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Uns e Outros: A Jornada da Banda Carioca que Enfrentou Críticas e Superou Desafios

 

Em 1989, a cena do rock brasileiro estava em uma encruzilhada. A imprensa se perguntava se o auge da geração rock dos anos 80 havia chegado ao fim. Havia uma sensação de estagnação, como se novas bandas não conseguissem renovar a cena. Contudo, no final daquela década, surgiram novos nomes e uma banda carioca, a Uns e Outros, rapidamente se destacou no cenário musical. Entre 1989 e 1990, essa banda chegou ao topo das paradas brasileiras, fazendo com que muitos acreditassem que ela representava a nova geração do rock nacional.

No entanto, o sucesso da banda foi efêmero. A trajetória do Uns e Outros foi marcada por polêmicas e desafios significativos. A crítica acusou a banda de copiar a Legião Urbana, gerando uma famosa “treta” com Renato Russo. Além disso, surgiram reclamações de que a banda era boicotada por não pertencer à zona sul do Rio de Janeiro. Então, você pode se perguntar: que fim levou a banda Uns e Outros?

Apesar das adversidades, a banda continua lançando novos trabalhos e mantém uma base fiel de fãs. Nesta análise, exploraremos a trajetória da banda, desde suas origens até os desafios enfrentados, e como ela conseguiu se manter relevante ao longo dos anos.

A Ascensão do Uns e Outros

O Uns e Outros surgiu no início dos anos 80, embora tenha alcançado sucesso apenas no final da década. A história da banda começa na Ilha do Governador, um bairro na Zona Norte do Rio de Janeiro. Marcelo Ayena, ainda adolescente na época, vinha de uma família musical. Seu avô era um multi-instrumentista e seu pai tinha uma vasta coleção de discos de MPB e rock brasileiro dos anos 70. Essa influência musical foi crucial para sua formação como compositor.

A motivação para compor surgiu quando o pai de Marcelo o desafiou a se dedicar à escrita de letras. Ele o incentivou a ouvir artistas como Milton Nascimento e Tim Maia, e a começar a ler literatura para aprimorar suas habilidades. Marcelo começou a estudar filosofia e a escrever letras, uma experiência que moldou seu estilo musical.

No início dos anos 80, Marcelo começou a se envolver em bandas locais, mas essas formações não prosperaram. Em 1984, ele se juntou ao baixista C e mais tarde conheceu o guitarrista Nilo Nunes e o baterista Ronaldo. A banda passou por várias mudanças de formação antes de se consolidar. O nome “Uns e Outros” surgiu de uma referência feita por um conhecido, que descrevia a banda como “uns e outros” quando eles frequentavam bares na Ilha do Governador. Eles acharam o nome adequado e decidiram adotá-lo.

Desafios e Conquistas

O Uns e Outros enfrentou vários obstáculos em sua jornada para o sucesso. A distância da zona sul do Rio de Janeiro, o epicentro da cena musical, dificultava o acesso às gravadoras e ao networking necessário para o sucesso. A zona sul era o centro cultural e artístico do Rio, onde bandas como Blitz e Barão Vermelho prosperavam. Além disso, a banda vinha de famílias com condições financeiras limitadas, o que dificultava a compra de equipamentos e a participação em eventos musicais importantes.

Apesar dessas dificuldades, o Uns e Outros começou a tocar em algumas casas de shows renomadas, como Titanic e Mistura Fina. Em 1986, a banda participou de um concurso promovido pela gravadora Poligran, o “Banda Contra Banda”, que selecionou as melhores bandas para um disco compilatório. O Uns e Outros foi incluído no LP, e a faixa “Dois Gumes” começou a ganhar alguma visibilidade, especialmente na Rádio Fluminense.

No entanto, a banda enfrentou um grande contratempo quando a Poligran não promoveu adequadamente o disco, e o Uns e Outros acabou sendo mal distribuído. O disco não conseguiu projetar a banda nacionalmente, e a banda lutou para superar esse obstáculo. Enquanto isso, outras bandas estavam em ascensão, como Titãs e Legião Urbana, e o Uns e Outros quase se viu à beira do fim.

A Virada

Em um momento decisivo, o Uns e Outros decidiu romper com a Poligran. Em uma tentativa de confrontar a gravadora, Marcelo Ayena e C foram até a sede da empresa, deixando um “cheiro agradável” na sala de um dos executivos. Apesar dessa ousadia, a gravadora não ofereceu a resposta desejada e a banda optou por sair.

