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Explorando “Abre-te Sésamo” de Raul Seixas: Análise e Curiosidades

 

O álbum “Abre-te Sésamo” de Raul Seixas, lançado em 1980, é uma obra rica em simbolismo e crítica social. Entre as faixas memoráveis, “Aluga-se” e “Rock das Aranhas” se destacam não apenas pela sua qualidade musical, mas também pelas histórias intrigantes e controversas que as cercam. Neste artigo, vamos explorar essas duas músicas, revelando curiosidades e contextos que ajudam a entender melhor a importância e o impacto dessas composições.

“Aluga-se”: Uma Crítica Aguda à Política Brasileira

A primeira faixa que vamos analisar é “Aluga-se”, uma música que, com sua sátira mordaz, critica a situação econômica e política do Brasil no início dos anos 80. A origem dessa canção é particularmente fascinante. Em uma manhã qualquer de 1980 no Rio de Janeiro, Raul Seixas estava folheando o jornal O Globo com sua quarta esposa, Kika Seixas. Foi então que ele se deparou com uma carta de um leitor com o título “Aluga-se O Brasil”. A ideia para a música surgiu imediatamente dessa leitura, refletindo uma crítica contundente à condução da política econômica do país.

O Brasil enfrentava, na época, uma crise econômica severa, com uma dívida externa crescente devido a sucessivos empréstimos e uma crise do petróleo que exacerbou a situação. O governo do General João Batista Figueiredo, que começou em 1979, lutava para controlar uma inflação galopante e evitar uma recessão. O ministro do Planejamento, Delfim Netto, era o responsável por enfrentar esses desafios, e sua gestão foi alvo de críticas, inclusive do seu antecessor Mário Henrique Simonsen.

Raul Seixas utilizou a música para expressar seu descontentamento com a situação econômica e política, sugerindo, de forma irônica, que a solução para os problemas do Brasil seria alugá-lo para outro país. A letra reflete um desejo de mudar radicalmente a situação, propondo uma solução absurda e satírica para um problema complexo.

Curiosamente, a música “Aluga-se” foi escrita em colaboração com Cláudio Roberto, um parceiro de longa data de Raul. Embora Kika Seixas tenha dado alguns palpites na letra, ela pediu para não ter seu nome creditado oficialmente, o que resulta em uma parceria reconhecida como de Raul Seixas e Cláudio Roberto. Essa escolha de palavras e a crítica embutida na canção chamaram a atenção não só do público, mas também da censura.

A Controvérsia e a Censura de “Rock das Aranhas”

A outra faixa relevante do álbum é “Rock das Aranhas”, uma canção que gerou bastante controvérsia devido ao seu conteúdo explícito. A música descreve uma cena em que um homem observa duas mulheres em um momento íntimo. Inicialmente, a música foi criada no sítio de Cláudio Roberto, no interior do Rio, e surgiu quase como uma brincadeira. No entanto, a canção acabou ganhando vida própria e se tornando um ponto de conflito com a censura.

Raul Seixas e Cláudio Roberto criaram “Rock das Aranhas” durante uma visita ao sítio de Roberto, e a música inicialmente não foi levada muito a sério. No entanto, a censura não compartilhou dessa visão descontraída. Em julho de 1980, a música recebeu o carimbo de “vetada” pela censura. A técnica de censura considerou a letra de “Rock das Aranhas” de baixo nível e imprópria, alegando que o objetivo da música era explorar o conteúdo sexual de forma explícita e vulgar.

Em uma entrevista, Raul Seixas expressou seu espanto com a decisão, especialmente considerando que a música “Aluga-se”, com sua crítica política contundente, havia sido aprovada. A censura alegou que “Rock das Aranhas” continha uma intenção explícita e pornográfica, comparando-a até mesmo com músicas de carnaval e sertanejas, que não foram alvo de críticas semelhantes.

Raul Seixas recorreu ao Conselho Superior de Censura em Brasília, argumentando que a música não deveria ser censurada apenas por seu conteúdo sexual. O parecer do Conselheiro Ricardo Albin, assinado em 31 de julho de 1980, liberou parcialmente a execução da música, mas com uma crítica severa à qualidade da letra. Albin afirmou que a canção tinha um nível de vulgaridade sem precedentes e questionou a qualidade da obra de um artista que já havia produzido material de maior calibre.

Impacto e Legado das Canções

O contexto político e social do Brasil durante a década de 80 fornece uma perspectiva crucial para entender a recepção dessas músicas. “Aluga-se” se tornou um hino de protesto contra a situação econômica do país, refletindo a frustração e o desejo de mudança da sociedade. A faixa, com sua crítica mordaz e seu tom irônico, capturou o espírito da época e se tornou um símbolo de resistência.

Por outro lado, “Rock das Aranhas” gerou uma discussão acalorada sobre censura e liberdade de expressão. A proibição da música e o subsequente lançamento com adesivos de censura aumentaram a curiosidade do público, o que, paradoxalmente, ajudou a promover a faixa. Raul Seixas usou a polêmica a seu favor, transformando a censura em uma ferramenta de marketing que impulsionou as vendas do álbum.

Reflexões Finais

O álbum “Abre-te Sésamo” é um exemplo brilhante do poder da música como forma de comentário social e político. As faixas “Aluga-se” e “Rock das Aranhas” não são apenas peças musicais memoráveis, mas também reflexões profundas sobre a sociedade brasileira dos anos 80. Através da crítica social e da provocação, Raul Seixas conseguiu expressar sua visão do mundo e desafiar as convenções da época.

As histórias por trás dessas músicas demonstram a complexidade do ambiente político e cultural do Brasil durante esse período. Ao explorar as nuances dessas faixas, podemos apreciar melhor o impacto duradouro de Raul Seixas e seu legado na música brasileira. Convidamos você a refletir sobre essas canções e compartilhar suas opiniões nos comentários. Até a próxima!

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