Quincy Jones, ícone da música, revolucionou o pop e o jazz. O produtor por trás de *Thriller* e *We Are the World* deixa um legado imortal.
Quincy Jones não era apenas um produtor musical; ele era uma força criativa que moldou a música pop, o jazz e a cultura como conhecemos. Ao longo de sua carreira, ele ajudou a criar alguns dos álbuns mais influentes de todos os tempos, expandindo fronteiras sonoras e aproximando diferentes estilos e culturas. Sua morte aos 91 anos, embora seja um momento de imensa perda, marca o fim de uma vida extraordinária que se entrelaçou com alguns dos maiores nomes da música.
Jones foi uma figura central na música do século XX, conhecido mundialmente pelo trabalho com Michael Jackson em álbuns icônicos como *Thriller*, *Off the Wall*, e *Bad*. Mas limitar sua carreira ao trabalho com Jackson seria uma injustiça. Ele também colaborou com outros gigantes como Frank Sinatra, contribuindo para a redefinição do jazz e do pop. Em uma época de segregação racial e barreiras culturais, Quincy Jones conseguiu romper limites, tornando-se uma figura amplamente respeitada e celebrada.
O Início da Lenda com Frank Sinatra
A parceria de Quincy com Frank Sinatra é um dos exemplos mais celebrados de sua habilidade em trabalhar com diferentes artistas e estilos. No começo dos anos 1960, Jones foi convidado por Sinatra para se juntar a ele em uma série de gravações e performances, e juntos eles recriaram clássicos como “Fly Me To The Moon”. Essa colaboração não só reafirmou a relevância de Sinatra, adaptando suas canções ao novo ritmo swing, mas também ajudou a colocar Jones como uma potência inovadora na indústria.
Além disso, Sinatra e Jones romperam barreiras, pois, em uma época ainda marcada pelo racismo, Sinatra fez questão de destacar o talento de Quincy, reconhecendo-o como um igual. Essa parceria duradoura simbolizou a mistura harmoniosa entre o jazz tradicional e uma nova onda que despontava.
Michael Jackson e a Revolução Sonora do Pop
Talvez o ponto mais icônico da carreira de Quincy tenha sido sua colaboração com Michael Jackson. A jornada de Quincy com Jackson começou com o musical *O Feiticeiro*, onde Quincy trabalhou com um jovem Jackson de 19 anos. Daí em diante, a química criativa entre os dois se tornou histórica. Em *Off the Wall* (1979), Jones trouxe o talento vocal de Jackson para o mainstream pop, criando faixas que combinavam disco, soul e R & B com precisão e sofisticação. Esse álbum vendeu cerca de 20 milhões de cópias, mas foi só o começo.
Com *Thriller* (1982), Jones e Jackson criaram uma obra-prima que até hoje é o álbum mais vendido de todos os tempos, com cerca de 66 milhões de cópias. Cada faixa foi meticulosamente trabalhada para atingir um apelo universal, misturando elementos de pop, rock e funk. *Thriller* consolidou o pop como o estilo musical global e apresentou Jones como um visionário absoluto. Em *Bad* (1987), a última colaboração da dupla, Jones novamente mostrou seu domínio, impulsionando Jackson a novos patamares criativos.
Legado Internacional e Parcerias Brasileiras
Jones também teve uma notável conexão com a música brasileira, colaborando com artistas como Milton Nascimento, Ivan Lins e Simone. Sua relação com Milton Nascimento, por exemplo, transcende o profissional e se tornou uma amizade duradoura desde 1967. O carinho e respeito mútuo eram evidentes, e até mesmo durante a pandemia, ambos mantinham contato por videochamadas, uma prova de que a música une fronteiras.
Paulinho da Costa, um percussionista brasileiro, também foi um dos nomes que Jones convidava regularmente para suas gravações. Ele contribuiu para trilhas sonoras de filmes como *O Feiticeiro*, onde a parceria entre Jones e Jackson começou. Em 1981, Jones conquistou um Grammy por uma interpretação de “Velas”, de Ivan Lins, consolidando seu respeito e admiração pela cultura musical brasileira. Ele também foi responsável por levar a cantora Simone ao Montreux Jazz Festival, onde destacou seu profundo talento. Em uma entrevista de 1994, ele declarou: “Simone é demais, eu simplesmente a adoro. Ela vai fundo, penetra na alma.”
A Conexão Social: “We Are The World”
Além de sua habilidade musical, Quincy Jones era alguém profundamente comprometido com causas sociais. Em 1985, ele orquestrou o histórico evento de gravação de *We Are The World*, uma colaboração épica que reuniu 46 dos maiores nomes da música norte-americana, incluindo Jackson, Bruce Springsteen, Tina Turner e Cyndi Lauper. Esse projeto visava arrecadar fundos para a fome na Etiópia e se tornou um marco na história da música de caridade.
A canção se tornou um fenômeno, alcançando o topo das paradas nos Estados Unidos e no Reino Unido. Foi amplamente tocada durante o Live Aid, outra campanha global de arrecadação para combater a fome. Esse tipo de engajamento social adiciona outra camada à carreira de Jones, solidificando-o como um artista que não só moldou a música, mas também usou sua influência para gerar impacto positivo no mundo.
Influência, Inovação e um Legado Inigualável
Quincy Jones era um mestre em cruzar fronteiras musicais e em transcender o som tradicional para criar novas experiências auditivas. Ele se desdobrava para unir artistas de diferentes culturas e estilos, promovendo o entendimento mútuo. Seu trabalho com artistas de jazz, pop e música internacional reflete uma mente que nunca parou de explorar e questionar os limites do que a música poderia alcançar.
Ao todo, Jones ganhou 28 prêmios Grammy, um recorde impressionante que destaca sua habilidade de transcender tendências e criar trabalhos que se mantêm relevantes e influentes. Mesmo após sua morte, sua obra continuará a inspirar músicos, produtores e fãs de todas as idades, provando que, como disse sua família, nunca haverá outro como ele. Seu impacto vai além da música — ele moldou a cultura e criou pontes entre pessoas e culturas ao redor do mundo. Quincy Jones pode ter partido, mas seu som permanece imortal.