“Azul da Cor do Mar”, um dos maiores sucessos autorais de Tim Maia, é uma canção que carrega uma rica história de luta e superação. Lançada no início dos anos 70, essa música não apenas marcou a carreira do cantor, mas também refletiu um período de profunda introspecção e rejeição. Para entender o verdadeiro impacto de “Azul da Cor do Mar”, é essencial mergulhar na trajetória de Tim Maia entre 1967 e 1970, um período crítico em sua vida.
1. O Contexto da Rejeição e a Inspiração
A canção foi inspirada por um pôster que Tim Maia mantinha em seu quarto, mostrando uma mulher nua em um mar azul, uma cena idílica que contrastava fortemente com a realidade turbulenta que ele enfrentava. Nesse período, Maia estava mergulhado em sentimentos de rejeição, tanto do mercado fonográfico quanto em sua vida pessoal, e isso se refletia profundamente em sua música. A sensação de exclusão era palpável; a sua luta para ser reconhecido era um tema constante em sua vida.
2. Os Desafios Iniciais
A história de Tim Maia começa com uma série de desafios que marcaram sua trajetória até conseguir gravar seu primeiro LP. Em 1967, Tim Maia estava em uma situação precária em São Paulo. Aos 25 anos, ele já havia morado nos Estados Unidos, mas retornou ao Brasil em 1964, apenas para enfrentar uma série de dificuldades. No Rio de Janeiro, ele foi preso e enfrentou vários problemas antes de tentar a sorte na capital paulista.
Naquela época, o sonho de Tim Maia era ser reconhecido na Jovem Guarda, o popular programa de TV apresentado por Roberto Carlos. Maia acreditava firmemente que, se tivesse a chance de se apresentar no programa, seu talento seria amplamente reconhecido. No entanto, seus sonhos eram dificultados pelo fato de ter se separado de Roberto Carlos, com quem havia tocado em um conjunto musical na Tijuca, Rio de Janeiro, no final dos anos 50.
3. A Luta Pela Reconhecimento
Tim Maia tentou contato com Roberto Carlos, mas as coisas não aconteceram tão rapidamente quanto ele esperava. Ele vivia uma vida modesta, com roupas emprestadas e recursos limitados, dependendo de bicos em bares paulistanos e pequenos trabalhos. Mesmo quando ganhou a chance de aparecer no programa “Simbora”, apresentado por Wilson Simonal, sentia-se menosprezado pelo meio musical, apesar de seu inegável talento vocal.
O preconceito e a falta de reconhecimento eram aspectos dolorosos para Tim Maia. Ele enfrentava o estigma de ser um artista negro, fora dos padrões estéticos da época, e isso impactava profundamente sua autoestima. Sua situação econômica precária, que incluía viver em uma casa praticamente vazia com móveis básicos e poucas posses, acentuava ainda mais seu desespero.
4. Amizades e Colaborações
Entre os episódios mais marcantes desse período está o encontro de Tim Maia com os Mutantes. Em um bastidor do programa de TV “Quadrado e Redondo”, apresentado pela TV Bandeirantes, Maia conheceu Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee. Essa interação resultou em uma amizade duradoura, com os Mutantes admirando a autenticidade e o talento de Tim Maia. A biografia “Vale Tudo”, escrita por Nelson Mota, descreve este encontro com detalhes e oferece uma visão sobre a influência que essas amizades tiveram em Maia.
5. A Ajuda de Roberto Carlos
Após persistentes tentativas, Tim Maia conseguiu ajuda de Roberto Carlos, o que resultou em um contrato com a CBS para a gravação de um compacto. Apesar dos esforços, o resultado foi insatisfatório. A falta de familiaridade dos músicos brasileiros com o estilo musical de Maia levou a um projeto frustrante. Esse fracasso aumentou ainda mais o descontentamento de Maia com a indústria musical.
Seguindo com sua busca por reconhecimento, Tim Maia recebeu apoio de outros artistas, incluindo Erasmo Carlos e Eduardo Araújo. Araújo ajudou Maia a produzir um LP, onde várias músicas compostas por ele foram incluídas. Apesar de suas contribuições, o disco não atingiu o sucesso esperado, e o sentimento de frustração continuava a crescer.
6. A Criação de “Azul da Cor do Mar”
Foi em meio a essa série de desafios e rejeições que Tim Maia, se sentindo particularmente desolado, compôs “Azul da Cor do Mar”. Em um momento de introspecção, enquanto se encontrava sozinho e deprimido, Maia se inspirou em um pôster de uma mulher nua em um mar azul, que evocava um sentimento de tranquilidade e beleza contrastante com sua própria realidade dolorosa.
Ao olhar para o pôster, Tim Maia pegou seu violão e começou a compor, criando os versos que começavam com “Ah, se o mundo inteiro me pudesse ouvir…”. A letra da música expressava não apenas um desejo de ser ouvido, mas também uma reflexão profunda sobre o sofrimento e a resiliência pessoal. O resultado foi uma composição profundamente emocional, que transmitia a essência de sua luta e seu desejo por reconhecimento.
7. O Impacto da Canção
Quando Fábio, amigo de Maia, ouviu a canção, ele ficou impressionado. A resposta de Fábio foi um reconhecimento imediato da importância da música, descrevendo-a como a “música de sua vida”. A reação de Maia a esse elogio foi de aparente indiferença, mas, com o tempo, a música começou a ganhar destaque.
O compacto “Primavera”, uma música que Tim Maia havia gravado antes, recebeu atenção significativa. Nelson Mota, ao ouvir “Primavera” no rádio, ficou interessado e decidiu procurar mais músicas de Maia para incluir no próximo disco de Elis Regina. Esse interesse gerou uma nova oportunidade para Tim Maia, com a gravadora acelerando a produção de seu LP.
8. A Produção do Álbum
A produção de “Azul da Cor do Mar” envolveu uma equipe talentosa. A banda incluía Paulinho na bateria, Zé Carlos no baixo, Carlinhos no piano, e Tim Maia no violão de nylon. As sessões de gravação foram realizadas em São Paulo, com a finalização dos arranjos de cordas ocorrendo no Rio de Janeiro sob a direção do maestro Walter Branco.
Um detalhe interessante é que Carlos Imperial sugeriu adicionar uma continuação na letra, que acabou sendo substituída por arranjos de cordas. A decisão final foi uma música que, a partir de então, encantou o Brasil e destacou Tim Maia como uma nova e inovadora voz na música popular.
9. Reconhecimento e Sucesso
O sucesso de “Azul da Cor do Mar” não apenas consolidou a carreira de Tim Maia, mas também marcou um momento significativo na música brasileira. A canção, que inicialmente surgiu de um período de profunda rejeição e dor pessoal, tornou-se um símbolo de superação e talento. O impacto da música foi imediato e profundo, refletindo a habilidade única de Maia de transformar sua experiência pessoal em arte universal.
Em sua trajetória, Tim Maia eventualmente encontrou o reconhecimento e sucesso que buscava. A música “Azul da Cor do Mar” se tornou um clássico e um marco na carreira de Maia, provando que, mesmo diante das adversidades, a paixão e a perseverança podem levar a grandes conquistas.
Este artigo explora a rica história por trás de “Azul da Cor do Mar” e a jornada de Tim Maia para alcançar o sucesso. Com detalhes sobre sua vida, desafios e a criação da canção, oferece uma visão completa sobre como a rejeição e a luta podem se transformar em grandes triunfos artísticos.