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WIU e a revolução do trap nacional com 808 Club

WIU retorna ao trap com 808 Club, uma mixtape cinematográfica que capta a intensidade da noite e reafirma sua autonomia artística.

WIU sempre foi um artista difícil de rotular. Desde o início de sua carreira, ele transitou por diferentes estilos sem jamais perder sua essência. Se em Vagabundo de Luxo ele flertou com reggaeton e piseiro, agora, em 808 Club, o rapper volta às suas raízes no trap, entregando um projeto que soa tanto como uma celebração quanto como uma afirmação de sua identidade artística.

Lançada na última quinta-feira (30), a mixtape não se limita a ser apenas um conjunto de músicas. Ela é um manifesto de liberdade criativa e um mergulho na energia pulsante da noite de Fortaleza, capturando sua intensidade, euforia e vulnerabilidade.

O título 808 Club não é por acaso. O nome faz referência ao lendário sintetizador Roland TR-808, peça-chave na evolução do hip-hop e, posteriormente, na consolidação do trap. Seu icônico grave subaquático transformou a maneira como os produtores constroem batidas, e WIU faz questão de colocar essa sonoridade como espinha dorsal do projeto.

“Chamamos de 808 o grave que utilizamos no trap, aquela frequência de subgrave que faz tudo tremer”, explica WIU. Esse elemento se torna a força motriz do disco, moldando um ambiente sonoro imersivo que traduz a intensidade das festas e do lifestyle noturno.

WIU e o trap: uma volta às origens

WIU nunca teve medo de experimentar. Seus projetos anteriores frequentemente carregavam um viés romântico e exploravam diferentes gêneros. Agora, no entanto, o rapper faz um retorno ao estilo que sempre o cativou.

“Assim como todos os projetos que fiz na minha vida, eu quero me divertir e encontrar um propósito. Eu gosto de pular em todos os gêneros, mas é o trap que me cativa”, diz ele. Essa volta às origens não é apenas um capricho momentâneo, mas sim um passo estratégico e artístico, um movimento de reafirmação de sua narrativa.

Para WIU, 808 Club não é apenas um projeto musical, mas uma declaração de controle criativo. Ao longo dos anos, ele se consolidou como um artista capaz de transitar entre diferentes estilos sem comprometer sua autenticidade. Aqui, ele não está apenas brincando com novas sonoridades — ele está reafirmando que o trap sempre foi o núcleo de sua identidade musical.

A noite como personagem principal

Se há um elemento que permeia toda a mixtape, esse elemento é a noite. Mais do que um cenário, ela se torna uma personagem dentro do projeto, representando tanto a euforia quanto a vulnerabilidade.

“A noite traz uma vulnerabilidade. Todo mundo está mais sensível. Tem álcool, outras substâncias, isso deixa as pessoas mais vulneráveis”, reflete WIU. Esse conceito se manifesta não apenas nas letras, mas também na construção sonora do projeto. A forma como as batidas ressoam, o uso dos graves e os sintetizadores etéreos criam um ambiente que transporta o ouvinte para um espaço onde as emoções são amplificadas.

Diferente de um álbum convencional, que geralmente segue uma narrativa linear, 808 Club se estrutura como uma coletânea de momentos distintos. Cada faixa tem um universo próprio, funcionando quase como um curta-metragem sonoro dentro de um mosaico maior.

“Minha produção tá bem cinematográfica pra trazer o ouvinte numa imersão. O rap tem muitos clichês atualmente, mas percebi que eles são importantes para o gênero. Porém, eu sempre busco um jeito próprio para falar de temas que todo mundo vive”, afirma WIU.

Essa abordagem dá ao projeto uma flexibilidade que o diferencia de outros lançamentos do cenário nacional. WIU não apenas adota os códigos do trap, mas os molda de uma maneira que reflete sua própria visão artística.

Colaborações que elevam a mixtape

Se Vagabundo de Luxo foi um projeto sem participações, 808 Club segue pelo caminho oposto. WIU reuniu uma seleção de artistas que não apenas complementam sua visão musical, mas também elevam a profundidade do projeto. Entre os convidados estão Lil Mosey, Yunk Vino, Japa, Alee e Brandão — nomes que dialogam diretamente com seu estilo e ajudam a expandir os horizontes do disco.

A curadoria dos feats foi meticulosa. WIU não escolheu nomes aleatoriamente ou apenas por popularidade, mas sim pensando em como cada artista poderia agregar algo à vibe da mixtape.

“O Japa foi um convidado até desafiador porque ele não participa de muitas músicas e coloquei ele em algo diferente do que ele faz. Já o Lil Mosey, eu sou fã há muito tempo. Segui ele nas redes sociais, ele seguiu de volta e começamos a trocar ideia. Fluiu muito rápido, expliquei todo o som e a letra, e ele curtiu”, conta WIU.

Essa abordagem estratégica nas colaborações reflete sua atenção aos detalhes e sua preocupação em criar um projeto coeso, onde cada peça tem um papel importante na construção da experiência.

Autenticidade acima de tudo

Outro ponto que diferencia 808 Club de seus projetos anteriores é a abordagem mais crua e visceral na performance vocal de WIU. O rapper decidiu explorar suas rimas sem o uso excessivo de autotune, trazendo uma entrega mais direta e autêntica.

“Eu explorei minha criatividade através das rimas, sem autotune. Minha ideia foi criar um disco de rap, então eu explorei a minha voz, as entonações. Muita gente que ouviu esse disco disse que eu deixei o WIU das antigas orgulhoso, que eu coloquei toda a minha bagagem e experiências nesse disco”, revela.

Esse processo de reconexão com suas raízes, tanto no flow quanto na temática, mostra um WIU mais confiante e confortável com sua identidade artística.

O impacto de 808 Club

Lançar um projeto como 808 Club não é apenas um marco na carreira de WIU, mas também um reflexo da evolução do trap no Brasil. O gênero, que já foi visto como um nicho dentro do rap, hoje domina as paradas e influencia uma nova geração de artistas.

WIU se coloca na linha de frente dessa revolução, não apenas seguindo tendências, mas ajudando a moldá-las. Seu novo trabalho solidifica sua posição como um dos nomes mais inovadores do trap nacional e demonstra que ele está longe de esgotar seu potencial criativo.

“Esse disco representa a minha autonomia criativa. Eu faço o que quero na carreira e consigo mostrar que sei desenrolar em qualquer coisa. Esse projeto é completamente a minha essência”, finaliza WIU.

Com 808 Club, WIU não apenas reafirma seu domínio sobre o trap, mas prova que sua jornada artística é guiada por uma busca incansável por autenticidade e evolução.