Essa é uma das histórias mais folclóricas do rock nacional, que poucas pessoas conhecem: a banda Vímana, da qual Lobão e Lulu Santos fizeram parte nos anos 70.
A Origem do Vímana
Essa história é fascinante porque ajuda a entender a transição do rock brasileiro dos anos 70 para os anos 80.
O Vímana era herdeiro dos anos 1970, um período em que as bandas, exceto algumas poucas, eram quase todas influenciadas pelos Mutantes, um grupo que surgiu no fim dos anos 60.
A principal exceção a essa regra foi Raul Seixas, que habilmente misturou música popular com rock clássico, criando um gênero único no rock nacional.
Estamos em 1974, quando a escola dominante do rock era o progressivo, um estilo derivado da psicodelia, caracterizado por músicas longas, focadas em instrumentais e com ritmos e escalas incomuns.
Quatro músicos que dariam origem ao Vímana tocavam em duas bandas de rock progressivo: Lulu Santos e o baixista Fernando Gama estavam no Veludo Elétrico, enquanto o tecladista Luiz Paulo Simas e o baterista Candinho tocavam no Módulo 1000.
Em seu livro “Rock Brasileiro dos Anos 80”, Arthur Dapieve descreve a ideia do quarteto: “enveredar numa trip esotérica e tecnológica, na onda dos Mutantes fase carioca.”
Em 1974, Rita Lee já havia deixado os Mutantes e seguia carreira solo. Ela foi uma das responsáveis pela vinda do vocalista do Vímana ao Brasil, Richard David Court, também conhecido como “Ritchie”. Ele conheceu os Mutantes, se apaixonou pelo rock nacional e decidiu ficar no Brasil.
A Formação do Vímana
Lulu Santos encontrou Ritchie em um festival e o convidou para ser o cantor do Vímana. A banda estava formada.
Mas como Lobão entrou na história? Um amigo de Lobão encontrou Lulu em uma loja de discos e mencionou que o baterista da banda havia saído. Lobão, inicialmente relutante, foi convencido pelo amigo a fazer uma audição. Ele impressionou a banda com sua performance frenética e foi convidado a se juntar ao grupo.
No entanto, havia um problema: Lobão tinha apenas 17 anos, e isso causava complicações logísticas. A solução encontrada foi que Nelson Motta, renomado jornalista e produtor musical, atuou como tutor de Lobão sempre que a banda saísse do Rio.
O Som do Vímana e Seus Desafios
O Vímana se destacava das outras bandas da cena rock por sua sofisticada aparelhagem de som e sistema de amplificação, algo raro na época.
Em “Dias de Luta: O Rock e o Brasil dos Anos 80”, Ricardo Alexandre descreve os shows da banda como “performances de três horas, com solos de guitarra de 20 minutos e de bateria de 15 minutos, e duelos de violões entre Lobão e Fernando Gama.”
Em 1976, a banda já tinha algum sucesso no circuito marginal do rock.
No entanto, eles enfrentavam dificuldades para sair do Rio de Janeiro devido ao tamanho do equipamento e à falta de interesse das gravadoras em seu estilo musical.
A banda conseguiu um contrato com a gravadora Som Livre e gravou uma fita demo, que se perdeu com o tempo. O que sobreviveu foi um compacto com a música “Zebra”, lançado em 1977. Nesse período, Lulu Santos começou a mostrar interesse em direcionar a banda para um som mais comercial, visando tocar nas rádios.
A Chegada de Patrick Moraz e o Fim do Vímana
Patrick Moraz, tecladista da banda inglesa Yes, entrou em cena e prometeu mundos e fundos à banda, levando-os a romper o contrato com a Som Livre.
Moraz planejava levar o Vímana para a Europa, onde acreditava que a banda poderia alcançar reconhecimento internacional. No entanto, a realidade foi diferente, e os longos ensaios e tensões internas começaram a desgastar o grupo.
As personalidades fortes e os egos inflados geraram conflitos.
Lobão relata em sua biografia que Moraz não gostava de Lulu Santos, que começou a se destacar com seu carisma e talento, causando ciúmes. Moraz acabou expulsando Lulu da banda, o que marcou o início do fim do Vímana.
Lobão, envolvido em um relacionamento com a esposa de Moraz e com outra mulher grávida dele, teve uma crise pessoal que culminou em uma tentativa de suicídio.
Em 1977, Moraz voltou da Europa com discos de bandas punk como Sex Pistols e Ramones, declarando o fim do rock progressivo e anunciando que o punk era a nova tendência.
O Legado do Vímana
O Vímana terminou, mas seus membros seguiram caminhos distintos. Ritchie se tornou um ídolo nacional com a canção “Menina Veneno”, Lulu Santos encontrou o segredo do sucesso nas rádios e Lobão se envolveu em diversos projetos musicais, tornando-se uma figura icônica do rock brasileiro.
A história do Vímana é um exemplo claro das mudanças no cenário musical dos anos 70 para os anos 80, mostrando como as influências externas e as dinâmicas internas podem moldar a trajetória de uma banda. Agora, você entende por que Lobão diz conhecer Lulu Santos “como a palma da mão”.
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