O Início no Leblon
Carioca do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, por volta de 1973, um grupinho de amigos do prédio, com idades entre 12 e 13 anos, começou a ser influenciado pelo rock clássico dos anos 50, Twist, Jovem Guarda e os Beat Boys. Os meninos sonhavam em fazer música e começaram a escrever algumas paródias só de brincadeira. Duas coisas uniam aquela turma: primeiro, o bom humor e a vontade de fazer piadinhas de duplo sentido; segundo, eles não tinham sucesso com as garotas, o que os incentivava a se divertir e tentar ganhar a atenção feminina.
Formação da Banda
Os Miquinhos Amestrados foram um dos primeiros grupos de rock engraçadinho daquela geração dos trocadilhos sexuais, algo como os Mamonas Assassinas do começo dos anos 80 ou os Titãs do Rio de Janeiro. A banda era como uma família, mas quando dois casamentos se desfizeram, o sonho também derreteu. Mas que fim levou João Penca e Seus Miquinhos Amestrados? É o que eu conto agora.
Primeiros Passos
Na formação inicial, os Miquinhos, como a banda era carinhosamente chamada, contavam com os vocalistas Bob Galo Selvagem, Big Abreu e Avelar Love, os guitarristas Leandro Verdial e Guilherme, o baterista Mi Erótico, o pianista nebuloso Cláudio “The Killer” e o baixista Dell Rosa. Eles eram os meninos do edifício Jacumã, no Leblon. Talvez nem todos morassem nesse prédio, mas foi ali que o núcleo central se formou.
Ensaio e Escolha do Nome
Os primeiros ensaios aconteciam nas casas e garagens dos integrantes. Todos foram aprendendo a tocar algum instrumento, até que finalmente pensaram em um nome para a banda. Surgiram nomes absurdos como Zoo ou Anos 60, até que alguém sugeriu João Penca e Seus Miquinhos Amestrados. A ideia pegou, e o nome ficou.
Paródias e Referências
Os nomes artísticos adotados pelos integrantes tinham suas referências: Sérgio Ricardo Abreu virou Selvagem Big Abreu, inspirado no personagem Bill Kelso do filme “1941” de Steven Spielberg, e Júnior virou Avelar Love, em referência a Michael dos Beat Boys. A banda era pura diversão e, inicialmente, não tinham pretensão de seguir carreira profissional.
Encontro com Léo Jaime
Tudo começou a mudar quando conheceram Léo Guanabara, um goiano que mais tarde se tornaria Léo Jaime. Ele também se tornou vocalista, e a banda passou a ter quatro cantores e cinco instrumentistas, quase como os Titãs cariocas. A verdadeira mudança veio quando lançaram um disco com Eduardo Dusek, astro da MPB, no fim de 1982.
Parcerias e Primeiros Sucessos
Dusek assistiu a um show dos Miquinhos no Rio e adorou, sugerindo uma parceria. Como Ricardo Alexandre escreve em “Dias de Luta: O Rock e o Brasil dos Anos 80”, Dusek percebeu que os Miquinhos resumiam todo o frescor que procurava em sua carreira. Assim, surgiu a ideia de um espetáculo conjunto baseado na estética rock and roll.
Polêmicas e Desclassificação
Antes do lançamento do disco, Dusek e os Miquinhos participaram do Festival da TV Globo, MPB Shell, em 1982, onde decidiram tocar “Barrados no Baile” em vez da música classificada. Claro que foram desclassificados, mas a música chamou a atenção da gravadora Polydor. Juntos, lançaram um compacto com “Barrados no Baile” e “Cabelos Negros”.
Rejeição e Superação
A gravadora, no entanto, não aprovou a ideia de um LP conjunto, achando que os Miquinhos tocavam mal. Parte das gravações foi coberta por músicos de estúdio. Dusek tentou abrir portas para os Miquinhos, mas não conseguiu. O disco saiu no fim de 1982 com composições próprias e versões, entre elas “Rock da Cachorra”, escrita por Léo Jaime.
Reestruturação da Banda
Em outubro de 1982, Dusek sofreu um acidente de carro e encerrou a parceria. Em 1983, os Miquinhos passaram por uma mudança estética, adotando camisetas havaianas e um visual mais ligado ao surf. Fizeram sucesso com o público gay masculino, chegando a montar um show pensado para esse público.
Tragédia e Nova Oportunidade
A tragédia marcou a banda quando Cláudio “The Killer” foi encontrado morto em casa devido a um vazamento de gás. A banda interrompeu as atividades, mas o trio de vocalistas e o guitarrista Leandro assinaram com a RCA e retornaram em 1985. Com o sucesso de “Como o Macaco Gosta de Banana” e “Popstar”, lançaram mais um LP.
Grandes Sucessos
“Lágrimas de Crocodilo” se tornou um dos maiores sucessos da banda. Escrita por Carlos Barman, a música refletia bem o estilo humorístico e irreverente dos Miquinhos. O disco “Ok My Gay”, lançado em março de 1986, incorporou elementos de New Wave e contou com sucessos como “Romance em Alto Mar”.
Reconhecimento e Despedida
Os Miquinhos eram bem relacionados na mídia, com apoio de apresentadores como Hebe Camargo e Chacrinha. Mesmo assim, a banda nunca largou os estudos e conseguiu equilibrar a carreira musical com outras atividades profissionais. Em 1993, lançaram a coletânea “A Festa dos Micos” pelo selo independente Banana Records.
O Fim e o Retorno
A banda enfrentou desafios pessoais e profissionais que culminaram na interrupção das atividades. No entanto, em 2007, os integrantes se reencontraram e começaram a fazer apresentações esporádicas. Em 2021, tocaram no festival Rock Brasil 40 anos, com Léo Jaime no palco.
Legado
João Penca e Seus Miquinhos Amestrados deixaram um legado singular na história do rock brasileiro, com seu humor irreverente, trocadilhos e paródias que marcaram uma geração. Mesmo enfrentando adversidades, conseguiram deixar sua marca e são lembrados com carinho pelos fãs.