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Mosca na Sopa: Curiosidades e História

A música “Mosca na Sopa” de Raul Seixas, lançada no álbum Krig-Há, Bandolo! de 1973, é uma das canções mais emblemáticas do cantor. Além de seu ritmo cativante, a letra carrega uma profundidade que vai além do que aparenta à primeira vista. Vamos explorar algumas curiosidades e detalhes interessantes sobre essa música icônica.

A Letra Antes da Gravação

Curiosamente, a letra de “Mosca na Sopa” foi escrita muito antes da gravação do álbum Krig-Há, Bandolo! em 1973. A primeira gravação da música foi feita por Raul Seixas em um estúdio improvisado no apartamento de Jay Vaquer, um guitarrista que acompanhou Raul em parte de sua carreira. Vale lembrar que não devemos confundir Jay Vaquer com seu filho, que também é músico e segue em atividade no Brasil.

As Primeiras Gravações

Raul utilizou o estúdio caseiro de Jay Vaquer no Leblon para gravar várias de suas músicas antes de lançar seu primeiro álbum. Essas primeiras versões, incluindo “Mosca na Sopa”, são um tanto diferentes das que se tornaram conhecidas. Na versão original, por exemplo, Raul simulava um vômito durante a parte da música onde os instrumentos pausam e fica apenas a percussão. Isso foi inspirado por uma observação de Jay, como descrito por Carlos Minuano no livro Raul Seixas: Por Trás das Canções.

Influências e Parcerias

Antes de sua parceria quase inseparável com Paulo Coelho em 1972, Jay Vaquer teve uma grande influência em Raul. Jay, que viajou pela Europa e estudou psicologia, trouxe muitas ideias que Raul incorporou em suas músicas, como a história dos “dez por cento da cabeça” que aparece na letra de “Ouro de Tolo”.

A Censura e a Ditadura

Interessantemente, “Mosca na Sopa” passou pela censura da ditadura militar brasileira sem grandes problemas, assim como “Ouro de Tolo”. No parecer de aprovação da música, os censores fizeram observações curiosas, afirmando que a música não trazia comprometimento ou mensagem relevante, sendo apenas “estupidez e mau gosto”. Essa avaliação, no entanto, não impediu a liberação da música.

Mistura de Ritmos

Uma característica marcante de Raul Seixas era sua habilidade de misturar rock com ritmos e manifestações culturais brasileiras. Em “Mosca na Sopa”, Raul incorpora elementos afro-brasileiros, como capoeira e pontos de terreiros de umbanda e candomblé, com hard rock. O baterista Paulinho, do grupo Black Rio, toca berimbau nesta faixa, exemplificando essa fusão de estilos.

As “Irmãs Espirituais”

As vozes femininas que aparecem no coro de “Mosca na Sopa” são creditadas como “Spiritual Sisters Quintet” (Quinteto das Irmãs Espirituais). Existem duas versões sobre quem são essas mulheres. Uma versão, relatada por JB Medeiros, sugere que Raul convocou moças de um terreiro de umbanda, uma das quais teria incorporado uma entidade durante a gravação. Outra versão, dada pelo baixista Paulo César Barros, conta que Raul recrutou mulheres aleatoriamente nas ruas do Rio de Janeiro.

O Som da Mosca

O som característico de uma mosca na música foi criado de forma engenhosa. Em 1973, com tecnologia limitada, Marco Mazzola, produtor do álbum, sugeriu a Raul que incluíssem um som de mosca. Após buscar em vários bancos de sons sem sucesso, recorreram a um sintetizador Moog recém-importado dos Estados Unidos, operado por Luiz Paulo, que conseguiu criar o som perfeito.

Impacto e Significado

A letra de “Mosca na Sopa” é frequentemente interpretada como uma crítica à sociedade e ao sistema estabelecido. Embora muitas pessoas vejam uma alusão à ditadura militar, Raul Seixas nunca confirmou explicitamente essa interpretação. Em apresentações, ele sugeriu que a “sopa” representava a vida burguesa, e a “mosca” era ele próprio, incomodando e desafiando o status quo.

Curiosidades Adicionais

No documentário Raul Seixas: O Início, o Fim e o Meio (2012), há uma cena curiosa onde, durante uma entrevista de Paulo Coelho, uma mosca aparece de repente. Isso é visto como uma espécie de “sinal” ou coincidência divertida, refletindo o espírito irreverente de Raul.

Outra curiosidade é que, devido ao sucesso da música, Raul foi presenteado com um lençol estampado com uma mosca em um prato de sopa. Esse item inusitado faz parte do acervo de Sylvio Passos, guardião de muitas relíquias de Raul.

Reflexão Final

“Nem mesmo todo o DDT disponível no mundo inteiro seria suficiente para acabar com todas as moscas”, disse Raul em uma entrevista em 1973, refletindo sobre a impossibilidade de eliminar completamente os problemas da sociedade. Esse pensamento permanece relevante e ecoa a mensagem de resistência e persistência que Raul transmitia através de suas músicas.

Conclusão

Mosca na Sopa” não é apenas uma música; é uma obra que encapsula a ousadia, a criatividade e a crítica social de Raul Seixas. Sua mistura de ritmos, influências culturais e mensagens subversivas continuam a ressoar, desafiando o ouvinte a olhar além da superfície e a questionar o mundo ao seu redor.

 



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