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Nem Só de Glórias Vive o Rock and Roll: A Trajetória dos Heróis da Resistência

O rock and roll, frequentemente associado a glórias e sucessos estrondosos, também possui suas histórias de desafios e incertezas. Neste artigo, exploraremos a trajetória de uma banda que, apesar de seu potencial e talento, teve uma carreira breve, mas impactante. Estou falando dos Heróis da Resistência, um grupo cuja história está interligada com o famoso Kid Abelha, e que, apesar de seu sucesso limitado, deixou uma marca significativa na cena musical brasileira dos anos 80 e 90.

A jornada dos Heróis da Resistência começa com um contexto intrigante: a saída de Leoni, um dos membros fundadores do Kid Abelha, devido a uma série de conflitos internos e mudanças pessoais. A história começa a se desenrolar na década de 80, quando o cenário musical brasileiro estava em plena efervescência. O Kid Abelha, uma das bandas mais proeminentes da época, estava vivendo um momento de grande sucesso. No entanto, uma série de desentendimentos e mudanças internas levaram à formação de uma nova banda liderada por Leoni.

O Surgimento do Kid Abelha e a Formação dos Heróis da Resistência

O Kid Abelha surgiu em 1981, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, quando Leoni conheceu Jorge Israel. O desejo de formar uma banda levou ao convite para Benny para ser o baterista e Paula para se juntar à formação, inicialmente flutuante. Leoni e Paula iniciaram um romance, e a banda começou a criar suas primeiras composições. Após o envio de uma fita para a Fluminense FM, uma das principais emissoras de rock da época, o Kid Abelha lançou seu primeiro disco, “Seu Espião”, que se tornou um sucesso nacional com o álbum “Pintura Íntima”.

Com mudanças na formação, incluindo a entrada de Bruno Fortunato como guitarrista, a banda continuou a crescer. No entanto, as relações pessoais começaram a criar tensões. Paula, que estava se relacionando com Herbert Vianna dos Paralamas do Sucesso, começou a colaborar com ele em algumas músicas, como “Fixação” e “Pintura Íntima”. O rompimento do relacionamento entre Leoni e Paula resultou em uma série de disputas dentro da banda, culminando em um incidente memorável.

O Incidente que Mudou Tudo

Em 23 de fevereiro de 1986, durante um show promovido pela Rádio Cidade no Rio, o cantor Léo Jaime, parceiro de Leoni, apresentou a música “Fórmula do Amor”. No entanto, Leoni não foi anunciado como coautor da música, o que gerou uma grande discussão. Paula, que estava presente com o pandeiro, acabou se envolvendo na briga, jogando o pandeiro na cabeça de Leoni. Esse incidente resultou na saída de Leoni do Kid Abelha e marcou o início de sua nova trajetória musical.

Leoni relatou em uma entrevista ao livro “Dias de Luta: Rock e Brasil dos Anos 80” de Ricardo Alexandre, que se sentiu traído e isolado. Ele admitiu que o sucesso havia subido à cabeça e que a situação tinha se tornado insustentável. Apesar das dificuldades, Leoni decidiu seguir em frente e fundar uma nova banda, os Heróis da Resistência, com o apoio da gravadora WEA.

A Formação dos Heróis da Resistência

Com a dissolução do Kid Abelha, Leoni formou os Heróis da Resistência em 1985. A nova banda contou com Alfredo Dias Gomes na bateria, Lulu Santos nos teclados e Jorge Chai na guitarra. A proposta musical dos Heróis da Resistência era mais pesada e elaborada em comparação com o som pop do Kid Abelha. Em 1986, lançaram seu primeiro disco, que apresentou a música “Esse Outro Mundo”. Embora a faixa tenha tocado nas rádios, não alcançou o sucesso esperado.

O grande sucesso da banda veio com a música “Só Para o Meu Prazer”, uma parceria de Leoni com a modelo Fabiane Kerlakian, que também havia estado no tumultuado show do Kid Abelha. A canção entrou para a trilha sonora da novela “Hipertensão” e rendeu um disco de ouro para a banda, embora o reconhecimento só tenha vindo anos depois, quando foram contabilizadas as 100 mil cópias vendidas.

Desafios e Desentendimentos

O segundo disco dos Heróis da Resistência foi gravado em Los Angeles com o auxílio de Liminha, renomado produtor musical. No entanto, a experiência foi repleta de problemas. A banda foi para Los Angeles com um repertório limitado e enfrentou dificuldades financeiras e criativas. A gravação do disco foi marcada por erros e extravagâncias, como a compra impulsiva de equipamentos e a falta de um plano claro para a divulgação do álbum.

O disco, intitulado “Religio”, teve uma temática mística e incorporou várias influências musicais. No entanto, devido à falta de promoção e ao alto custo da produção, as vendas foram insatisfatórias. A banda enfrentou dificuldades financeiras e foi informada pela gravadora que parte do lucro do próximo disco seria utilizado para cobrir a dívida acumulada com a produção anterior.

O Declínio e o Legado dos Heróis da Resistência

Com o fracasso do segundo disco e a crescente dificuldade em manter a banda, o grupo passou por mudanças significativas. O Heróis da Resistência passou a ser um trio com Leoni, Jorge e Edmar Galho na bateria. O som se tornou mais cru e rock and roll, culminando no lançamento de “Heróis 3” em 1990. Embora algumas músicas tenham conseguido tocar nas rádios, o álbum não conseguiu alcançar o sucesso comercial esperado. A situação econômica no Brasil, marcada pelos planos cruzados e a inflação, também contribuíram para o fracasso do disco.

Com a perda do contrato com a WEA e a rejeição da fita demo enviada para outras gravadoras, os Heróis da Resistência chegaram ao fim. Leoni, no entanto, não deixou a música. Ele aproveitou as composições daquela fita demo e lançou seu primeiro disco solo em 1993. O álbum “Garotos” trouxe a canção “Garotos”, originalmente prevista para o quarto disco dos Heróis da Resistência, e teve grande sucesso, permanecendo por seis meses nas paradas.

A Carreira Solo de Leoni e o Legado dos Heróis da Resistência

O sucesso de “Garotos” marcou o início da carreira solo de Leoni, que continuou a lançar vários álbuns e se firmou como um compositor renomado. Sua colaboração com artistas como Cazuza, para quem compôs a canção “Exagerado”, demonstrou sua habilidade como criador de sucessos. O reconhecimento como “Hits Maker” destacou Leoni como um dos compositores mais procurados da música brasileira.

Os Heróis da Resistência, apesar de sua breve existência, desempenharam um papel importante na cena musical da época. A banda deixou um legado de criatividade e experimentação que ainda é lembrado pelos fãs de rock brasileiro. A trajetória tumultuada de Leoni e de seus companheiros é um testemunho de como o sucesso no mundo da música muitas vezes é efêmero e imprevisível.

Em resumo, a história dos Heróis da Resistência é uma reflexão sobre a complexidade e os desafios da carreira musical. Mesmo que a banda tenha enfrentado dificuldades e não tenha alcançado o sucesso duradouro que alguns esperavam, seu impacto na música brasileira e a contribuição de Leoni como artista e compositor são inegáveis. A jornada dos Heróis da Resistência é uma prova de que, no rock and roll, nem tudo é glória, mas cada passo, por mais difícil que seja, contribui para a rica tapeçaria da música.

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