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O Bêbado e a Equilibrista, o Hino da Anistia

O Bêbado e a Equilibrista, o Hino da Anistia

No artigo de hoje, eu vou falar sobre O Bêbado e a Equilibrista, uma das canções mais bonitas da música popular brasileira. De como essa canção veio a se tornar um hino pela anistia no período regime militar brasileiro.

Estamos falando de  uma composição de João Bosco e Aldir Blanc. Embora eles a tenham escrito no ano de 1977, O Bêbado e a Equilibrista somente foi gravada em 1979, no disco chamado “Essa Mulher” de Elis Regina.

 Isso veio bem a calhar, pois em 1979 começava o processo de anistia política. Como se dizia na época, anistia ampla, geral e irrestrita.

Esse fator contribuiu muito para que essa música estivesse presente nos eventos que levantavam a bandeira da anistia. Posteriormente, alimentou a trilha sonora dos movimentos que pediam pelas eleições diretas para presidente.

Apesar de ainda ser processo que duraria anos, a anistia política abriu caminho para redemocratização do país. Esse processo de redemocratização se deu de forma muito gradativa. Isso pois, os governantes militares temiam um avanço das forças de esquerda. Eles, os militares, temiam de que elas, as correntes socialistas transformassem o Brasil em um país como Cuba.

 A Ideia de Homenagear os Exilados Políticos.

A principio, quando , João Bosco começou a compor a melodia dessa música,  pretendia fazer uma homenagem a Charlie Chaplin. Isso tanto é verdade, que essa melodia tem trechos copiados de forma proposital da música, Smile. A referida canção, Smile faz parte da trilha sonora do Filme Tempos Modernos, criação de Chaplin.

Por sua vez, o filme, Tempos Modernos, foi lançado em 1932, e é um grande clássico do cinema. Supreendentemente, sua trilha sonora foi composta pelo próprio Charlie Chaplin, e é por essas e outras que o chamam de gênio. Então, como Chaplin faleceu justamente no ano 1977, João Bosco teve a ideia de homenageá-lo.

 O próprio João Bosco nos relata o fato:

 “Estava em Minas, naquelas festividades de Natal e Ano Novo, e as pessoas entrando já no clima carnavalesco. Comecei a querer fazer no violão algo que ligasse o Chaplin àquele momento musical brasileiro, carnavalesco”.

Segundo ele, essa motivação veio, porque Chaplin trata de temas em favor dos miseráveis, mas com alegria. E ao final de sua obra, sempre trás um horizonte de esperança.

 Contudo, como João Bosco não é poeta e geralmente não escreve as letras de suas músicas. Por esse motivo, como era de praxe, encomendou a poesia da canção ao amigo, Aldir Blanc.

 Coincidentemente, dizem que na época Aldir Blanc havia tido uma conversa com o cartunista Henfil. Nesse ínterim, este lhe relatou que estava desesperado com o estado de saúde do irmão exilado. Foi então, que Aldir Blanc resolveu transformar a música em um protesto contra o exílio político.

 Carlitos luta pela anistia política.

Devido as circunstâncias, a ideia veio bem a calhar, juntar Carlitos,  com a luta pela a anistia. Como sabemos, Carlitos é um personagem que luta contra as injustiças

A princípio, a caracterização de Carlitos na cena montada pelos autores já dá uma ideia de luta pela liberdade. Vemos que nesse cenário o mesmo está de luto, um sinal claro de dor e inconformismo.

 Ao mesmo tempo , Carlitos, além de estar de luto, está bêbado. Talvez porque, bêbado, possa suportar com mais facilidade a dura realidade em que vive.

 Porque a tarde caiu como um viaduto?

 Já no primeiro verso da música temos uma referência à queda do elevado Paulo de Frontin, na cidade do Rio de Janeiro.

Acidentalmente, esse viaduto desabou em 20 de novembro de 1971, devido a passagem de um caminhão betoneira carregado. Sua queda matou 40 pessoas. Seriam essas pessoas estavam na rua de baixo, paradas em seus carros, esperando a abertura do semáforo.

Retrata essa cena  a chegada da noite com brutalidade e violência. Analogamente, pode ser comparar a liberdade  a precariedade de obra mal feita.

Existe também, uma ironia quanto a situação econômica do Brasil. Nesse meio tempo, o Brasil estava na fase do milagre econômico, um milagre de obras mal feitas e superfaturadas.

