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O Movimento Desinfluenciador: Consumo Consciente e a Mudança Cultural

Em 2019, Diana Wiebe estava imersa no mundo das redes sociais, uma usuária comum de plataformas como o TikTok. Em meio a seus scrolls diários, se deparou com um influenciador promovendo rolos de cabelo sem calor, produtos que prometiam resultados instantâneos e maravilhosos sem o uso de fontes externas de calor. A promessa era simples: “Acorde com cachos deslumbrantes.” No entanto, como outros produtos que comprou antes, de cremes de cuidados para a pele e esfoliantes faciais, a experiência não correspondeu às suas expectativas. Os rolos a incomodaram durante a noite e, ao final, ela percebeu que seu cabelo naturalmente ondulado não precisava de tais artifícios. Esse foi apenas o começo de um movimento que, em 2025, a colocaria em um novo papel: o de influenciadora consciente, com uma missão clara: “desinfluenciar” seus seguidores.

A narrativa de Wiebe é emblemática de uma mudança cultural mais ampla, onde a sociedade começa a questionar o consumo desenfreado impulsionado por influenciadores. Como muitos outros, ela se viu imersa em uma “cultura de consumo” promovida incessantemente nas redes sociais. Influenciadores, com sua presença marcante em plataformas como TikTok, Facebook e Instagram, alimentam um ciclo de compra constante e, muitas vezes, desnecessário. No entanto, o movimento desinfluenciador, embora ainda em ascensão, está tomando forma. A hashtag #deinfluencing já acumula mais de um bilhão de visualizações no TikTok, refletindo o crescente cansaço do público em relação à prática de ser constantemente persuadido a adquirir produtos, muitos dos quais, em última análise, não são essenciais.

O conceito de “desinfluenciar” vai além de apenas desencorajar as compras impulsivas. Trata-se de uma crítica direta à cultura de fast fashion, ao consumismo exacerbado e à pressão das redes sociais para que as pessoas sigam tendências de consumo ditadas por influenciadores. “Fast fashion não vai torná-lo mais elegante”, afirma Wiebe em seus vídeos, um conselho simples, mas profundo. Ela sugere que a verdadeira elegância vem da escolha consciente e da apreciação das roupas e produtos que já possuímos, sem a necessidade de um constante ciclo de aquisição de novas peças.

Esse movimento vai contra o modelo tradicional dos influenciadores, que promovem incessantemente o consumo. Em vez de encorajar as pessoas a “correrem” para adquirir o último item da moda, o movimento desinfluenciador pede uma pausa, uma reflexão. Wiebe faz uma provocação importante em seus vídeos: “Você queria esse produto antes de ser comercializado para você?” Esse tipo de questionamento está em sintonia com a crescente demanda por mais transparência nas motivações dos influenciadores e com uma maior consciência sobre as práticas de marketing digital.

Como reação a esse novo movimento, uma série de outros influenciadores, como Christina Mychaskiw, se uniram à causa do consumo mais consciente. Mychaskiw, que passou por uma reviravolta pessoal ao lidar com uma dívida estudantil de 120 mil dólares e reconhecer o impacto de seus próprios hábitos de consumo, compartilha sua jornada em plataformas como YouTube e Instagram. Em um de seus vídeos, ela reflete sobre como, em 2019, ela foi vítima do ciclo de consumo impulsionado por influenciadores, comprando itens desnecessários e entrando em um ciclo de insatisfação. Ela agora promove uma abordagem mais equilibrada e saudável, aconselhando seus seguidores a repensarem suas compras antes de se deixar levar pela pressão das redes sociais.

Myskiw compartilha uma mensagem poderosa e direta: “Desligue o telefone, toque a grama, brinque com seu guarda-roupa e use o que você já tem.” Isso, segundo ela, pode ajudar as pessoas a redescobrir o valor das coisas que já possuem e a perceberem que muitas vezes o que já temos é o suficiente. Essa abordagem também reflete uma crítica velada ao estilo de vida “Instagram versus realidade”, onde as influências digitais muitas vezes criam um mundo de falsas expectativas, especialmente em relação a padrões de consumo e comportamento.

Além disso, a estilista Lucinda Graham destaca que o consumo desenfreado de fast fashion não só afeta nossas finanças e o meio ambiente, mas também prejudica nosso estilo pessoal. Ela usa uma analogia culinária para explicar: “Se você fizer algo rápido, será bom, mas não pode competir com um prato que foi cozido por 48 horas com cuidado e esforço.” Em outras palavras, o estilo pessoal autêntico e duradouro não se constrói através de compras impensadas e rápidas, mas sim por meio de escolhas deliberadas e pelo investimento no que realmente reflete nossa personalidade.

Graham também aconselha seus clientes a serem pacientes e a investirem em um guarda-roupa que evolua com o tempo. Ao invés de se deixar seduzir por tendências momentâneas, ela sugere que se foque em peças atemporais que podem ser estilizadas de maneiras criativas. “Com influenciadores nos persuadindo a comprar roupas, acabamos adquirindo itens que representam o estilo de vida de outra pessoa, mas isso não resulta em um guarda-roupa prático”, afirma Graham, sublinhando a importância de ser fiel ao próprio gosto.

O impacto do movimento desinfluenciador nas marcas ainda é incerto. Gigantes do e-commerce como Asos, Boohoo e Pretty Little Thing têm enfrentado uma queda na demanda, refletindo uma mudança no comportamento do consumidor. No entanto, como o marketing de influenciadores ainda movimenta bilhões de dólares anualmente, a verdadeira transformação parece estar apenas começando. De acordo com a pesquisa, a indústria global de marketing de influenciadores foi avaliada em US$ 21,1 bilhões em 2023, mais do que o dobro do que era em 2019.

Contudo, a autora Haja Barber, que também é especialista em questões de consumo consciente e autora de “Consumed: On Colonialism, Climate Change, Consumerism, and the Need for Collective Change”, acredita que a mudança verdadeira acontecerá fora das redes sociais. Barber argumenta que, enquanto a conversa sobre consumo consciente se intensifica nas mídias sociais, a mudança real ocorrerá quando os indivíduos começarem a questionar seus próprios hábitos offline. “Todos nós temos um papel a desempenhar”, diz ela, destacando a necessidade de ação conjunta, desde influenciadores até consumidores e empresas.

A produção excessiva de roupas, estimada em mais de 100 bilhões de itens anualmente, tem gerado um impacto negativo significativo no meio ambiente. Estima-se que mais da metade dessas roupas acabe em aterros sanitários dentro de 12 meses, com uma parte significativa sendo exportada para países em desenvolvimento, onde as roupas são descartadas, contribuindo para a poluição e a degradação ambiental.

Estamos a um século da década de 1930, quando as mulheres possuíam em média apenas 60 peças de roupa e compravam cerca de cinco itens novos por ano. Esse contraste histórico ilustra a transformação radical na indústria da moda e no comportamento do consumidor. Em um momento em que as roupas são produzidas em massa e o consumo nunca foi tão acessível, é hora de repensar o impacto de nossas escolhas.

Em última análise, o movimento desinfluenciador é um reflexo de uma geração que está cada vez mais ciente das implicações de seus hábitos de consumo, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. A mudança está acontecendo, mas é um processo contínuo que exige reflexão e ação consciente de todos os envolvidos.