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Nick Drake: O Cantor Que Se Tornou Imortal Após a Morte

Nick Drake, cantor e compositor inglês que morreu aos 26 anos, passou a maior parte de sua breve vida artística na obscuridade. Três álbuns lançados entre 1969 e 1972 não obtiveram sucesso comercial significativo durante sua existência, mas após sua morte, ele se tornou um dos nomes mais reverenciados do folk britânico. O renascimento de sua obra atingiu um novo ápice nas últimas décadas, impulsionado pelo famoso comercial da Volkswagen em 1999 e pela redescoberta constante de sua música por novas gerações de fãs e artistas. Mais recentemente, com o lançamento da biografia “Nick Drake: The Life”, de Richard Morton Jack, e do álbum de covers “The Endless Coloured Ways”, Nick Drake continua a reafirmar a sua relevância no cenário musical.

Embora sua morte tenha gerado mitos e especulações, a nova biografia busca desfazer muitos equívocos e oferecer um retrato mais realista e detalhado da vida de Drake. O autor entrevistou 200 pessoas próximas ao músico, acessou documentos pessoais da família e derrubou teorias populares, como a de que Drake teria sido viciado em heroína ou vítima de abuso. “Ao contrário das suposições, ele não foi destruído pelas drogas. Ele não era um viciado nem alguém consumido pelo estilo de vida boêmio”, explica Morton Jack.

A Melancolia Poética de Nick Drake

A música de Drake é conhecida por sua beleza melancólica e pela delicadeza de suas composições. Canções como “Pink Moon”, que dá nome ao seu último álbum, exemplificam esse espírito sombrio e introspectivo. Diferente de outros álbuns da época, Pink Moon era um trabalho minimalista e despojado, composto apenas por voz e violão, capturando a essência mais pura do artista. Alguns críticos, como Richard Thompson, descreveram o disco como um “grito de ajuda”, enquanto outros veem nele um toque de esperança e reconciliação.

Jenny Hollingworth, da banda Let’s Eat Grandma, que participa do novo álbum de tributo a Drake, compartilhou sua visão pessoal: “Eu conheci o trabalho de Nick durante o confinamento, em um momento de perda pessoal. Ao invés de ser um disco deprimente, senti como se as músicas estivessem me encontrando onde eu estava emocionalmente. ‘From the Morning’, que encerra o álbum, soa como um chamado para viver e apreciar a vida.”

A Lenda Crescente: Do Culto ao Mainstream

A fama de Drake começou a crescer nos anos seguintes à sua morte. O primeiro sinal de sua ressurreição artística foi quando fãs começaram a visitar a casa de seus pais em Tanworth-in-Arden, na esperança de aprender mais sobre o misterioso cantor por trás das canções. Ainda assim, foi o anúncio da Volkswagen, que usou “Pink Moon” como trilha sonora, que catapultou sua música para uma nova audiência global.

A jornalista Amanda Petrusich relatou que as vendas de Pink Moon cresceram 500% nas primeiras 10 semanas após a exibição do comercial, e o New York Times apontou que as vendas anuais saltaram de cerca de 6.000 cópias para mais de 74.000. O impacto foi tão grande que a voz suave e o violão de Drake passaram a ecoar em produções cinematográficas e séries de TV, como “A Beautiful Day in the Neighborhood” e “Normal People”.

Grandes nomes como R.E.M., Kate Bush e Paul Weller declararam publicamente sua admiração por Drake, reforçando sua importância na história da música. Paul Weller, por exemplo, incluiu várias músicas de Drake em suas listas de reprodução pessoais, citando-o como uma das maiores influências de sua carreira.

The Endless Coloured Ways: Uma Celebração Contemporânea

O lançamento de The Endless Coloured Ways, uma coletânea de 23 covers de Nick Drake, reafirma o impacto duradouro de sua obra. Artistas contemporâneos, como Fontaines D.C., John Grant e Emeli Sandé, trouxeram novas leituras para suas músicas, mantendo a essência das composições, mas atualizando-as para uma audiência moderna.

Emeli Sandé, que fez uma versão de “One of These Things First”, destacou a atemporalidade das letras de Drake: “Há uma pureza e profundidade em suas canções. Suas letras são poesia, e cada audição revela algo novo. Ele escreveu sobre experiências humanas universais de uma forma tão pessoal que continua tocando as pessoas.”

Um Artista Sem Tempo

Há algo de mágico na forma como a música de Nick Drake transcende gerações. Suas canções não são presas a uma era específica, mas parecem existir em uma dimensão própria, onde cada acorde e verso ressoam com uma atemporalidade rara. A lápide de Drake, em Tanworth-in-Arden, traz uma citação de “From the Morning”: “Now we rise and we are everywhere”. E, de fato, Nick Drake está em todos os lugares, como uma presença invisível na cultura pop, uma figura melancólica e poética cuja obra se recusa a desaparecer.

Seja através de uma biografia detalhada, de novos artistas reinterpretando suas canções ou do comercial de carros mais influente de todos os tempos, a lenda de Nick Drake continua a crescer. Para aqueles que nunca ouviram suas músicas, talvez seja hora de colocar Pink Moon para tocar e deixar a voz de Drake guiá-los para um mundo de sonhos melancólicos e emoções profundas.