Descubra a fascinante história do Rei Momo, desde suas raízes na mitologia grega até sua consagração no Carnaval brasileiro.
O Carnaval é a época do ano mais esperada por muitas pessoas no Brasil. Trata-se de um período repleto de fantasias criativas e personagens pitorescas, como o Pierrot, Colombina e Arlequim.
Outra figura essencial no carnaval é o Rei Momo. Ano após ano, é escolhido, em um concurso público, o candidato mais animado para se tornar o monarca que vai “reger” os cinco dias de folia.
Mas qual a origem do Rei Momo?
Gordo, animado e irreverente, são as características do Rei Momo. Historicamente é o rei do Carnaval. A ele são entregues, simbolicamente, as chaves da cidade pelas mãos do prefeito.
Nesse momento está aberto o reinado da folia, onde Momo reina absoluto até a quarta-feira de cinzas, em todas as esferas da sociedade, já que ele próprio é a personificação do Estado”, é o que nos explica Augusto Neves, professor e doutor em história.
Origem do personagem mítico
Porém sua origem é bastante remota, remete ao tempo da Antiguidade Clássica, mais especificamente à mitologia grega. O Momo, originalmente, era uma deusa. Filha de Nix (divindade do sono); Essa figura, era a personificação do sarcasmo, reclamação e delírio, patrona dos poetas e escritores. Momo é intitulada a Deusa do Sarcasmo e do Delírio. Ela era representada usando uma máscara e um gorro com guizos e na mão, uma boneca. Essa mesma vivia zombando dos outros deuses e balançando guizos. Por suas atitudes, acabou sendo expulsa do Olimpo. Não sem motivo, claro.
Ainda antes da era cristã, gregos e romanos incorporaram essa figura mitológica a algumas de suas comemorações, principalmente as que envolviam sexo e bebida.
Na Grécia, registros históricos dão conta que os primeiros reis Momos de que se tem notícia desfilavam em festas de orgia por volta dos séculos 5 ou 4 a.C.
No geral, os gregos incorporaram a figura de Momo a algumas de suas comemorações, principalmente às festas de Dionísio, deus do vinho e da farra.
Geralmente, o escolhido era alguém gordinho e extrovertido – provavelmente vem daí a inspiração do carnaval brasileiro. Ele era gordo para simbolizar fartura e abundância.
Sobre a Mudança de Gênero de Momo
Não se sabe ao certo em que momento houve a mudança de gênero do personagem do feminino para o masculino. “As representações míticas sofrem transformações ao longo do tempo.
Talvez perante o contexto de um paradigma patriarcal, melhor seria um homem para representar as relações de poder”, explica Rúbia Lóssio, socióloga, escritora, folclorista e professora e membro da Organização Internacional de Arte Popular e Folclore (IOV).
O Rei Momo Moderno
No período moderno, o Rei Momo parece ter surgido em Espanha, sob a forma de um boneco que se queimava, como forma de suavizar um costume antigo mais brutal, simbolizando a morte de Jesus Cristo propiciadora da sua ressurreição.
Possui referência na literatura espanhola já no século XVI, na obra de 1553, “El Momo”. La moral y muy graciosa historia del Momo: compuesta en latín y trasladada al castellano por Agustín de Almacén. En Alcalá de Henares”.
A partir daí então, surgem várias historietas sobre este personagem burlesco. A novela picaresca espanhola La pícara Justina, publicada pela primeira vez em 1605 em Medina del Campo, alude ao Rei Momo, parodiando-o como Rei Mono, ou seja, Rei Macaco: “Ya guisa del rey Mono, hizo su trono”, e “Hizo de las capas un trono imperial, poniendo por respaldar dos desaforados cuernos, parecía rey Mono puramente.” Salas Barbadillo volta a recolher esta tradição e personagem em 1627, na sua obra Estafeta del rey Momo.
Na América Espanhola, esta figura aparece em 1888 no Carnaval de Barranquilla, na Colômbia, como vestígio do Rei Burlesco da Antiguidade, sob a forma de uma personagem alegre e foliona que substitui o antigo Rei Momo, a qual era coroada nos salões burros de Barranquilla.
Este concedia a licença que autorizava a desordem carnavalesca com bombos, pratos e maracas, parodiando o cerimonial solene dos ministros do Palácio que outrora saíam nos tempos coloniais à praça pública a ler os éditos dos vice-reis.
Os costumes de nomear o Rei Momo ainda continuam até os dias de hoje em Barranquilla, e o rei deve caracterizar-se pela sua permanente alegria e simpatia, estando encarregado de organizar o Desfile del Sur na calle 17 da cidade.
