No artigo de hoje vamos falar sobre o grupo alemão, considerado um dos precursores da música eletrônica.
De como essa banda influenciou toda uma geração de músicos e sobre os seus exercícios de futurologia.
Os Primórdios da Música Eletrônica.
Embora se formos falar sobre o início da música eletrônica, teríamos de voltar ao final do século XIX.
As primeiras experiências com instrumentos eletrônicos ocorreram em meados do século XIX, que levaram ao desenvolvimento dos pianos eletromecânicos, que antecedem o teclado eletrônico.
Um dos mais famosos instrumentos eletrônicos pioneiros foi o eterofone, também conhecido como Theremin em homenagem ao seu criador, o russo Leon Theremin. O aparelho tem duas antenas e um oscilador, e os movimentos das mãos interrompem as vibrações elétricas, modulando o som.
Logo depois, Friedrich Trautwein criou o Trautonium, um precursor do sintetizador eletrônico, tocado aqui com um fio em vez de teclas.
Em 1914, o artista Dadaísta Luigi Russolo desenvolveu uma série de instrumentos chamados Noise Intoners.
Também foi importante nessa fase inicial o órgão eletromecânico Hammond, desenvolvido em 1935 como alternativa a um órgão de igreja.
No ano de 1948, já no período pós guerra, o francês Pierre Schaeffer, passou a unir instrumentos diferentes e gravações de toca-discos em uma única música, fazendo surgir posteriormente as mixagens sonoras.
Até chegarmos nos anos 1950, no maestro Karlheinz Stockhausen, Enquanto nos Estados Unidos compositores como John Cage e Steve Reich estavam explorando o gênero, na Europa Karlheinz Stockhausen, fazia suas experimentações sonoras no Estúdio de Música Eletrônica em Colônia.
Graças aos estudos de Stockhausen, Robert Monge começou a desenvolver seus teclados.
A Pós Guerra e o Cenário da Música Eletrônica.
Em se tratando de pós-guerra, na Europa Central se criou o clima ideal para o surgimento desse novo estilo de música, pois reinava o clima de medo e incertezas, quanto ao destino da humanidade.
Isso devido a reconstrução da Alemanha, destruída pelo conflito e o início da polarização entre Rússia e Estados Unidos, levando o mundo a guerra fria, tendo que viver sob a constante ameaça de extermínio em um conflito nuclear.
Soma-se a isso a libertação dos dogmas e conservadorismo dos regimes totalitários, abrindo espaço para o experimentalismo e a inovação.
Nesse clima de medo, pessimismo, incerteza, contestação, inovação é que se criou o cenário para que surgisse a música eletrônica alemã e seu principal expoente, o Kraftwerk.
A primeira grande iniciativa se deu em 1951, com a criação do primeiro estúdio totalmente dedicado a esse tipo de som, o WDR Electronic Music Studio.
Os alemães Werner Meyer-Eppler, Robert Beyer e Herbert Eimert foram os responsáveis por esse projeto, onde usavam objetos sonoros e instrumentos tradicionais para criarem os sons, eles desenvolviam suas técnicas através de osciladores elétricos.
Eis que surge o Kraftwerk.
Então nos anos 1970, o bastão da música eletrônica foi passado para Düsseldorf, onde a banda Kraftwerk, em seu estúdio Kling-Klang, desenvolveu o som que moldou decisivamente a música eletrônica até os dias de hoje.
A princípio temos a banca CAN, e na formação dessa banda temos dois integrantes, Ralf Hütter e Florian Schneider. Eles utilizavam instrumentos eletrônicos mesclados com instrumentos acústicos em suas apresentações.
Porém em 1970 a carreira desses dois iria tomar um guinada, unindo-se a Karl Bartos e Wolfgang Flúor, formariam o Kraftwerk.
Em 1970 e 1972, lançam os dois primeiros álbuns auto intitulados 1 e 2. Porém sem muito sucesso ou expressão. O reconhecimento só viria no ano de 1971, com Autobahn.
Um Exercício de Prever o Futuro.
Com certeza Autobahn, é um dos discos mais importantes da carreira do Kraftwerk, considerado por muitos como uma obra prima.
Esse trabalho reflete bem o clima de progresso e consumismo que passava a Europa nos anos 1970, simbolizado pelas autoestradas sem limites de velocidade.
Fato curioso sobre Autobahn, é que David Bowie, ouvindo Autobahn em seu carro, declara que aquela era a melhor banda do mundo, para melhor propaganda.
A Europa do pós guerra, criou um caminho aberto para a inovação e a contestação, bem como reinava o clima de medo e incertezas, em função da guerra fria e da ameaça nuclear.
Em 1975, lançou o álbum Radioactivity, sendo o primeiro álbum completamente sintetizado da banda.
O tema é desenrolado em camadas, fala dos perigos da expansão da energia nuclear pela Europa, considerada uma energia limpa e barata, mas que ofereceria grandes riscos.
Em determinado trecho é citado o acidente nuclear de Sellafield. Anos depois aconteceria o acidente de Chernobyl, mudando completamente a forma como o mundo encararia o uso da energia nuclear.
Em 1977, lança Trans Europe Express, se consolidando como um fenômeno completamente europeu no contexto do pós-guerra.
Externando um anseio de uma unificação da europa, novamente prevendo o futuro.
Eis que entramos nos anos 1980 e lançamos o disco Mundo Computadorizado, falando do avanço da tecnologia sobre o dia a dia das pessoas. Isso em um momento em que a computação pessoal estava apenas engatinhando.
O Legado e a Influência do Kraftwerk.
Não quero dizer aqui que o Kraftwerk seja um grupo de futurologia, mas que seu trabalho soube compreender a fundo as coisas de seu tempo e traduzir o momento em forma de arte.
Agora musicalmente falando, com certeza foi um marco na história da música, criando um estilo totalmente novo e revolucionário.
Há quem arrisque dizer que a musicalidade do Kraftwerk é mais influente que os Beatles.
Pois refletiu em artistas tão diversos como David Bowie, Joy Division, New Order, Depeche Mode e Blur, Erasure e uma infinidade de outros artistas.
O jornal The New York Times certa vez os descreveu como “os Beatles da música eletrônica dançante”.
“Pense na banda como um técnico de laboratório sintetizando o DNA que forneceu o código para o rap, o disco, o electro-funk, a new wave, a industrial e o techno”.
Influenciou músicos de todo o mundo, como o francês Jean-Michel Jarre, que trouxe o sintetizador para o mainstream com álbuns revolucionários como Oxygène.
Isso antes que artistas parisienses como Laurent Garnier, Air E Daft Punk, que popularizaram o “French house”.
Talvez a maior releitura do Kraftwerk, seja de Lance Taylor, conhecido pelo nome artístico de Afrika BamBaaTaa,
Claro que se formos falar sobre música eletrônica e Kraftwerk, isso seria motivo para um livro.
O presente artigo serve apenas para trazer um pouco de conhecimento sobre essa importante fase da cultura pop.