O sucesso finalmente chegou quando a banda assinou com a CBS, graças à recomendação de Bruno Gouveia, do Biquíni Cavadão. A banda enviou uma demo para a CBS, e a sorte estava ao seu lado. O executivo que recebeu a demo foi Marcelo Castelo Branco, que havia mudado de gravadora. Ignorando o episódio dos “cocôs de cachorro”, ele contratou a banda e trouxe Marcelo Sussekind, do Erva Doce, para produzir o segundo álbum homônimo do Uns e Outros.

O novo álbum tinha uma pegada pós-punk com influência de bandas como The Cure, mas com a guitarra pesada de Nilo Nunes. Marcelo Ayena afirmou em uma entrevista que colocaram todo o ódio e frustração nas músicas desse disco. Em 1989, a canção “Carta aos Missionários” foi um sucesso, tocando nas rádios e na televisão, e a banda apareceu em programas como o da Xuxa.

Controvérsias e Críticas

No entanto, o sucesso trouxe consigo uma série de críticas. Renato Russo e a Legião Urbana tornaram-se alvos frequentes das críticas do Uns e Outros. Em uma entrevista, Russo expressou seu descontentamento com a semelhança entre o trabalho de sua banda e o Uns e Outros, acusando a banda de copiar suas letras e estilo. Essa crítica provocou uma série de respostas da banda, que se sentiu injustamente comparada e atacada.

A crítica musical foi dura com o Uns e Outros, acusando-os de letras fracas e de seguir a linha da Legião Urbana. A banda recebeu críticas negativas por seu estilo e postura de palco, que eram considerados por alguns como uma imitação de Renato Russo. Apesar disso, o Uns e Outros conquistou uma base sólida de fãs e foi eleito a revelação do ano pela revista Bis.

Desafios e Retorno

O terceiro álbum da banda, “A Terceira Onda”, lançado em 1990, não conseguiu repetir o sucesso do álbum anterior. A crítica foi severa, acusando a banda de oportunismo e falta de originalidade. Apesar disso, o Uns e Outros continuou a se apresentar e a gravar novos trabalhos, incluindo “Notícias do Leste” e “Canção em Volta do Fogo”.

No início dos anos 90, a banda enfrentou uma “tempestade perfeita” com a ascensão de novos ritmos, como o axé e o sertanejo, e a chegada de novas bandas. O Uns e Outros tentou lançar um trabalho independente, mas enfrentou dificuldades financeiras e logísticas. Em 1993, Ronaldo saiu da banda, e os shows tornaram-se escassos.

A banda fez uma pausa em 1996 e retornou em 1997. Em 2000, assinaram com a Sony Music e lançaram “Tão Longe do Fim” em 2002, que incluía regravações acústicas a pedido dos fãs. Apesar de um ritmo mais lento, a banda continuou ativa, lançando “Canções de Amor e Morte” em 2006 e um disco ao vivo em 2015.

O Legado da Banda

Em 2020, a formação da banda incluía Marcelo Ayena, Nilo Nunes, Bruno Baiano e Gu. Nilo Nunes saiu em 2021 e foi substituído por Raul Dias. Marcelo Ayena é o único membro original restante. Os últimos singles lançados foram “Balada da Redenção” e “O Idiota”, ambos em 2022.

Marcelo Ayena, em uma entrevista, revelou que o motivo original para formar a banda era mais pessoal do que profissional: “Eu esperava pegar umas garotas e tomar umas cervejas de graça.” Mais de 30 anos depois, ele se considera no lucro, pois conseguiu alcançar seus objetivos iniciais e ainda permanece ativo na música.

Embora o Uns e Outros tenha enfrentado muitas adversidades, incluindo críticas severas e mudanças de formação, a banda demonstrou uma resiliência impressionante. Sua trajetória é um testemunho da perseverança e da paixão pela música, sobrevivendo a todas as altas e baixas do cenário musical.

Então, que fim levou a banda Uns e Outros? A resposta é simples: apesar dos desafios, eles continuam a fazer música e a manter uma base fiel de fãs. Sua jornada é uma prova da capacidade de uma banda de se reinventar e permanecer relevante, mesmo diante das dificuldades.

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