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Village People: A Saga Surreal de Disco, Política e Nostalgia

 Explore a história surreal do Village People, desde suas raízes na cultura gay dos anos 70 até sua inesperada associação com Donald Trump e o renascimento da disco music

Muitas pessoas cresceram ouvindo as músicas icônicas do Village People, mas para Jonathan Belolo, a experiência foi literalmente pessoal. Seu pai, Henri Belolo, foi um dos co-fundadores do grupo de discoteca em 1977, e o jovem Jonathan estava imerso na história da banda desde cedo, chegando até a subir no palco com eles quando criança. No entanto, em 19 de janeiro de 2025, enquanto observava de trás do palco na Capitol One Arena em Washington, D.C., Jonathan testemunhou uma das cenas mais surreais da história do Village People. Enquanto a versão atual da banda executava seu clássico “Y.M.C.A.”, eles foram acompanhados no palco por seu fã mais proeminente: Donald Trump, a poucas horas de assumir o cargo presidencial pela segunda vez.

 

“Foi completamente surreal, tipo, ‘O que está acontecendo?’”, disse Belolo, cuja empresa familiar, Can’t Stop Productions, supervisiona a marca, a imagem e os direitos musicais do Village People. “Ver uma personalidade tão grande, quer você goste ou odeie, dançando e se divertindo com nossa música foi algo realmente estranho de se ver.”

 

A cena foi, sem dúvida, uma das mais bizarras da história da música pop. Trump, vestido em seu traje característico, virou-se para Victor Willis — o único membro original remanescente da formação clássica dos anos 70, ainda usando sua icônica fantasia de policial — e comentou sobre a longevidade do grupo. “Ele me disse que percebeu que estou no grupo há um bom tempo”, relembrou Willis, que também é creditado como o principal compositor de “Y.M.C.A.”.

Para muitos espectadores naquela noite, a visão de um presidente eleito dançando no palco com uma banda composta por homens vestidos como policiais, nativo americano, trabalhador da construção civil, soldado, cowboy e motociclista (ou “homem de couro”) foi, no mínimo, inesperada. Fundado há quase 50 anos por dois produtores franceses, o Village People era o epítome de uma banda de novidades, destinada a desaparecer rapidamente após o fim da era disco. No entanto, em 2025, lá estavam eles, ou pelo menos uma versão deles, se apresentando para uma multidão de apoiadores de Trump que abraçaram o grupo como um símbolo de sua própria identidade cultural.

 As Raízes do Village People: Uma Celebração da Cultura Gay  

A história do Village People começa no final dos anos 70, em meio à efervescência da cultura gay em Nova York. O grupo foi concebido por Jacques Morali, um produtor musical francês que, ao visitar clubes como o Anvil, se inspirou na diversidade e na energia da cena gay. Morali, que era abertamente gay, viu uma oportunidade de criar uma banda que representasse a experiência gay de forma alegre e celebratória. Junto com seu parceiro de negócios, Henri Belolo, ele montou o Village People, uma banda que combinava música disco com personagens arquétipos que refletiam a cultura gay da época.

“Era um álbum conceitual muito específico sobre a vida gay, sobre valores LGBTQ”, explicou Jonathan Belolo. “A letra era sobre levantar as mãos e ser quem você é à luz do dia. Henry não era gay, mas ele amava a música e disse que todas as melhores músicas tocavam nos clubes gays naquela época.”

O primeiro álbum do Village People, lançado em 1977, foi um sucesso instantâneo nos clubes, mas foi com o lançamento de “Y.M.C.A.” em 1978 que o grupo alcançou o status de fenômeno global. A música, que originalmente celebrava a Young Men ‘s Christian Association (Associação Cristã de Moços), rapidamente se tornou um hino não apenas para a comunidade gay, mas para todos que buscavam diversão e liberdade.

 A Ascensão e Queda do Village People  

No auge de sua fama, o Village People era uma força cultural inegável. Eles estrelaram um filme, *Can’t Stop the Music* (1980), fizeram a capa da *Rolling Stone* e se apresentaram em todo o mundo. No entanto, como muitas bandas da era disco, o Village People enfrentou um declínio rápido após o fim da década de 70. A reação contra a disco music, simbolizada pelo infame evento “Disco Demolition Night” em 1979, marcou o fim de uma era.

Apesar disso, o Village People nunca desapareceu completamente. Nos anos 80 e 90, o grupo continuou a se apresentar em casamentos, eventos corporativos e festivais, mantendo viva a chama da nostalgia disco. No entanto, foi apenas no final dos anos 2000 que o Village People voltou aos holofotes, graças a uma série de batalhas legais envolvendo direitos autorais e a marca registrada do grupo.

 A Batalha Legal e o Renascimento do Village People  

Victor Willis, o vocalista original do grupo, entrou em uma batalha legal para recuperar os direitos autorais de suas músicas, incluindo “Y.M.C.A.”. Após anos de disputas, Willis conseguiu reaver os direitos sobre suas composições, o que levou a uma divisão no grupo. Enquanto Willis formou uma nova versão do Village People, os membros remanescentes continuaram a se apresentar sob o nome “Kings of Disco”.

Essa divisão, no entanto, não impediu que o Village People continuasse a ser uma força cultural. Em 2020, o grupo ganhou nova relevância quando Donald Trump começou a usar “Y.M.C.A.” em seus comícios políticos. A música, que já era um hino de celebração, foi apropriada por um movimento político que muitos fãs do grupo não esperavam.

 O Village People e Donald Trump: Uma Associação Surreal  

A associação do Village People com Donald Trump é, sem dúvida, um dos capítulos mais surreais da história da banda. Enquanto alguns membros do grupo, como Victor Willis, viram a oportunidade de se apresentar na inauguração presidencial como uma honra, outros, como os ex-membros que formaram os Kings of Disco, se distanciaram da política de Trump.

“Nós nunca nos apresentaríamos em nenhum comício político ou inauguração”, disse William Whitefield, membro dos Kings of Disco. “O Village People sempre foi sobre diversão e celebração, não sobre política.”

No entanto, para Jonathan Belolo, a apresentação na inauguração foi um momento de celebração da cultura americana, independentemente das divisões políticas. “Agora que há uma transição de poder, me sinto confortável com isso”, disse ele. “Isso não significa que endossamos a política. Muito disso é profundamente contrário ao que eu acredito e ao que a banda acredita.”

 O Futuro do Village People  

Apesar das controvérsias, o Village People continua a ser uma força cultural. Com planos para um musical, um documentário e até um videogame, o grupo está prestes a experimentar um novo renascimento. Enquanto isso, Victor Willis está trabalhando em um novo álbum do Village People, que deve ser lançado em breve.

“Deve estar tudo bem”, disse Willis sobre o futuro do grupo. “Se algo der errado com Trump ou o que ele está fazendo, falaremos sobre isso. Não nos arrependemos de nos apresentarmos para a inauguração. Essa foi a maior coisa que a Village People já fez.”

No final das contas, a história do Village People é uma prova do poder duradouro da música para transcender barreiras culturais e políticas. Seja como um hino gay, uma trilha sonora para comícios políticos ou uma lembrança nostálgica da era disco, o Village People continua a ser um fenômeno cultural que desafia categorizações simples. E, como Jonathan Belolo disse, “agora eu realmente espero que o novo presidente não seja o fim da democracia na América.”