Raul Seixas, o icônico “Maluco Beleza” do rock brasileiro, viveu uma vida repleta de amores, desilusões e muita música. Uma figura marcante nesse enredo foi Edith Wisner, a primeira esposa do cantor, que desempenhou um papel crucial em seu início de carreira. Este artigo explora a história desse relacionamento, desde o encontro inicial até o doloroso término, marcado pelas armadilhas do sucesso.
O Encontro Inesperado
A história começa em meados dos anos 60, um período de efervescência cultural e musical em Salvador. Edith, uma americana de olhos azuis e filha de um pastor protestante, morava na Praia de Amaralina. Raul Seixas, já apaixonado pelo rock’n’roll, frequentava círculos de americanos devido à proximidade do consulado e à presença de trabalhadores da refinaria de Mataripe, o que lhe proporcionou acesso a discos de Elvis Presley, Chuck Berry e outros ícones do rock.
Foi numa dessas festas típicas da juventude soteropolitana que Raul conheceu Edith. Inicialmente, confundindo-a com sua irmã Ester, Raul começou a flertar. No entanto, logo percebeu que estava apaixonado por Edith, dando início a uma história de amor repleta de paixão e desafios.
O Romance e a Primeira Música
Raul, já à frente de sua banda Os Panteras, compôs uma canção dedicada a Edith, celebrando seu amor pelos “olhos azuis” da amada. Embora essa música nunca tenha sido oficialmente gravada, uma versão caseira apresentada por seu irmão, Plínio Seixas, está disponível no YouTube, oferecendo um vislumbre do jovem Raul romântico.
Os Desafios do Sucesso
Com o sucesso crescente de Os Panteras, Raul e Edith enfrentaram a resistência do pai dela, que via os músicos como figuras marginais. Em uma medida extrema, Edith foi enviada de volta aos Estados Unidos para estudar. Durante esse período, o casal manteve o romance vivo através de cartas diárias, totalizando 365 ao longo de um ano. Essa dedicação mútua é documentada por JB Medeiros em seu livro “Raul Seixas: Não Diga que a Canção Está Perdida”.
O Reencontro e o Casamento
Determinado a provar seu valor, Raul deixou a banda e se matriculou no curso de Direito, uma decisão que, embora breve, ajudou a convencer o sogro a permitir o casamento. Em 28 de junho de 1967, no dia em que completou 22 anos, Raul e Edith se casaram. Mesmo com o casamento, Raul não abandonou a música. Logo após, o casal mudou-se para o Rio de Janeiro a convite de Jerry Adriani, um ídolo da Jovem Guarda, onde Raul teve a oportunidade de abrir shows e ganhar visibilidade.
Lua de Mel na Estrada
A vida no Rio não foi fácil. Raul, Edith e Os Panteras enfrentaram dificuldades financeiras. Durante uma turnê com Jerry Adriani, o casal transformou a lua de mel numa viagem de Kombi pelo interior do Brasil, demonstrando a determinação e a paixão que ambos tinham pela música e pela vida em comum.
Ascensão e Problemas
No início dos anos 70, Raul foi contratado como produtor musical pela gravadora CBS, o que trouxe estabilidade financeira ao casal. Em novembro de 1970, nasceu Simone, a primeira filha de Raul e Edith, com Jerry Adriani como padrinho. No entanto, o sonho de Raul ainda era ser cantor. Em 1972, ele e Edith compuseram “Let Me Sing, Let Me Sing”, que projetou Raul como cantor e garantiu um contrato com a Philips.
A Sociedade Alternativa e os Conflitos
O envolvimento de Raul com o escritor Paulo Coelho marcou uma nova fase na sua carreira e vida pessoal. Juntos, eles criaram a famosa “Sociedade Alternativa”, influenciada pelas ideias de Aleister Crowley. Edith, com sua formação cristã ortodoxa, sentiu-se cada vez mais desconfortável com essas novas influências, além de lidar com as constantes ausências e escapadas de Raul.
A Traição e o Declínio do Casamento
A situação se agravou com o uso de drogas por Raul, um hábito que, segundo Jay Vaquer, guitarrista da banda de Raul, foi incentivado por Paulo Coelho. A chegada de Glória, irmã de Jay, na vida de Raul marcou o ponto de ruptura. O relacionamento extraconjugal, combinado com o estilo de vida errático de Raul, levou Edith a tomar uma decisão drástica.
O Fim de Um Capítulo
Cansada das traições e do ambiente tumultuado, Edith decidiu sair de cena. Vendeu o apartamento do casal no Leblon e mudou-se para Salvador com a filha, Simone. Este foi o fim de um capítulo importante na vida de Raul Seixas, mas marcou também o início de uma nova era para o cantor, que continuaria a deixar um legado indelével na música brasileira.
A história de Raul Seixas e Edith Wisner é um reflexo das complexidades do amor e das pressões do sucesso. Edith foi uma musa, companheira e um suporte fundamental nos primeiros anos de Raul. Seu impacto na vida do “Maluco Beleza” é inegável, mostrando que, por trás do ícone do rock, havia um homem profundamente humano e apaixonado.
A trajetória de Raul é marcada por altos e baixos, e a história com Edith é uma peça crucial desse mosaico. Apesar dos desafios, o amor que viveram deixou marcas profundas em suas vidas e, consequentemente, na música brasileira. Este capítulo da vida de Raul Seixas revela a intensidade de suas paixões e a complexidade das suas relações, contribuindo para a compreensão do artista e do homem por trás da lenda.