Nos efervescentes anos 80, cinco adolescentes de ascendência francesa conquistaram os corações dos jovens brasileiros com um ritmo acelerado e vibrante. Esses jovens, que formaram o grupo Metrô, representaram uma das mais puras expressões do New Wave brasileiro. Originários da poluída metrópole paulistana, eles, de certa forma, homenagearam sua cidade ao adotar o nome “Metrô”. Este é um relato detalhado sobre o fim e o retorno dessa banda icônica, que marcou a trilha sonora de muitas festas adolescentes na década de 80.
A história do Metrô começa em meados dos anos 70, em São Paulo, na escola bilíngue Lee Pastel. Foi lá que três adolescentes, Virgínia, Dani e Alex, todos filhos de franceses, se conheceram. Com o passar do tempo, dois novos membros se juntaram ao grupo: Zaziê e Ian, que chegaram da França. Inicialmente, o grupo se chamava Gota Suspensa e, embora a formação fosse um tanto instável, esses jovens começavam a se aventurar na música.
O Gota Suspensa apresentava um som influenciado por uma mistura de rock progressivo e músicas de cantores franceses e brasileiros, como Edith Piaf e Caetano Veloso. Durante esse período, a banda começou a gravar fitas cassetes com seus ensaios e as enviou para várias casas de shows em São Paulo. No entanto, a banda não teve um sucesso imediato e sua trajetória ainda estava em construção.
A virada aconteceu no início dos anos 80, quando a banda Gota Suspensa, agora mais consolidada, lançou um LP por um selo alternativo chamado Underground. Essa fase da banda contou com a participação do saxofonista Marcel Zimberg e com o contrabaixo de Tavinho Fialho, conhecido por seu trabalho com Cássia Eller e Legião Urbana. Apesar do esforço, o Gota Suspensa ainda enfrentava desafios em termos de popularidade e reconhecimento.
Foi nesse período que a banda começou a questionar sua direção musical. De um som mais alternativo e progressivo, eles decidiram se afastar e seguir uma abordagem mais direta e acessível, inspirada pela New Wave americana e pelo estilo de Rita Lee. Esta mudança foi crucial para que o Metrô pudesse atingir um público maior e se destacar na cena musical brasileira.
Virgínia, que também era atriz, decidiu se dedicar integralmente à banda. Sua carreira de atriz incluía trabalhos em comerciais e até mesmo em novelas, como a participação em “Os Imigrantes”, exibida pela Band em 1981. A mudança de foco da banda também incluiu uma reformulação de nome. Após considerar opções como “Telex” e “Bambu”, o grupo decidiu adotar o nome Metrô, uma referência à metrópole onde se encontravam e à mistura cultural que representavam.
A formação final do Metrô se estabilizou com Virgínia nos vocais, Alex na guitarra, Dani na bateria, Zaziê no baixo e Ian nos teclados. Com o novo som mais pop e acessível, o Metrô chamou a atenção da gravadora CBS, conhecida pelo seu trabalho com Roberto Carlos e outros artistas de destaque. A gravadora ofereceu ao Metrô a oportunidade de gravar um compacto, um formato comum para testar o sucesso de novas músicas na época.
O compacto lançado trouxe o sucesso “Beat Acelerado”, uma faixa com uma batida dançante e uma bateria eletrônica marcante, que rapidamente se tornou a trilha sonora das festas e eventos dos anos 80. A música, na verdade uma reinterpretação de uma Bossa Nova composta por Alex e Vicente França, conquistou o público com sua energia contagiante. A popularidade do single levou à gravação de um LP em 1985, intitulado “Olhar”. Este álbum incluía o sucesso “Cenas Obscenas” e uma versão da Bossa Nova de “Beat Acelerado”, enquanto a versão original New Wave foi deixada de fora devido à limitação de espaço.
O Metrô também teve a oportunidade de participar do filme “Rock Estrela”, produzido por Lael Rodrigues, conhecido por seu trabalho em “Bete Balanço”. A banda, que incluía uma célebre participação do baterista Dani na propaganda “Bonita Camisa Fernandinho” de 1984, continuava a se apresentar em diversos programas de TV e a receber convites para shows.
No entanto, a pressão e a intensidade do sucesso começaram a pesar sobre a banda. A crítica, incluindo uma avaliação negativa na Folha de São Paulo, apontava para a falta de profundidade e a simplicidade das letras. Esse ambiente desafiador levou a uma fase de introspecção, e o grupo começou a considerar voltar às suas raízes experimentais. Virgínia foi removida da banda, e novos rumos foram explorados.
A saída de Virgínia, que mais tarde comentou com um certo humor sobre sua saída devido à falta de “cabelo no peito”, marcou um ponto de virada significativo. A banda passou a explorar um som mais experimental, contratando o cantor português Pedro Park e até cogitando renomear o grupo para “Tigres Tristes”. No entanto, acabaram mantendo o nome Metrô e lançaram o LP “A Mão de Mal” em 1987. Apesar de uma breve popularidade com a música “Gato Preto”, o grupo eventualmente se dissolveu.
Virgínia, após o fim do Metrô, formou a banda Fruto Proibido com outros músicos notáveis, mas o projeto também não alcançou o sucesso esperado. O Metrô, por sua vez, parecia ter encerrado seu ciclo até que, no final dos anos 90, uma nova tentativa de reunião surgiu, impulsionada por uma sugestão de Luli. A formação original se reuniu sob o nome de “Deja Vu” e lançou um álbum que misturava Bossa Nova com reinterpretações de clássicos. A banda continuou a se apresentar e lançou um álbum comemorativo de 30 anos de “Olhar” em 2004.
O retorno do Metrô ao cenário musical não foi apenas uma tentativa de reviver o passado, mas também um exemplo de resiliência e adaptação. Embora a banda tenha enfrentado desafios e mudanças ao longo dos anos, sua influência e contribuição para a música brasileira permanecem significativas. O Metrô, que teve um impacto marcante na juventude dos anos 80, continua ativo, mostrando que a paixão pela música pode superar obstáculos e manter o espírito de uma banda viva.
Assim, a jornada do Metrô é um testemunho da evolução musical e da capacidade de adaptação de um grupo que soube transformar suas dificuldades em oportunidades para renascer. A banda, que começou como uma pequena formação de amigos e se transformou em um ícone do New Wave brasileiro, continua a ser uma parte importante da história musical do país. Se você deseja saber mais sobre o Metrô e sua trajetória, não deixe de conferir as entrevistas e documentários disponíveis sobre a banda.