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Raimundos: A Trajetória Escrachada do Punk Hardcore Brasileiro

Explore a trajetória dos Raimundos, a banda que definiu o punk hardcore brasileiro dos anos 90 com seu som escrachado e irreverente.

Se tem uma coisa que representa os anos 90 é o som dos Raimundos. Quem nunca cantou em alto e bom som “Selim” dentro do ônibus da excursão da escola para o Playcenter não teve uma infância noventista digna. Os brasilienses Raimundos fizeram da nossa adolescência e infância algo mais escrachado e leve, mesmo que a região de onde vieram tivesse uma reputação mais dura.

O cenário punk hardcore de Brasília, cidade que tanto odiamos e amamos, é uma referência nacional. De lá, nasceu uma das bandas mais criativas e pesadas dos anos 90: os Raimundos. Fundada no final dos anos 80, a banda começou tocando covers de Ramones. Naquela época, Digão era o baterista, mas pouco tempo depois, Caniço entrou para assumir o baixo. Fred, que anos depois se tornaria o baterista definitivo da banda, assistiu ao primeiro show dos Raimundos na festa de Thomas, um membro dos Autoramas.

No início dos anos 90, os membros da banda se separaram brevemente. Caniço foi estudar Direito, Digão deixou a bateria devido a problemas auditivos e passou a tocar guitarra, e Rodolfo foi tocar numa banda chamada Royal Street Flash. No entanto, algumas oportunidades de shows começaram a surgir, e Fred entrou em cena para assumir a bateria enquanto Digão se dedicava à guitarra. Eles gravaram uma demo e começaram a divulgá-la, chamando a atenção de outras bandas, o que resultou em shows com Camisa de Vênus no Circo Voador e abrindo para os Titãs.

Em 1994, lançaram seu primeiro disco pela Banguela Records, um selo em parceria com os Titãs e o saudoso produtor Miranda. Este álbum foi um divisor de águas na carreira da banda, uma verdadeira fábrica de hits como “Puteiro em João Pessoa”, “Palhas do Coqueiro” e “Nega Jurema”. As músicas tocavam incessantemente nas rádios e na MTV, consolidando o Raimundos como um fenômeno dos anos 90.

A mistura da cultura nordestina com o rock não era novidade, já que Raul Seixas havia feito isso com maestria. No entanto, o Raimundos trouxe uma abordagem única, com letras rápidas e pesadas que arrancariam os cabelos das moçoilas mais puritanas. Eles viajaram para os Estados Unidos e gravaram o álbum “Lavô Tá Novo”, que, embora ainda trouxesse elementos da cultura nordestina, já mostrava uma forte influência do heavy metal nas guitarras mais pesadas. Este álbum solidificou o som característico da banda.

Com uma gravadora maior, a Warner, lançaram o segundo álbum “Lavô Tá Novo”, outra fábrica de hits escrachados como “Esporrei na Manivela”, “Filha da Puta” e “Pão da Minha Prima”. Esse álbum foi seguido pelo “Cesta Básica”, que trouxe algumas versões ao vivo e inéditas, mas o verdadeiro amadurecimento da banda veio com o quarto disco, “Lapadas do Povo”.

“Lapadas do Povo” se diferencia totalmente dos discos anteriores, com letras que saíam da zoeira escrachada para abordar temas mais políticos e sociais, como na música “Baile Funk”. A produção do álbum ficou novamente nas mãos de Mark Dearnley, que havia produzido o segundo disco da banda e tinha em seu portfólio artistas como AC/DC e Ozzy Osbourne. Gravado na Califórnia, no estúdio Studio City, onde bandas importantes como Rage Against the Machine e Red Hot Chili Peppers já haviam gravado, o disco foi lançado em agosto de 1997 após uma longa produção.

Apesar de ser uma obra prima madura e pesada, “Lapadas do Povo” não vendeu tanto quanto os discos anteriores. Em um show em Santos, um dos alambrados onde o público estava caiu, provocando a morte de oito pessoas e ferindo 67. Este trágico incidente abalou a banda, que cancelou vários shows da turnê.

O álbum seguinte, “Só no Forevis”, retomou a zoação no fim dos tempos de “Lavô Tá Novo”, o que levou a banda ao topo das paradas em uma ascensão meteórica que infelizmente nunca mais se repetiu. Essa boa fase rendeu dois álbuns MTV ao vivo, com apresentações icônicas. No entanto, a saída de Rhodolfo, que se converteu ao cristianismo e fundou a banda Rodox em 2001, marcou uma mudança significativa na trajetória da banda.

O restante da banda continuou e lançou “Éramos Quatro” com a nova formação, incluindo Marquinho na guitarra. Este álbum trouxe novas músicas ainda gravadas com Rodolfo e vários covers dos Ramones. Digão assumiu os vocais e uma das guitarras, e a banda seguiu lançando discos, incluindo “Kavookavala” em 2002, que teve uma vendagem expressiva. Durante as turnês, Caniço deixou a banda para se juntar ao Rodox, mas foi substituído por Alf.

Em 2014, após um período de hiato, lançaram o álbum “Cantigas de Roda”, seguido por um disco acústico em 2017. Infelizmente, em 13 de março de 2023, o Brasil perdeu Caniço, um dos membros clássicos da banda, que faleceu aos 57 anos após um desmaio e uma queda.

O Raimundos representou, nos anos 90, o último refúgio do politicamente incorreto. Só quem viveu aquela época entende que tudo era apenas zoeira e nada pessoal. A banda, de uns tempos para cá, reatou as relações com Rodolfo, e mesmo que ele não tenha demonstrado interesse em tocar novamente com o grupo, foi bom ver antigos amigos resolvendo suas diferenças.

Caniço, onde quer que esteja, obrigado por tornar nossa infância e adolescência mais leves e escrachadas com suas músicas. Que você esteja em paz.

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