Na rica tapeçaria da música brasileira, poucos artistas têm a mesma aura enigmática e provocativa de Raul Seixas. Com suas letras carregadas de simbolismo e uma abordagem ousada à música, Raul conquistou um lugar especial na história da música nacional. Hoje, vamos explorar uma de suas obras mais intrigantes e icônicas: “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”. Lançada em 1976, esta canção se destaca não apenas por seu sucesso comercial, mas também pela complexidade de sua mensagem e pelas especulações que a cercam.
O Contexto da Parceria
Para entender completamente a importância de “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, é essencial considerar o contexto da colaboração entre Raul Seixas e Paulo Coelho. Ambos estavam imersos em uma fase criativa intensa e exploratória. Seixas, conhecido por seu estilo irreverente e sua visão crítica da sociedade, encontrou em Paulo Coelho um parceiro que compartilhava uma afinidade pela mística e pelo esotérico. Juntos, eles criaram um trabalho que refletia essa fusão única de influências culturais e espirituais.
Quando se fala de Raul Seixas, temos um prato cheio de polêmicas e citações misteriosas em torno das letras de suas músicas. Principalmente na fase em que tinha uma parceria com Paulo Coelho. Já analisamos outra misteriosa música dela aqui nesse canal.
Uma delas é a canção “Eu nasci a dez mil anos atrás”. Foi gravada em um disco compacto homônimo, no ano de 1976.
A letra de “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás” é uma colagem fascinante de eventos históricos, mitologia, lendas e passagens bíblicas.
Na letra da canção, o autor mistura fatos históricos, com mitologia, lendas e até passagens bíblicas. Onde o narrador, que é um senhor idoso tocando violão na rua, dá testemunho de ter vivido todos esses momentos.
A obra fez tanto sucesso, que rendeu a participação de Raul Seixas em dois programas Globo de Ouro, da Rede Globo, que era o programa que refletia a parada de sucesso da época.
O sucesso da música também rendeu a produção de um videoclipe para o fantástico, fator de grande prestígio na época, pois rendia grande visualização ao artista no horário nobre de domingo.
Muitos se debruçaram sobre esse texto, tentando descobrir quem é o personagem que nasceu a dez mil anos atrás.
A escrita, há quem diga que ele fala da escrita. Que o narrador, está contando as histórias que leu nos livros.
A Linguagem, alguns dizem que se trata da linguagem, pois partes dessas histórias foram passadas pela tradição oral.
O Diabo, a maioria, diz que o personagem é o próprio Lúcifer, pois acompanha a humanidade desde a queda de Adão e Eva.
Na verdade, é uma homenagem a Elvis.
Mas na verdade a letra dessa música trata-se de uma homenagem ao ídolo de Raul Seixas, Elvis Presley. Seis anos antes, Elvis havia gravado uma canção chamada, “I was born about ten Thousand years ago”.
Como Raul Seixas gostava muito dessa canção, resolveu homenagear seu ídolo. Mas, a semelhança fica apenas na letra, já que o ritmo e a melodia são completamente diferentes. Na verdade a melodia é um Rock puxando para música country.
próprio Paulo Coelho, fala em entrevista para o Fantástico que a intenção de Raul era homenagear Elvis.
Porém, a semelhança da letra é parcial. A canção que Elvis gravou, é uma música Gospel, portando cita passagens bíblicas, testemunhadas por um indivíduo que diz ter nascido a dez mil anos.
Na letra de Raul Seixas e Paulo Coelho, são acrescentados fatos históricos, cenas da mitologia e até referências a lendas populares, como a do Conde Drácula. Na verdade, eles secularizam a música.Raul Seixas, admirador fervoroso de Elvis, decidiu prestar uma homenagem ao cantor americano ao criar uma versão própria da canção. A semelhança entre as letras é, de fato, notável, mas enquanto a versão de Elvis se inclina para o gospel e o contexto religioso, a de Seixas e Coelho adiciona uma camada de secularização ao incluir elementos históricos e mitológicos.
Seria essa música um plágio?
Não seria. Na verdade, a canção que Elvis gravou, foi escrita em 1925, por um compositor cristão chamado Kelly Harrel, e já havia caído em domínio público. Como pertence ao domínio público, é considerada somente fonte de inspiração.
Uma curiosidade sobre essa música, é que a frase “Eu nasci há dez mil anos atrás” é um pleonasmo. Tanto o verbo HÁ, quanto o ATRÁS, indica o passado. A frase correta poderia ser “Eu nasci há dez mil anos” somente. Mas temos a licença poética para adaptar a letra a melodia.
“Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás” é mais do que uma simples canção; é um testemunho da criatividade e da capacidade de Raul Seixas e Paulo Coelho de transcender barreiras culturais e temporais. A homenagem a Elvis Presley, a riqueza das referências e a profundidade da letra fazem desta obra um verdadeiro clássico. A complexidade da canção continua a inspirar debates e análises, provando que a arte, em sua essência, é um campo aberto à interpretação e à reflexão contínua.
Para uma compreensão mais aprofundada, você pode ouvir um podcast sobre o assunto, assistir ao documentário do Fantástico onde Paulo Coelho explica a origem da música, ou conferir a canção original de Elvis Presley. Além disso, o vídeo original gravado para o Fantástico oferece uma visão única da interpretação de Seixas e Coelho.
A riqueza e a profundidade de “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás” são um testemunho da genialidade de Raul Seixas e da colaboração frutífera com Paulo Coelho, e sua influência continua a reverberar na música e na cultura brasileira.
Se preferir, ouça um podcast sobre o assunto:
Veja o documentário do fantástico onde Paulo Coelho explica a origem dessa música:
Ouça a música original cantada por Elvis:
Por fim assista o vídeo original gravado para o Fantástico:
Sempre interpretei que quem nasceu a 10 mil anos atrás foi “a história”. Seja o relato ou o conto. Se você interpretar como um conceito, e não como um indivíduo, a música faz todo o sentido.