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Quando o Canibalismo Virou Hit: A Polêmica Atrás de “Timothy”

Poucos sabem que Rupert Holmes, antes de conquistar o topo das paradas com “The Piña Colada Song”, ajudou a escrever um dos singles mais controversos da história da música pop: “Timothy”. Lá pelos anos 70, enquanto o mundo do rock ainda explorava territórios sóbrios, os Buoys, uma banda de rock da Pensilvânia, decidiram arriscar tudo com uma história macabra envolvendo mineiros presos e canibalismo. Como uma canção tão sombria conseguiu não apenas ser lançada, mas também romper a barreira do Billboard Top 20? Este é um conto de ousadia, polêmica e, claro, marketing genial.

A Origem de “Timothy”

Em 1970, os Buoys estavam à beira do fracasso, com apenas uma chance final dada por sua gravadora para emplacar um sucesso. Foi então que o produtor Michael Wright chamou Rupert Holmes para criar algo extraordinário. Holmes, inspirado por programas de culinária e baladas de mineradores, propôs uma ideia inusitada: escrever uma música que fosse banida das rádios. A ideia não era apenas chocar, mas também atrair a curiosidade de adolescentes ávidos por transgressões musicais.

A Canção e Seu Impacto Inicial

“Timothy” começa com a narrativa de três homens presos em uma mina colapsada: Joe, o narrador, e Timothy. Quando finalmente são resgatados, Timothy desapareceu, sugerindo um destino sombrio. Com uma melodia reminiscente de Creedence Clearwater Revival e letras discretamente sinistras, a canção conseguiu seu espaço inicial nas rádios. No entanto, não demorou para que os DJs e os diretores musicais percebessem o real significado por trás das letras.

Holmes recorda que “as estações tocavam porque a canção soava bem, mas, eventualmente, alguém perguntava: ‘Sobre o que é essa música?’” Quando o teor macabro de “Timothy” foi descoberto, algumas estações baniram a canção, mas isso apenas aumentou sua popularidade. Afinal, o que é mais atrativo para um adolescente do que algo proibido?

Estratégias de Marketing e Controvérsias

Para tentar amenizar a controvérsia, a gravadora Scepter Records lançou uma campanha afirmando que Timothy era, na verdade, uma mula de carga. Essa narrativa alternativa chegou a incluir um anúncio na revista Billboard com a imagem de uma mula e os dizeres: “Fizemos você acreditar, mas Timothy era uma mula”. Apesar da tentativa, poucos acreditaram na história, e o mito em torno da canção continuou crescendo.

Holmes também trabalhou em uma versão censurada da música, substituindo o verso “my stomach was full as it could be” (“meu estômago estava tão cheio quanto podia estar”) por “both of us fine as we could be” (“nós dois estávamos bem como podíamos estar”). Entretanto, o charme da canção estava justamente em sua ousadia, e essas edições tiveram pouco impacto.

O Legado de “Timothy”

Mesmo com toda a controvérsia, “Timothy” garantiu aos Buoys um contrato de álbum e, para Holmes, abriu as portas para uma carreira de sucesso que incluiu o icônico hit “Escape (The Piña Colada Song)”. Além disso, a canção deixou sua marca como uma das mais bizarras do pop rock dos anos 70.

Até hoje, “Timothy” aparece em playlists de Halloween e em programas de rádio especializados em rock clássico. A história da música, repleta de audácia e criatividade, serve como um lembrete do poder que uma narrativa polêmica pode ter na música pop.

Como Holmes mesmo diz: “Não há escape de Timothy”.