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Zero: A História do Grupo que Desafiou o Rock dos 80

Nos anos 80, o cenário musical estava completamente voltado para o rock. O gosto do público, a atenção da indústria e o apoio da mídia criaram um ambiente fértil para o gênero. Muitas bandas surgiram e desapareceram rapidamente, impulsionadas pelo acesso a drogas, sexo, fama e, em alguns casos, dinheiro. Apesar da efemeridade de muitas dessas formações, houve um grupo que, ao alcançar o auge, decidiu seguir um caminho contrário: interromper suas atividades para evitar a armadilha da fama efêmera. Esse grupo foi o Zero, uma banda que se tornou uma sensação passageira, marcando sua presença com quatro hits nas rádios nacionais. Neste artigo, vamos explorar a trajetória e o legado do Zero, revelando como a banda ainda existe e qual o papel de sua figura central, Guilherme Isnard.

O Zero ganhou destaque nos comentários do vídeo anterior, onde discute os Heróis da Resistência. Se ainda não assistiu, o link está aqui em cima. Agora, vamos resumir a história do Zero, explicar como a banda se desfez e, mais importante, contar como o grupo ainda está ativo graças a Guilherme Isnard. A história de Guilherme é fundamental para entender a trajetória do Zero. Filho de um pai francês, Guilherme, cujo nome original é Jean, abandonou rapidamente o nome francês devido à dificuldade de pronúncia no Brasil. Natural do Rio de Janeiro, Guilherme conheceu o renomado músico Lobão na escola, e juntos formaram a banda Grêmio Recreativo Nádegas Devagar.

Quando tinha entre 17 e 18 anos, Guilherme mudou-se para São Paulo para se dedicar à música. Uma amiga que trabalhava na revista Capricho sugeriu que ele tentasse cantar. Após discutir com o escritor Antônio Bivar, que conhecia a banda Voluntários da Pátria — uma banda com forte discurso socialista formada por Miguel Barella, que havia saído da Gang 90 —, Guilherme se viu em um impasse. A Voluntários da Pátria, que enfrentava divergências ideológicas e internas, acabou se desintegrando após uma briga entre Barella e o baterista Thomas Papo.

Guilherme, então sem banda, recebeu a ajuda de um conhecido, o dono de uma loja de discos em Pinheiros, São Paulo. Este o apresentou aos integrantes da banda Ultimato, formada por Fábio Golfetti, Nelson Brito, Beto Beer e Cláudio Tavares. A banda, que fazia um som de influência jazz, estava em busca de um novo vocalista e aceitou Guilherme para escrever letras. O grupo abandonou o nome Ultimato e adotou o nome Zero, que simbolizava um novo começo e era reconhecido em várias línguas.

Em 1983, o Zero fez seu primeiro show em Brasília, ao lado de bandas como Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial, que também estavam em seus estágios iniciais. A estreia em São Paulo aconteceu na famosa casa Radar Tantã, do André Grau. O grupo gravou uma demo com seis músicas, que chamou a atenção da Deck Discos. A gravadora os incluiu em um “pau de sebo”, uma competição onde várias bandas gravavam faixas, e aquelas que se destacaram ganharam um contrato. No “pau de sebo” estavam também os Intocáveis e o Capital Inicial.

O Zero assinou contrato com a CBS em 1985 e lançou um compacto. Influenciados por bandas como King Crimson e Talking Heads, o grupo lançou um mini LP, que atraiu tanto os góticos, conhecidos como “darks”, quanto os New Romantics, uma vertente da New Wave. O sucesso veio com a canção “Agora Eu Sei”, que teve a colaboração de Paulo Ricardo do RPM, embora na época o RPM ainda não fosse amplamente conhecido. Paulo Ricardo, ao ouvir a música, sugeriu gravar com o Zero. A presença de sua voz ajudou a banda a ganhar visibilidade nas rádios, já em meio à crescente popularidade do RPM.

Entretanto, a associação com Paulo Ricardo criou um problema para o Zero. Quando a banda era convidada para programas de TV, frequentemente surgiam perguntas sobre o paradeiro de Paulo Ricardo, o que gerava situações constrangedoras. A banda se viu em uma posição difícil, tendo que explicar constantemente que Paulo Ricardo não fazia parte do grupo. Apesar disso, o Zero conseguiu estabelecer sua identidade com o sucesso de “Formosa” e ganhou um disco de ouro pelo LP “Passos no Escuro”, vendendo mais de 100 mil cópias.

O segundo LP, “Carne Humana”, lançado em 1987, contou com dois hits: “Quimeras” e “A Luta”. Nesse mesmo ano, o Zero abriu para Tina Turner no Maracanã, um evento que não saiu conforme o esperado. A banda enfrentou vaias e falta de estrutura adequada, o que gerou um choque na equipe e contribuiu para a decisão de Guilherme de interromper as atividades da banda.

Guilherme, abalado pelo sucesso e pela fama, decidiu dar um tempo no Zero. Em uma entrevista recente à CBN, ele revelou sentir-se perdido e sobrecarregado pela carreira solitária e pela pressão da fama. Para recuperar a sanidade, Guilherme tomou a decisão de raspar a cabeça e adotar uma aparência mais simples, usando óculos falsos para desviar a atenção. Em uma entrevista ao portal UAI, ele comentou sobre a necessidade de refletir se realmente precisava da fama para ser feliz, ressaltando que não havia treinamento ou preparação suficiente para lidar com o sucesso.

A pausa da banda durou até 1992, quando Guilherme, após um hiato de cinco anos, fez uma apresentação em homenagem ao sambista Luiz Antônio. Com a pressão dos fãs, Guilherme decidiu reunir os antigos membros e celebrar o retorno do Zero. Desde então, o Zero continuou ativo, lançando discos e enfrentando mudanças de formação. Em 2000, lançaram o álbum “Eletroacústico”. Apesar de algumas divergências internas e uma briga pública com Paulo Ricardo em 2019, quando Paulo apresentou uma versão nova de “Agora Eu Sei” sem a autorização de Guilherme, a banda manteve-se relevante.

O Zero, que ainda existe, é um exemplo de como uma pausa estratégica pode permitir a uma banda continuar sua trajetória. Se não tivesse sido interrompida, a banda poderia ter enfrentado um fim definitivo. A história do Zero é uma prova de que a sabedoria de dar um tempo pode salvar uma carreira e manter o grupo vivo por mais tempo.



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