Na dita cena onde o Carlitos bêbado dança, o entardecer cai com violência. Se supormos que a noite seja a chegada do regime militar, a queda do viaduto pode significar a violência. Foi essa violência, traduzida pela repreensão e perseguição que esse regime lançou sobre os seus opositores.

Nesse ponto, o regime é comparado a um período de escuridão, como a noite.  Que cai com violência sobre os opositores. Isso gerou muitas mortes e deportações, onde grande quantidade de pessoas foram enviadas para o exílio político.

 O Brilho Falso da Lua Comparado ao Poder de Fachada.

Foto da Queda do viaduto Paulo de Frontin

Na segunda estrofe, temos uma referência que compara a lua a uma dona de um bordel. Como semelhante, a dona de um bordel, a lua não tem brilho próprio. Por sua vez, a lua brilha através de suas funcionárias.

No caso, como a lua utiliza o reflexo do brilho do sol para brilhar. Do mesmo modo, no emprego poético, utiliza as estrelas como a fonte do brilho.

Sendo que, no caso, as estrelas podem estar fazendo referência às patentes dos militares. Porem, há quem diga que a Lua representa os políticos. Pois eles, os políticos dependiam do poder dos militares para poder governar e exercer seus mandatos.

Embora, isso pode significar várias coisas. Por conseguinte, uma explicação é que a democracia está sem vida e quem brilha de verdade são os militares. Refletindo sobre, pode-se concluir que os militares, eram os verdadeiros mandatários do país.

O Que São as Nuvens no mata borrão do céu.

Para ilustrar, O mata borrão, é um instrumento utilizado para retirar manchas em excesso da escrita. Era muito usado no tempo em que predominavam as canetas tinteiro. Repetidamente, essas canetas vazavam e borravam o papel. 

Complementando a frase, talvez as nuvens torturadas seja a própria tortura. Passar um mata borrão, seria esconder a tortura. Da mesma forma, como quem usa um mata borrão para esconder as manchas.

 Quem é esse tal do irmão do Henfil?

Henil e Betinho

Muito popular no passado, Henfil, ou Henrique de Souza Filho, foi um cartunista e jornalista. Muito conhecido por suas posturas de oposição ao regime militar. Essa pessoal, o Henfil é irmão de Herbert João de Souza, o Betinho, um sociólogo e ativista político.

Seu irmão, Betinho estava entre os exilados, do mesmo modo, foi um dos beneficiados pela anistia política. Anos mais tarde ele, o Betinho, se tornaria o mentor intelectual da Ação Não Governamental da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Foi essa ação não governamental, quem deu origem ao projeto Fome Zero do governo federal.

Também podemos ver que a extradição dos exilados é comparada a um rabo de foguete. Para ilustrar, Rabo de Foguete era uma outra expressão muito usada na época. No caso da música, significa uma situação imposta contra a vontade, Em contrapartida não se tem escolha.

 Quem são as Marias e Clarisses?

Existe também uma referência datada de sua época. Nesse caso o autor fez referência as esposas de líderes de oposição mortos. Esclarecendo, Essas mulheres são na verdade Maria Lúcia Fiel, esposa de Manoel Fiel Filho, e Clarice Herzog, esposa de Vladimir Herzog.

Analogamente, a morte de Manoel Fiel Filho é  à morte de Vladimir Herzog. Por comparação, também é semelhante à morte do estudante Alexandre Vanucci Leme. Foram ambos registrados como suicidas. Nesse ponto, voltamos a referência às manchas que são apagadas com um mata borrão.

Em síntese, o assassinato é convertido em suicídio, tentando esconder os crimes do regime. De forma contundente, as denúncias e as investigações sobre esses assassinatos, ajudaram a queda do regime. Simultaneamente, provocou o afastamento do chefe do exército, Ednardo D’ávila Mello.

 Concluindo o Inconclusivo.

Definitivamente, no texto parte do hino nacional é subvertido em tom de ironia. Ironicamente, um trecho do hino, à pátria mãe gentil, é colocada em contraponto a política do ame-o ou deixe-o. Nesse período, a pátria só é gentil aqueles que pensam igual aos seus governantes, ou aqueles que se calam.

 E por fim a esperança, fica claro na letra que a equilibrista é a esperança, que dança na corda bamba de sombrinha.

Mas quem é o bêbado? No meu entendimento, ele representa os artistas e os ativistas políticos que lutam pela liberdade.

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