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Afonso Nigro Critica Monopólio das Rádios e o Consumo Musical no Brasil

A música brasileira, com sua rica diversidade e grande produção cultural, tem se tornado um ponto de discussão constante sobre o espaço e as possibilidades que os artistas têm de se expressar. Recentemente, o cantor Afonso Nigro, ex-integrante da boy band Dominó, levantou um debate importante sobre a falta de diversidade musical nas rádios brasileiras. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, Nigro fez críticas contundentes ao sistema atual de consumo de música no país, questionando se a liberdade de escolha do público está sendo realmente respeitada ou se estamos sendo forçados a consumir apenas o que é imposto pelo mercado e pelas grandes plataformas de rádio.

Nigro não hesitou em expor sua opinião sobre a situação das rádios brasileiras, apontando que, enquanto em outros países há uma verdadeira celebração da pluralidade musical, no Brasil predominam estilos musicais limitados. O cantor comparou a cena musical brasileira com a de outros locais, onde gêneros como rock, country, pop, eletrônico, rap, metal e reggae têm espaço nas rádios, permitindo que o público tenha acesso a um leque mais amplo de opções musicais. Ele questionou por que, no Brasil, o mercado parece estar “fechado” para estilos que não se encaixam nos moldes populares, deixando de lado a multiplicidade musical que caracteriza outras nações.

“Por que os outros estilos não conseguem chegar até a gente?”, perguntou Nigro em seu vídeo. A reflexão foi seguida por um comentário sobre a pouca variedade musical nas rádios e a falta de espaço para novos talentos em gêneros diferentes dos mais dominantes, como o sertanejo e o funk. Embora ele tenha deixado claro que respeita a popularidade desses estilos, sua crítica está mais voltada à imposição de um sistema que acaba limitando a liberdade de escolha do público brasileiro. “São estilos que se conectam com muita gente, e eu respeito isso. Mas o meu ponto é: por que os outros estilos, de maneira geral e de maneira escalada, não conseguem chegar mais até a gente?”

O cantor também destacou outro ponto relevante: o impacto das chamadas “fazendas de cliques”, ou fraudes virtuais que fabricam visualizações e reproduções de músicas de maneira artificial. Esse tipo de prática, que tem sido cada vez mais comum nas plataformas de streaming e redes sociais, pode inflar artificialmente a popularidade de músicas e artistas, distorcendo o real consumo e a preferência do público. Afonso Nigro levantou a questão: “Por que não temos novos Cazuzas, Renatos, Miltons, Djavans? Ou será que temos e eles não acontecem porque o sistema não deixa?” A provocação é clara, sugerindo que o verdadeiro talento e a riqueza musical de nosso país podem estar sendo ignorados ou abafados por um sistema que favorece outros interesses.

Em uma análise mais profunda sobre o impacto das rádios e do consumo de música, Nigro refletiu sobre o conceito de “padrão vibracional”, uma ideia defendida pelo filósofo Yuri Mocelin. Segundo Mocellin, a música tem o poder de moldar as nossas emoções, a nossa percepção do belo e do bom. “A música que escutamos vai determinando, vai moldando na gente, na cultura em geral, a qualidade do que é belo, do que é bom”, afirmou Nigro, citando o filósofo. Essa visão destaca o impacto das escolhas musicais na formação cultural e emocional dos indivíduos e da sociedade como um todo.

Diante disso, Nigro lançou um desafio aos seus seguidores: será que estamos realmente fazendo uma escolha consciente sobre o que ouvimos, ou estamos sendo manipulados por um sistema que nos apresenta uma oferta limitada? Ele sugere que as opções musicais disponibilizadas nas rádios e nas plataformas de streaming muitas vezes são determinadas por interesses comerciais, deixando de fora uma vasta gama de músicas e artistas que poderiam enriquecer a cultura musical do país.

A crítica de Afonso Nigro, portanto, não é apenas um desabafo sobre seu gosto pessoal ou sobre a música que ele gostaria de ouvir. Ela é uma constatação factual sobre um sistema que, segundo ele, limita as possibilidades musicais e impede o surgimento de novos ícones da música brasileira. Afonso questiona as estruturas que definem o gosto musical no Brasil e coloca em pauta a importância da liberdade de escolha e do respeito à diversidade musical.

Afonso Nigro iniciou sua carreira artística como ator ainda criança e, aos 14 anos, foi integrante do grupo musical Dominó, um dos maiores fenômenos da música pop brasileira dos anos 1980. Durante sua trajetória no grupo, ele conquistou diversos discos de ouro e platina, solidificando seu nome no cenário musical. Após deixar o Dominó, Afonso iniciou uma carreira solo, que também lhe trouxe sucesso, incluindo o disco Talvez Seja Amor, que recebeu um disco de ouro e teve grande destaque, especialmente com a versão em espanhol, “Puedo Ser”, que alcançou o 4º lugar na Billboard Latina.

Com a experiência adquirida ao longo de sua carreira, Nigro tem uma visão única sobre a evolução do mercado musical no Brasil, e sua crítica é um reflexo das mudanças que ele observa não só nas paradas de sucesso, mas também na maneira como a música está sendo consumida e distribuída no país. Ele acredita que o público brasileiro tem a capacidade e a vontade de consumir músicas mais variadas, mas que as ferramentas e os meios de comunicação não estão oferecendo as condições ideais para essa diversidade musical florescer.

Além disso, a reflexão de Nigro também toca na questão da indústria da música e das barreiras comerciais que limitam a popularização de gêneros menos populares nas rádios. A imposição de um modelo de consumo baseado em poucos estilos pode estar, de acordo com o cantor, dificultando a descoberta de novos artistas e o surgimento de novas tendências musicais no Brasil. Isso se reflete, inclusive, na produção musical, onde muitos músicos se veem limitados ao que está em alta, deixando de lado a experimentação e a inovação em prol de fórmulas mais seguras e rentáveis.

Essa crítica ao monopólio musical das rádios brasileiras e ao sistema de consumo imposto pelo mercado é um convite para refletir sobre a liberdade de escolha do público e sobre o papel das rádios e das plataformas de streaming na formação cultural de uma sociedade. Afinal, quando se trata de música, a diversidade é essencial para garantir que todos possam encontrar algo que ressoe com suas emoções e suas experiências.

Afonso Nigro, com sua provocação, nos convida a questionar: estamos realmente escolhendo o que ouvimos, ou estamos simplesmente consumindo o que nos é oferecido? E, mais importante ainda, será que o Brasil está perdendo grandes talentos e novas sonoridades por causa de um sistema que favorece o que é mais fácil de vender?