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O Impacto das Redes Sociais nas Chances de ‘Ainda Estou Aqui’ no Oscar

Nos últimos meses, um fenômeno tem se desenrolado nas redes sociais, especialmente no Brasil, em torno do filme Ainda Estou Aqui e de sua protagonista, a atriz Fernanda Torres. Após sua vitória no Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama, a atriz tem sido catapultada para o centro das atenções internacionais, e o que muitos podem considerar uma simples movimentação nas redes sociais tem se revelado um movimento de proporções monumentais. Mas será que esse “exército de likes” pode realmente influenciar as chances do Brasil no Oscar 2025? Vamos analisar a fundo esse fenômeno e as implicações que ele pode ter para o cinema brasileiro.

O Papel das Redes Sociais na Campanha para o Oscar

É inegável que o impacto das redes sociais no cinema, e particularmente nas campanhas para prêmios como o Oscar, tem sido crescente. Nos últimos anos, a presença digital tornou-se um elemento fundamental na definição de quais filmes e artistas conquistam visibilidade no cenário internacional. No caso de Ainda Estou Aqui, a movimentação nas redes sociais tem sido uma verdadeira força de marketing. Com mais de 3,5 milhões de visualizações no Instagram do Jimmy Kimmel Live em menos de uma semana, a atriz brasileira se estabeleceu como um fenômeno de engajamento, superando grandes nomes da indústria, como Selena Gomez.

Além disso, brasileiros têm se mobilizado de maneira quase orquestrada, inundando os comentários das publicações sobre o filme e sobre Fernanda Torres, elevando a produção a níveis de atenção antes inimagináveis para um filme não produzido nos Estados Unidos ou no Reino Unido. Esse “exército de likes” não é uma simples questão de popularidade, mas sim uma campanha de mobilização que gerou um efeito cascata: postagens nas redes sociais se transformaram em visibilidade na mídia internacional, o que, em um processo eleitoral como o do Oscar, pode ser crucial para chamar a atenção dos membros da Academia.

O Peso do Marketing na Indicação e Vitória no Oscar

A campanha para o Oscar vai muito além da produção de um bom filme. Em um ambiente tão competitivo, a visibilidade é um dos principais componentes do sucesso. Por isso, ações como as promovidas pelo “exército de likes” podem ajudar a ampliar a presença de Ainda Estou Aqui na mente dos votantes. Mas isso significa que as curtidas e os comentários garantirão uma indicação ou, ainda mais, uma vitória? A resposta é mais complexa.

O funcionamento da votação do Oscar é estruturado e depende de várias fases. Inicialmente, filmes são selecionados com base em sua elegibilidade, como o número de exibições e sua distribuição. Em seguida, ocorre uma votação preliminar, na qual os membros da Academia escolhem os finalistas para cada categoria. A votação final é aberta a todos os membros, mas o processo é muito mais do que uma mera contagem de curtidas em redes sociais.

No entanto, isso não significa que as redes sociais não tenham uma influência. A presença de Ainda Estou Aqui em plataformas digitais tem gerado o tipo de visibilidade que muitos filmes de estúdios gigantescos não conseguem obter. Quando Fernanda Torres foi premiada no Globo de Ouro, por exemplo, a mobilização em torno dela nas redes sociais foi tão intensa que, ao postar o vídeo de sua premiação, o perfil oficial da premiação viu um aumento significativo nas visualizações, chegando a mais de 77 milhões de visualizações.

A História de Campanhas e Redes Sociais no Oscar

Essa movimentação não é algo novo, mas sim uma nova fase de um processo que já vem sendo estruturado desde as campanhas de marketing mais tradicionais. O cinema contemporâneo, especialmente com a ascensão de plataformas digitais, passou a incorporar de maneira mais robusta estratégias de marketing que abrangem desde exibições privadas e eventos exclusivos até campanhas massivas nas redes sociais. E se a votação é influenciada por esses fatores, como um aumento de visibilidade nas plataformas sociais, isso pode fazer com que membros da Academia, muitos dos quais dependem da mídia para formar sua opinião, sejam mais propensos a assistir ao filme e, eventualmente, votar nele.

As mudanças na composição da Academia ao longo dos anos também têm gerado uma maior abertura para diversidade, o que reflete diretamente nas escolhas dos indicados e vencedores. A inclusão de mais membros fora dos Estados Unidos e de diferentes etnias, incluindo latino-americanos, como é o caso de Emílio Domingos, diretor do documentário Black Rio! Black Power! (2023), traz uma perspectiva que favorece um cinema mais global. Esse movimento abre caminho para filmes brasileiros, como Ainda Estou Aqui, terem um impacto mais significativo na premiação.

A Influência da Mobilização Brasileira nas Redes Sociais

O impacto direto de uma torcida organizada nas redes sociais pode ser visto nas reações a críticas externas. Quando o crítico francês Jacques Mandelbaum do Le Monde publicou uma resenha negativa sobre o filme, a reação dos brasileiros foi imediata, inundando a página do jornal com comentários e até piadas provocativas. A reação foi tão intensa que o próprio jornal apagou muitos dos comentários, mas o efeito de mobilização já havia ocorrido. Outro caso notável foi o da apresentadora argentina Paula Galoni, que sofreu a pressão da “tropa” brasileira após fazer piadas depreciativas sobre a aparência de Fernanda Torres no programa Vamos Las Chicas. O perfil de Galoni foi fechado temporariamente após a pressão da audiência.

Essa movimentação demonstra a força que as redes sociais têm em manipular a narrativa em torno de uma produção cinematográfica. Para o público brasileiro, o filme Ainda Estou Aqui representa mais do que uma obra cinematográfica: é uma bandeira de resistência e reconhecimento internacional. No entanto, enquanto a mobilização nas redes sociais pode aumentar a visibilidade, ela sozinha não garante o Oscar.

A Relação Entre Popularidade e Qualidade Técnica

O crítico de cinema Isabela Boscov acredita que mais de 70% do sucesso de uma campanha ao Oscar depende de marketing e engajamento público. Esse tipo de apoio pode garantir que os filmes e as performances sejam vistos por um número maior de votantes. Embora o apelo popular seja importante, ele deve ser acompanhado de qualidade técnica e narrativa, algo que Ainda Estou Aqui possui de sobra. O reconhecimento de Fernanda Torres no Globo de Ouro foi um marco essencial para colocar a atriz e o filme no radar dos votantes do Oscar, mas, no final das contas, os critérios técnicos também pesam.

A grande questão sobre o impacto do “exército de likes” do Brasil no Oscar de 2025 não está apenas em suas curtidas, mas na capacidade de gerar visibilidade e, de forma indireta, influenciar o pensamento dos membros da Academia. O apoio fervoroso nas redes sociais pode, sim, fazer com que mais pessoas assistam ao filme e reconheçam a performance de Fernanda Torres, mas a eleição de vencedores e indicados depende de uma série de critérios que vão além do barulho digital. No entanto, a campanha de mobilização online tem seu valor e, em um mundo cada vez mais globalizado, pode fazer a diferença para que o Brasil, de fato, conquiste uma estatueta inédita no Oscar.