Houve uma época em que ser convidado para uma festa organizada por Sean “Diddy” Combs era o ápice do glamour no mundo do entretenimento. A lista de convidados era uma constelação de estrelas, incluindo nomes como Justin Bieber, Mariah Carey, Paris Hilton, e Jennifer Lopez. As festas não eram apenas encontros de celebridades; elas simbolizavam o centro da cultura pop, onde até Jay-Z e Beyoncé estrearam novas músicas em eventos privados. Era um ambiente de excessos, luxo e, como muitos diriam, poder absoluto.
“Quando Diddy piscava para você e dizia: ‘Venha para a área VIP’, você sabia que estava prestes a viver uma noite inesquecível”, afirmou Rob Shuter, ex-assessor de Diddy, em uma entrevista exclusiva à BBC News. No entanto, os dias de festas grandiosas chegaram a um fim abrupto e escandaloso. Hoje, o rapper e magnata da música se encontra em uma cela de prisão no Brooklyn, a poucos quilômetros dos Hamptons, onde ele outrora organizava suas lendárias festas para a elite.
A queda de Combs foi rápida e chocante. Um processo criminal federal o acusa de tráfico sexual e associação criminosa, além de mais de uma dúzia de processos civis que alegam abuso sexual, agressão, estupro e extorsão. Mais de 100 vítimas afirmam terem sido abusadas, com detalhes aterrorizantes sobre o que acontecia nos bastidores dessas festas luxuosas. E enquanto ele continua negando todas as acusações, o legado de Diddy, outrora associado ao sucesso e à fama, agora é manchado pelo escândalo e pela alegada violência.
O auge: um rei das festas e da cultura pop
Nos anos 2000, Diddy estava no auge de sua carreira. Ele já havia fundado a Bad Boy Records em 1993, que rapidamente se tornou uma das gravadoras mais influentes do hip hop, representando nomes gigantes como Notorious B.I.G. e Usher. Em 1998, lançou a marca de roupas Sean John, que virou um ícone da moda. Com isso, Diddy mergulhou em novos empreendimentos, de fragrâncias a bebidas alcoólicas, além de apresentar reality shows que prometiam descobrir novos talentos.
Foi nesse contexto que ele percebeu o poder das festas para consolidar sua imagem pública. De acordo com Shuter, o objetivo de Diddy era claro: transformar-se no “rei das festas de Nova York”, usando esses eventos para perpetuar sua relevância no mundo do entretenimento. E funcionou — por um tempo. Diddy adorava estar no centro das atenções. Ele não apenas adorava ser fotografado, mas também queria que as pessoas vissem seu estilo de vida opulento. Como disse Shuter, o hobby de Diddy era “ser Diddy”.
Mas com o tempo, os excessos começaram a cobrar seu preço. Para manter sua imagem, Diddy precisava de um círculo fechado de leais e seguranças sempre armados. “Sempre havia armas ao redor de Diddy”, relembra Shutter. Sua casa era uma fortaleza, com detectores de metal como em aeroportos, e seus seguranças eram uma presença constante, armados e prontos. Esse ambiente de poder e controle só contribui para aumentar sua mística e, ao mesmo tempo, distanciá-lo da realidade.
O lado sombrio das festas
Entre as festas mais emblemáticas de Diddy estavam as famosas “White Parties”, ou Festas do Branco. Realizadas entre 1998 e 2009, essas festas ocorreram principalmente nos Hamptons e em Los Angeles, atraindo uma elite diversa, desde a alta sociedade de East Hampton até estrelas em ascensão do hip hop. Com um rigoroso dress code — todos deviam usar branco —, as festas eram vistas como uma forma de Diddy quebrar barreiras raciais e culturais, promovendo uma fusão entre diferentes mundos.
Entretanto, à medida que surgiam mais detalhes sobre o comportamento de Diddy nos bastidores, essas festas ganharam uma nova luz. O que antes parecia ser uma celebração de opulência, poder e glamour, agora é descrito em processos judiciais como uma “fachada” para condutas sombrias e abusivas. Um processo recente descreve como um jovem de 16 anos foi assediado por Diddy durante uma dessas festas. Ele foi convidado para uma área privada, onde o rapper teria feito avanços inapropriados, alegando que era um “rito de passagem” para se tornar uma estrela.
E não foi o único caso. A ex-atriz de filmes adultos, Adria English, também abriu um processo acusando Diddy de tráfico sexual, alegando que suas festas eram alimentadas por drogas e álcool, e que ele usava esses eventos para coagir as pessoas a realizar atos sexuais contra sua vontade. Outro processo, aberto anonimamente, afirma que Diddy teria estuprado um homem que trabalhava como segurança em uma das Festas do Branco.
O glamour dessas festas, portanto, escondia uma realidade brutal, segundo os processos. As pessoas que cederam à pressão de Diddy em muitos casos acreditavam que estavam em busca de uma oportunidade de ascender no mundo da música e do entretenimento, mas o preço que pagaram foi a exploração.
O lado obscuro das “Freak Offs”
Se as festas nas mansões de Diddy já eram polêmicas, as chamadas “Freak Offs” levavam essa controvérsia a outro nível. Esses eventos, realizados em quartos de hotel ao longo de vários dias, envolviam múltiplas pessoas, drogas e violência. Segundo a acusação federal, Diddy coagia os participantes com ameaças e substâncias ilegais, gravando atos sexuais com iluminação profissional e até mesmo fornecendo fluidos intravenosos para que as pessoas se recuperassem dos excessos. As “Freak Offs” são descritas como sessões brutais, em que Diddy supostamente agrediu as vítimas física e psicologicamente.
A reação de Diddy e o impacto na cultura pop
Diante de todas essas acusações, Diddy e sua equipe jurídica continuam a negar tudo. Para seus advogados, essas acusações não passam de “tentativas claras de angariar publicidade”. Contudo, o impacto dessas revelações é inegável. O que antes era um império construído sobre a imagem de sucesso e inovação agora se desmorona em meio a acusações graves e processos em massa.
Diddy, que já se via como um “rei” no universo das celebridades, pode ter subestimado a gravidade de suas ações e a resiliência de suas vítimas. O caso de Cassie, por exemplo, que namorou com o rapper por quase uma década, trouxe à tona o quanto ele exercia controle sobre a vida de seus parceiros e funcionários. A influência de Diddy no setor de entretenimento era tão grande que muitos acreditavam que não poderiam desafiar seu poder sem sofrer consequências. Agora, com mais de 100 processos abertos e uma investigação federal em andamento, o futuro de Diddy parece sombrio.
O legado que ele construiu — de sucesso empresarial, criatividade e inovação no hip hop — está agora em risco de ser completamente desfeito pelas acusações de abuso e exploração. A cultura pop, que tanto celebrou Diddy, deve agora enfrentar as consequências de sua ascensão e queda.