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Nove Curiosidades sobre ‘Sociedade Alternativa’ de Raul Seixas

Raul Seixas, um ícone da música brasileira, é conhecido por suas letras provocativas e sua habilidade em misturar o esotérico com o cotidiano. Um dos seus trabalhos mais emblemáticos é a canção “Sociedade Alternativa”, que não apenas marcou a sua carreira, mas também deixou uma marca indelével na cultura brasileira. Neste artigo, vamos explorar nove curiosidades fascinantes sobre essa música e a filosofia por trás dela, oferecendo uma visão mais aprofundada sobre o contexto histórico e as influências que moldaram essa obra-prima.

O que é a “Sociedade Alternativa”?

Curiosidade 1: A Filosofia da Sociedade Alternativa

A expressão “Sociedade Alternativa” não se refere a um lugar físico ou a uma comunidade que realmente existiu. Pelo contrário, é um conceito filosófico e uma proposta metafórica que Raul Seixas e seu parceiro, Paulo Coelho, criaram. A ideia central da música é baseada no lema “Faz o que tu queres, há de ser tudo da Lei”, uma frase que tem suas raízes na filosofia de Aleister Crowley, um ocultista britânico.

Seixas e Coelho usaram essa filosofia para promover uma visão de liberdade individual e autoexpressão. A canção é, na verdade, um hino para uma forma de viver que se alinha com a ideia de fazer o que se deseja, sem restrições impostas por normas sociais rígidas. Como Paulo Coelho explicou no documentário “Raul Seixas – Do Início ao Fim”, a Sociedade Alternativa era uma ideia abstrata, representando uma forma de pensar que deveria estar dentro de cada pessoa, e não uma entidade física ou um grupo formal.

Curiosidade 2: A Influência de Aleister Crowley

A inspiração para a “Sociedade Alternativa” vem diretamente das ideias de Aleister Crowley, um ocultista que viveu entre 1875 e 1947. Crowley é conhecido por suas práticas esotéricas e por ser um dos principais influenciadores do ocultismo moderno. Ele fundou a religião chamada Thelema, que tem como princípio central o lema “Faz o que tu queres, há de ser tudo da Lei”.

Crowley era uma figura controversa, conhecida por seus rituais secretos e sua exploração de temas como sexo e drogas. Ele foi apelidado de “Senhor 666” e “O Anticristo” devido à sua rejeição das normas sociais e religiosas estabelecidas. Seu trabalho influenciou diversos artistas e pensadores ao longo do século XX, e sua filosofia se refletiu diretamente na criação da “Sociedade Alternativa” por Raul e Coelho.

Curiosidade 3: A Sociedade Alternativa na História

Crowley não apenas influenciou a música de Seixas, mas também tentou criar uma sociedade alternativa real. Em 1920, ele fundou uma comunidade chamada Cefalú, na Sicília, onde tentou implementar suas ideias esotéricas. No entanto, a comunidade foi desmantelada pelo governo fascista de Benito Mussolini após três anos de operação. Esta tentativa real de criar uma sociedade alternativa influenciou a visão de Seixas e Coelho, que adaptaram essas ideias para a realidade brasileira.

Curiosidade 4: O Logotipo da Sociedade Alternativa

A Sociedade Alternativa também criou um logotipo distintivo que aparece em várias capas de álbuns de Raul Seixas, como “Krig-Ha, Bandolo!” e “Gita”. O símbolo, derivado do Ankh egípcio, é um símbolo hieroglífico que representa a vida e a imortalidade. O Ankh tem a forma de uma cruz com um laço no topo, que foi modificado para incluir degraus que simbolizam a iniciação.

Esse logotipo não apenas serve como uma marca visual da Sociedade Alternativa, mas também reflete a conexão entre a filosofia de Seixas e as tradições esotéricas egípcias, que Crowley tanto admirava.

Curiosidade 5: Planos e Marketing sobre a Sociedade Alternativa

Apesar de ser apresentada como uma filosofia e um lema, havia planos concretos para a criação de uma sociedade alternativa material. Em 1974, Raul Seixas mencionou em entrevistas a ideia de construir uma cidade chamada “Cidade das Estrelas” em Minas Gerais, onde as normas sociais seriam invertidas. A proposta incluía a criação de uma comunidade onde conceitos como “advogado” e “policial” seriam substituídos por versões alternativas desses papéis.

