de São Vicente, e esses locais serviam como pontos de referência para os habitantes e até para as gangues locais. Durante um desses passeios, Graziela encontrou Chorão e, como ela mesma descreve, foi como um momento de cartoon. “Eu o vi encostado em um balcão, com cabelo desalinhado e uma mecha vermelha que brilhava sob a luz”, lembra Graziela. Sem pensar muito, ela se aproximou e fez um comentário sobre o cabelo de Chorão, que a partir desse momento, começou a despertar seu interesse.

Essa primeira interação levou a conversas longas sobre música e cinema, e Graziela acabou ficando com Chorão até de madrugada. Apesar de estar em um relacionamento que estava “fazendo hora extra”, Graziela não deu seu telefone a Chorão. No entanto, o destino interveio: no dia seguinte, ela terminou seu namoro, e Chorão conseguiu seu telefone. Ele a convidou para um ensaio do Charlie Brown Jr., onde o clima entre os dois começou a esquentar.

Na época, o Charlie Brown Jr. estava em um período de transição musical. Eles estavam se afastando do som mais pesado e explorando novas influências, como o ska e o reggae. Graziela teve um papel crucial nessa mudança, apresentando Chorão a discos como o de Planet Hemp. Este encontro ajudou Chorão a perceber que a banda precisava se expressar de maneira mais autêntica, e não apenas imitar o que era feito no exterior. Essa epifania resultou na decisão de começar a compor em português, o que levou a um período produtivo para a banda.

A composição de “Proibida para Mim” é um exemplo claro dessa nova abordagem. Chorão escreveu a letra em uma caixa de pizza, refletindo a inspiração espontânea que ele tinha em seu cotidiano. A música tornou-se um sucesso estrondoso, sendo uma das mais tocadas nas rádios e em shows. O clipe da música, que contou com a participação de Alessandra Scatena, foi premiado no VMB 98 como Melhor Clipe de Artista Revelação.

“Proibida para Mim” também gerou algumas reações controversas. Zeca Baleiro, um artista conhecido por seu trabalho eclético, fez uma versão da música para seu disco *Líricas* em 2000. Sua interpretação acústica foi criticada por alguns fãs do rock, mas também provocou um momento emblemático no Festival Planeta Atlântida, quando Chorão convidou Zeca ao palco para cantar a música juntos, promovendo uma mensagem de aceitação e colaboração entre os artistas.

Em 2003, Chorão e Graziela casaram-se, e por sugestão da mãe dela, Zeca Baleiro foi convidado para tocar “Proibida para Mim” durante a cerimônia. O casamento foi um reflexo da relação profunda e duradoura que tiveram. Graziela também desempenhou um papel importante no aprendizado de Chorão de inglês, o que influenciou suas letras, incluindo a expressão “no way” na música, que intensifica a ideia de que a pessoa é “proibida” para ele.

“Proibida para Mim” é mais do que uma música; é uma crônica de um romance e de uma transformação musical. A história por trás da canção revela como experiências pessoais podem se transformar em arte, e como o amor e a criatividade se entrelaçam para criar algo verdadeiramente marcante. A música não apenas consolidou a posição do Charlie Brown Jr. no cenário musical brasileiro, mas também tornou-se um hino de uma época e de uma história pessoal que cativou muitos fãs.

Se você está interessado em explorar mais sobre a trajetória de Chorão e a influência de Graziela na música dele, recomendo a leitura do livro *Se Não Eu, Quem Vai Fazer Você Feliz*, que detalha essa história e oferece uma visão íntima do relacionamento deles.

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