É hora de falar sobre tecnologia na música, mais especificamente sobre inteligência artificial (IA), e como isso se cruza com uma das figuras mais controversas e polarizadoras da indústria musical: Kanye West. Admito que não estou particularmente empolgado para discutir o tema, especialmente considerando que há um álbum “a caminho” que, sejamos sinceros, pode nunca sair. Kanye tem um histórico robusto de projetos inacabados, quase como uma espécie de “Boulevard of Broken Álbum Dreams”.
Dito isso, se o álbum Bully realmente for lançado, parece quase certo que ele incluirá algum nível de tecnologia de IA em seu processo criativo. Pelo menos, é isso que o próprio Kanye vem sugerindo. Recentemente, no podcast The Download, apresentado por Justin LaBoy (sim, ele mesmo, o cara que alimentou várias promessas de lançamentos que nunca se concretizaram), Kanye falou abertamente sobre seu entusiasmo pela IA. Ele não apenas demonstrou apreço pela tecnologia, mas também se posicionou como defensor do uso dela no futuro da música.
A Confusão em Torno da IA na Música
Antes de continuarmos, é importante destacar a polêmica que envolve o uso da IA na música. A confusão em torno desse tema não é pequena. No meu canal, já critiquei severamente o uso irresponsável de IA generativa, especialmente quando falamos de modelos que plagiaram descaradamente obras protegidas por direitos autorais. Muitos desses modelos são treinados com material de outros artistas, sem permissão, o que configura um novo tipo de plágio tecnológico.
Ainda assim, nem todo uso de IA é necessariamente negativo. Recentemente, a tecnologia foi utilizada para isolar os vocais de John Lennon e reconstruir a instrumentação ao redor deles, criando uma nova faixa dos Beatles que até ganhou um Grammy. Esse tipo de aplicação mais técnica não gera tanta resistência quanto outros exemplos mais duvidosos.
O Caso Kanye e a Falta de Transparência
Por outro lado, quando um artista como Kanye West declara abertamente que está usando E, isso levanta muitas questões: em que medida? Ele está usando IA para modificar vocais, criar melodias do zero ou até mesmo compor letras inteiras? Essa falta de transparência gera um enorme ceticismo entre os fãs. Não podemos esquecer que o álbum Vultures 2 foi cercado de rumores sobre o uso de IA para criar partes inteiras das músicas. Esse histórico alimenta as dúvidas e críticas.
Para piorar, casos semelhantes estão surgindo com outros artistas. Um exemplo recente é a faixa Timeless do último álbum de The Weeknd, em que alguns fãs acreditam que a participação de Playboy Carti foi inteiramente gerada por IA. Esse tipo de acusação não nasce do nada — ela reflete a crescente desconfiança sobre a aplicação dessa tecnologia na música moderna.
IA: O Novo Autotune?
Durante sua conversa no podcast, Kanye comparou o uso de IA ao autotune, alegando que, assim como o autotune foi inicialmente rejeitado, a IA também acabará sendo aceita. “Autotune é IA”, ele disse, sugerindo que ambas as tecnologias pertencem à mesma família. E, até certo ponto, ele tem razão. O autotune, apesar das críticas iniciais, se consolidou como uma ferramenta legítima para inovação artística. No entanto, a diferença crucial é que o autotune sempre foi transparente. Todos sabíamos quando ele estava sendo usado.
A IA, por outro lado, ainda é uma tecnologia envolta em mistério. Quando um artista diz “usei IA”, o que isso realmente significa? É aqui que reside a maior parte da controvérsia. Faltam regulamentações claras, normas éticas e — acima de tudo — transparência.
A Necessidade de Regulamentação
O que precisamos agora é de uma regulamentação eficaz. Artistas devem ser claros sobre como estão usando IA e dar o devido crédito a qualquer criador cujo trabalho seja incorporado. Isso inclui compensação financeira justa, algo que ainda não está acontecendo em muitos casos.
A verdade é que a IA veio para ficar. Não adianta gritar contra ela e esperar que desapareça. O que podemos fazer é lutar por regulamentações que protejam os artistas e garantam que a tecnologia seja usada de forma ética e responsável.
Os fãs não querem música preguiçosa, onde a IA substitui a criatividade humana. Eles buscam autenticidade e inovação genuína. Quando músicos optam por usar IA, precisam ser honestos e transparentes sobre seu processo criativo.
Kanye e o Futuro da Música
Olhando para Kanye, a grande questão é se ele usará a IA para impulsionar a inovação ou para entregar um projeto preguiçoso que prejudique ainda mais seu legado artístico. Afinal, considerando suas ações recentes e sua conexão próxima com Elon Musk — que, diga-se de passagem, também tem investimentos significativos em IA —, não é difícil imaginar que Kanye possa ter interesses pessoais na promoção dessa tecnologia.
Mas será que essa relação simbiótica entre Kanye e a IA levará a algo revolucionário, ou veremos mais um capítulo de promessas não cumpridas e expectativas frustradas?
A única certeza, por enquanto, é que o uso de IA na música está apenas começando, e as discussões em torno dessa tecnologia estão longe de acabar. Como críticos e ouvintes, precisamos estar atentos e exigir mais transparência, não apenas de Kanye, mas de toda a indústria musical.