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Renato Rocha e a Legião Urbana: Entre Polêmicas e Legado

Renato Rocha, um nome que desperta tanto respeito quanto curiosidade entre os fãs de rock brasileiro, está no centro de uma das maiores polêmicas da história da Legião Urbana. A saída de Rocha da banda não é apenas um episódio de grande repercussão, mas também um reflexo das complexas dinâmicas internas que moldaram a trajetória da banda. Neste artigo, vamos explorar a trajetória de Renato Rocha, entender os motivos de sua entrada e saída da banda e, finalmente, analisar se ele foi injustiçado. Nosso objetivo não é apontar dedos ou julgar, mas apresentar uma visão detalhada baseada em declarações de membros da banda, entrevistas e livros sobre o tema.

Quem Era Renato Rocha?

Renato Rocha, nascido em 1961 no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, era o mais jovem entre os integrantes da formação original da Legião Urbana, sendo apenas um ano mais novo que Renato Russo. Filho de um sargento do Exército e de uma mãe protestante, Rocha cresceu em um ambiente musical e religioso. Seu pai regia o coral da igreja e seus irmãos tocavam trompete, enquanto seu tio era maestro, influenciando significativamente o seu desenvolvimento musical.

Durante a infância, Rocha foi incentivado a aprender música, mas com um foco restrito. De acordo com o livro “Renato Russo: O Trovador Solitário”, de Arthur Dapieve, Rocha tinha permissão limitada para ouvir rádio e se expor a diferentes estilos musicais. Em 1969, a família se mudou para Brasília, onde Renato começou a se envolver mais profundamente com o rock, influenciado por bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath. Ele desenvolveu suas habilidades como baixista e começou a frequentar o círculo de músicos e bandas locais, incluindo um grupo de hardcore.

Na época, Renato Rocha já conhecia as letras de Renato Russo e estava familiarizado com o som da Legião Urbana, o que prefigurava sua futura associação com a banda. Ele se aproximou de músicos como Flávio Lemos e André Pretorius, o que facilitou seu ingresso na banda quando surgiu a oportunidade.

A Entrada na Legião Urbana

A Legião Urbana, formada por Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, era originalmente um trio. Em fevereiro de 1984, a banda assinou um contrato com a EMI e começou a trabalhar em um compacto que poderia se transformar em um álbum. Em junho do mesmo ano, Renato Russo enfrentou uma crise pessoal significativa, cortando os pulsos em um episódio que muitos interpretaram como uma tentativa de abandonar o baixo e se concentrar mais em sua atuação como vocalista.

A partir dessa crise, surgiu a ideia de convidar Renato Rocha para se juntar à banda. De acordo com Dapieve, Rocha era conhecido por seu envolvimento com o rock mais pesado e por ser parte da “facção mais hardcore” da turma da Colina, o que o tornava uma adição natural ao grupo. As histórias sobre como Rocha foi convidado variam, mas uma anedota interessante mencionada por Dado Villa-Lobos é que Renato Russo pediu para saber o signo e o ascendente de Rocha antes de convidá-lo para a banda, revelando seu interesse por astrologia.

O convite foi formalizado em julho de 1984, e Renato Rocha fez sua estreia com a Legião Urbana em 10 de agosto, no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Sua entrada na banda trouxe uma nova dinâmica ao grupo e, inicialmente, parecia promissora.

A Saída Controversa

A saída de Renato Rocha da Legião Urbana é marcada por diversas versões e interpretações. Segundo o livro de Cris Fuscaldo, os problemas começaram durante a gravação de “Que País É Este”. Renato Russo tinha uma visão específica para o baixo nas músicas e começou a pressionar Rocha para que ele se adequasse a esse estilo. A tensão aumentou quando Rocha começou a se afastar, tanto fisicamente quanto em termos de comprometimento com o projeto da banda.

Durante a gravação de “As Quatro Estações”, a situação piorou. Renato Russo e os outros membros da banda sentiam que Rocha não estava tão envolvido quanto o esperado. Ele passava longos períodos em Mendes, no Estado do Rio, o que o fazia chegar atrasado ou faltar às sessões de gravação. Essa distância e o fato de Rocha estar lidando com problemas pessoais, incluindo dependência química e problemas de relacionamento, exacerbaram a situação.

Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, em suas declarações, confirmaram que Rocha estava frequentemente ausente e não contribuía efetivamente para o processo criativo. Rocha, por sua vez, alegou que os outros membros da banda não estavam comprometidos e que ele mesmo enfrentava uma série de desafios pessoais e profissionais. Ele também mencionou que os problemas começaram quando a banda se moveu para um estilo mais de estúdio, algo com o qual ele não estava totalmente de acordo.

A Perspectiva dos Membros da Banda e o Legado de Renato Rocha

Em entrevistas e declarações, tanto Dado Villa-Lobos quanto Marcelo Bonfá expressaram suas frustrações com a situação. Dado mencionou que Rocha não estava alinhado com a visão da banda para um som mais polido e focado em estúdio. Por outro lado, Rocha expressou seu descontentamento com o que ele percebia como um complô para tirá-lo da banda, especialmente com base em diferenças criativas e filosóficas.

O próprio Renato Russo, em entrevistas posteriores, expressou respeito por Rocha e reconheceu suas contribuições à banda, apesar das diferenças. No entanto, a saída de Rocha foi uma combinação de diferenças criativas, problemas pessoais e questões de comprometimento que, em última análise, levaram à sua exclusão da Legião Urbana.

Após sua saída, Renato Rocha enfrentou uma vida marcada por dificuldades, incluindo dependência química e problemas financeiros. Ele faleceu em 2015, e seu legado na música brasileira é lembrado tanto por suas contribuições significativas quanto pelas controvérsias que cercaram sua saída da Legião Urbana.

Conclusão: Injustiça ou Divergências Criativas?

Responder à pergunta se Renato Rocha foi injustiçado ou não é uma tarefa complexa. Por um lado, suas contribuições para a Legião Urbana foram significativas e seu estilo de baixo, muito presente, ajudou a definir o som da banda em seus primeiros álbuns. Por outro lado, as diferenças criativas e as questões pessoais que surgiram durante o período de gravação de “As Quatro Estações” foram determinantes para sua saída.

É importante considerar que, em qualquer grupo criativo, diferenças filosóficas e pessoais podem levar a conflitos e, por vezes, a decisões difíceis. A Legião Urbana, como qualquer banda, enfrentou desafios internos que influenciaram seu percurso. Renato Rocha, com sua abordagem mais punk e focada no palco, pode ter sido uma vítima das circunstâncias e das diferenças entre os membros da banda.

Seu legado na música brasileira é indiscutível, e a sua saída da Legião Urbana, embora controversa, faz parte de uma história rica e complexa que continua a fascinar e a intrigar os fãs. Como sempre, a história é feita de múltiplas perspectivas e é essencial considerar todos os lados para obter uma visão mais completa dos eventos.

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