Pela mesma época o enterro do Rei Momo era festejado no Carnaval de Montevidéu, sendo-lhe dedicadas quadras, como esta de 1892: “El Rey Momo ya murió / lo llevamos a enterrar / envuelto en una mortaja / de ajo, pimienta y sal…” Esta figura substitui na abertura dos corsos carnavalescos o clássico espanhol Marqués de las Cabriolas.
O Rei Momo chega ao Brasil
No Brasil, o primeiro registro do Rei Momo no Brasil data de 1910, quando o palhaço Benjamim Oliveira representou o monarca em uma seção do Circo Spinelli.
Anos depois, no início da década de 1930, alguns redatores do periódico carioca A Noite criaram um boneco de papelão representando o personagem, assim como é conhecido hoje. Esse boneco foi criado por Edgard Pilar Drumond, também conhecido por Plamenta, cronista carnavalesco, juntamente com o jornalista Vasco Lima e outros jornalistas do jornal A Noite.
Foi do mesmo jornal que surgiu a origem de outro episódio do carnaval, a origem do samba.
E em 1933, os mesmos jornalistas decidiram que o rei deveria se tornar de carne e osso, devia ser alguém alegre, bonacheirão, bem falante e com cara de glutão, uma visão peculiar do Rei Momo e diversa da de carnavais como o de Nice, Nova Orleães e Colônia.
Elegeram o cronista Francisco Moraes Cardoso para a tarefa o cronista de turfe na redação do mesmo jornal, que prontamente concordou. Pedida a opinião ao maestro Silvio Piergili do Teatro Municipal sobre a indumentária do futuro rei, este, ao saber o físico do escolhido, não teve dúvidas em entregar a vestimenta do Duque de Mântua, personagem da ópera de Verdi, Rigoletto. E assim, entre os gritos de saudação de “Vive le Roi!” e “Evoé Momo!” de repórteres, linotipistas, contínuos e faxineiros, comandados por Pilar Drummond, nascia para o Rio de Janeiro o primeiro Rei Momo genuinamente carioca. Não é claro se os dois Reis Momos – o de papelão e o de carne e osso – chegaram a coexistir no mesmo Carnaval.
Moraes Cardoso foi coroado como rei do Carnaval por quase 15 anos, de 1934 a 1948. Até ao seu falecimento, participou dos desfiles carnavalescos onde era ovacionado com muitas serpentinas e confetes, além de sempre ser cumprimentado com um “Vive le Roi!” (Viva o Rei, em francês), tanto pelos amigos de redação quanto pelos foliões. A partir daí, a escolha do rei do Carnaval foi feita por entidades carnavalescas e jornalísticas, uma vez que a presença do rei havia virado tradição entre os foliões. Uma lei estadual de 1968 oficializou a eleição.
Posteriormente, começaram os primeiros concursos, organizados por entidades carnavalescas e jornalistas, por volta dos anos 50.
No Rio de Janeiro, em 1968, a eleição foi oficializada por lei estadual,. Em Pernambuco, a primeira votação para Rei Momo aconteceu em 1965 e desde então a tradição continua mais rica a cada ano.
Um grande reinado do imaginário popular
Como a “A sociedade é dinâmica e assume posicionamentos variados e diversos ao longo das temporalidades”. As palavras do professor Augusto explicam que durante séculos, a figura do Rei Momo passou por diversas modificações, de acordo com a visão de diferentes culturas e povos. “O que podemos encontrar hoje são similaridades, uma ideia central”.
A pesquisadora, Rúbia corrobora da mesma opinião, e completa: “As coisas são adaptadas e inventadas a partir da mistura do imaginário popular. Não existe uma origem exata é determinada para tudo”.
A mesma acredita que o sucesso do monarca se dá ao fato dele “burlar o cotidiano caótico dos cidadãos”. “Não importa se é gordo ou esbelto, o que não pode é perder a majestade”, complementa.
Rei Momo nos dias de hoje
Atualmente ainda existem concursos para a escolha do Rei Momo em vários estados do Brasil.
Para participar do certame é preciso ser muito simpático e esbanjar alegria, além de pesar no mínimo 120 quilos.
Esta última exigência vem sendo abandonada nos últimos anos, considerando-se os problemas de saúde causados pela obesidade.
Conte-nos o que você acha nos comentários! Gostaríamos de ouvir a sua opinião.
Olá, tudo bem?
Sou Paula e estou pesquisando sobre o maestro Silvio. Gostaria de saber onde consigo ler mais sobre a relação dele e a imagem do rei Momo, que você citou no texto.
Parabéns pelo trabalho!
Desde já, agradeço!
Olá, não encontrei referências a esse nome no material que pesquisei.
Qual o nome completo do Maestro Sílvio?