No entanto, esses planos nunca se concretizaram totalmente. Havia um certo exagero e marketing em torno da Sociedade Alternativa para dar a impressão de que era algo mais grandioso do que realmente era. Paulo Coelho e Raul Seixas usaram essa ideia para chamar a atenção da mídia e promover seus trabalhos, embora a sociedade em si nunca tenha existido de forma física.

Curiosidade 6: A Censura e a Letra de “Sociedade Alternativa”

A letra de “Sociedade Alternativa” foi aprovada pela censura na época do regime militar brasileiro, o que é curioso dado o seu conteúdo subversivo. O texto da música foi visto como não sendo uma ameaça direta ao regime, apesar de seu caráter provocativo e desafiador. No entanto, o governo ainda estava preocupado com o potencial impacto subversivo da canção e com a influência que ela poderia ter sobre a juventude.

Curiosamente, a censura fez algumas modificações na letra original, que incluía versos mais explícitos sobre liberdade e desejo. Mesmo com essas alterações, a essência da mensagem foi mantida, e a canção se tornou um hino para muitos que buscavam uma alternativa ao status quo.

Curiosidade 7: A Repressão Política e a Prisão de Seixas e Coelho

O regime militar começou a se incomodar com a Sociedade Alternativa, especialmente quando surgiram rumores sobre planos de criar uma comunidade esotérica em Minas Gerais. Raul Seixas e Paulo Coelho foram presos em 1974, e as autoridades tentaram descobrir mais sobre essa “sociedade secreta”, acreditando que poderia haver uma conexão com atividades subversivas e guerrilheiras.

O episódio de sua prisão foi um ponto de virada significativo, não apenas para as suas carreiras, mas também para a relação entre eles. A prisão e a subsequente pressão política contribuíram para o rompimento de sua parceria criativa e o abandono dos planos de construir uma sociedade alternativa material.

Curiosidade 8: O Fim da Sociedade Alternativa

Após o exílio e a prisão, Raul Seixas se afastou gradualmente da ideia da Sociedade Alternativa. Ele mencionou em entrevistas que a ideia deixou de ser relevante para ele, e ele focou em outras direções musicais e pessoais. A parceria com Paulo Coelho também terminou, e o entusiasmo de Coelho pela filosofia de Crowley foi abalado após uma experiência negativa em 1974.

Coelho abandonou a ideia da Sociedade Alternativa após um episódio traumático que descreveu como um encontro com forças malignas. Esse evento marcou o fim da parceria entre ele e Seixas, e ambos seguiram caminhos separados, com Coelho focando mais em sua carreira literária e espiritual.

Curiosidade 9: Bruce Springsteen e a Regravação de “Sociedade Alternativa”

Em um momento notável para a música brasileira, Bruce Springsteen, o lendário cantor e compositor americano, fez uma regravação de “Sociedade Alternativa” durante sua performance no Rock in Rio 2013. Springsteen, conhecido por seu respeito e admiração por Raul Seixas, fez uma homenagem ao cantor brasileiro ao interpretar a canção, trazendo-a a um público internacional e destacando a influência global da obra de Seixas.

A performance de Springsteen foi um reconhecimento do impacto duradouro de Seixas e da relevância contínua da “Sociedade Alternativa” como uma mensagem de liberdade e autoexpressão que transcendeu fronteiras culturais e geográficas.

Conclusão

A “Sociedade Alternativa” de Raul Seixas é muito mais do que uma simples canção; é uma reflexão profunda sobre liberdade, filosofia e a busca por um novo modo de viver. Através da influência de Aleister Crowley e da parceria com Paulo Coelho, Seixas criou uma obra que desafiou normas e estimulou a imaginação. Embora a ideia de uma sociedade alternativa material nunca tenha se concretizado, o conceito filosófico e a mensagem da música continuam a ressoar com os ouvintes até hoje.

Este mergulho nas curiosidades e na história por trás da “Sociedade Alternativa” revela como a música de Raul Seixas transcendeu o entretenimento para se tornar um veículo de reflexão e provocação. A canção não só refletia suas crenças pessoais e suas influências, mas também se tornou um símbolo da contracultura e da busca por significado em um mundo em constante mudança.

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