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A Influência Destrutiva da Cocaína nos Bastidores do RPM: Um Mergulho Profundo

A história do RPM, uma das bandas mais emblemáticas do rock nacional dos anos 80, é marcada por uma ascensão meteórica e uma queda igualmente dramática. No centro dessa turbulência, a presença da cocaína desempenhou um papel crucial, afetando não apenas a dinâmica da banda, mas também sua trajetória musical e profissional. Este artigo explora como o uso desenfreado de drogas, especialmente a cocaína, influenciou o RPM e contribuiu para seu colapso.

O Início da Decadência: Os Bastidores do RPM

Paulo Ricardo, vocalista e baixista do RPM, revelou em diversas entrevistas e biografias a extensão do uso de cocaína nos bastidores da banda. Segundo Ricardo, a situação era tão grave que os membros da banda usavam a droga com uma frequência alarmante. Ele relata que cronometrava o intervalo entre uma “cheirada” e outra, constatando um tempo médio de três minutos e meio. Isso dá uma ideia do ritmo frenético e do vício que tomava conta dos bastidores do RPM.

Em um episódio emblemático, Ricardo conta que a banda costumava distribuir pacotes de cocaína para garçons e motoristas, evidenciando o grau de normalização da droga em seu cotidiano. Essa prática não só exemplifica a integração da cocaína na rotina da banda, mas também ilustra a cultura de excessos que permeava o ambiente.

O Impacto da Fama e do Sucesso

O sucesso repentino do RPM, que incluiu a vitória do Disco de Ouro em 1984 e o lançamento do álbum “Revoluções por Minuto”, contribuiu para a escalada do consumo de drogas. Em maio de 1985, com o sucesso avassalador de músicas como “Loiras Geladas” e “Olhar 43”, a banda experimentou uma exposição sem precedentes. A crítica estava aclamando o RPM, e a popularidade da banda estava em seu auge.

No entanto, o sucesso também trouxe uma série de novos desafios. Com um aumento significativo na receita e no número de shows, a banda teve acesso a uma gama de novas oportunidades e, infelizmente, a uma maior disponibilidade de drogas. O empresário Manuel Poladian fez um grande investimento na estrutura da banda, trazendo Ney Matogrosso para produzir shows e introduzindo sofisticadas produções de luz e cenários. Esse glamour, aliado ao ritmo frenético de shows e à pressão para manter o sucesso, só intensificou o problema.

A Queda: Decisões Erradas e Impactos Negativos

O ano de 1986 foi um ponto de inflexão para o RPM. A banda enfrentou um ritmo insano de shows, com apresentações lotadas e uma agenda que exigia esforços extremos. Mesmo com o cachê de 150 mil dólares, a situação começou a se deteriorar. Em um episódio notório, Paulo Ricardo foi preso em outubro de 1986 por porte de maconha. A prisão foi um evento altamente publicizado, agravado pela fama da banda e pelo cenário de excessos que os cercava.

O impacto da prisão foi duplo: além de ser um constrangimento público, também prejudicou a imagem da banda. A revista Veja havia planejado uma capa com o RPM, que foi cancelada devido ao incidente. Esse evento destacou a crescente instabilidade da banda, que já estava lidando com problemas internos e externos.

Os Efeitos Nocivos da Cocaína: Desintegração e Fatores Contribuintes

A cocaína, como relatado pelos membros da banda e em biografias como “Revoluções por Minuto” e “Dias de Luta, Rock e Brasil dos Anos 80”, desempenhou um papel crucial na deterioração das relações internas do RPM. A droga não apenas afetou a saúde física e mental dos integrantes, mas também contribuiu para decisões erradas e desentendimentos dentro da banda.

O consumo excessivo de cocaína e álcool fez com que as performances ao vivo se tornassem irregulares. Relatos indicam que, em alguns momentos, a banda se apresentava em estado de embriaguez, o que afetava negativamente a qualidade dos shows. Luis Esquiavon, tecladista, mencionou que a banda passou por uma fase em que as apresentações eram comprometidas pelo uso de substâncias, levando a um período de shows mal executados e problemas de reputação.

O Declínio e a Separação

Em outubro de 1986, o RPM decidiu romper com seu empresário Manuel Poladian, uma decisão que teve sérias consequências. A separação da banda de seu empresário não apenas complicou a administração dos compromissos, mas também agravou o desgaste interno. A banda, já em declínio, enfrentou ciúmes, egos inflacionados e desentendimentos sobre a direção musical. A falta de prestígio e antipatia do meio musical também contribuíram para o colapso final.

O período em Búzios, onde a banda foi isolada em uma casa na tentativa de se recuperar, não trouxe os resultados esperados. Embora o produtor Luiz Carlos Maluli tenha relatado que o consumo de drogas não atrapalhou o processo criativo, a realidade é que a banda continuou a enfrentar problemas relacionados ao uso de substâncias.

A Última Tentativa e a Separação Final

No início de 1988, o RPM gravou o álbum “4 Coyotes”, mas a produção foi marcada por mais excessos. Paulo Ricardo e o baterista Paulo Pagni tiveram um incidente notável em Los Angeles, onde Pagni foi diagnosticado com pancreatite devido ao abuso de álcool e drogas. Esse episódio foi um alerta para a banda, mas não foi suficiente para evitar o colapso iminente.

O RPM, mesmo com o sucesso comercial do disco, enfrentou uma série de decisões equivocadas, incluindo a recusa em colocar uma música em uma novela da Globo. Essa decisão foi vista como um dos maiores erros da carreira da banda e contribuiu para o descontentamento geral com o grupo.

A história do RPM é um exemplo claro de como o consumo excessivo de drogas pode afetar negativamente uma banda, tanto em termos de saúde quanto de sucesso profissional. A cocaína, em particular, desempenhou um papel destrutivo na trajetória da banda, exacerbando problemas internos e contribuindo para a separação. O RPM, que começou como uma das maiores bandas do Brasil, acabou se desfazendo devido a uma combinação de fatores, com as drogas como um catalisador significativo.

Os desafios enfrentados pelo RPM são um lembrete sombrio dos riscos associados ao uso de substâncias e do impacto que podem ter sobre a carreira e a vida pessoal dos músicos. A história do RPM é um testemunho de como o sucesso pode rapidamente se transformar em uma espiral de autodestruição, e serve como uma reflexão sobre os perigos do vício e da pressão constante do estrelato.

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