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Rock in Rio 85: Tretas, Triunfos e o Impacto no Brasil

Em janeiro de 1985, o Brasil se preparava para um evento histórico: o maior festival de música já realizado no país até então. O Rock in Rio, que prometia transformar a cena musical brasileira, reuniu grandes nomes do pop e rock internacional ao lado de artistas locais. No entanto, esse evento icônico não foi isento de controvérsias e desafios.

A Grande Aposta: Rock in Rio 1985

Com um investimento colossal de 4,5 milhões de dólares, o Rock in Rio foi uma empreitada ambiciosa. O palco, com impressionantes 5.600 metros quadrados, exigiu a movimentação de 77 mil caminhões de terra para sua construção. O sistema de som, com 70 mil watts e 60 toneladas de equipamentos, prometia uma experiência auditiva incomparável. O técnico de som garantiu que a infraestrutura do festival era a melhor do planeta na época.

Entre os artistas internacionais confirmados estavam o Iron Maiden e Ozzy Osbourne, representando o auge do rock dos anos 80. Do lado brasileiro, o festival contou com a presença de renomados nomes como Barão Vermelho, Kid Abelha, Blitz e Paralamas do Sucesso. A inclusão de artistas como Rita Lee, Gilberto Gil e Erasmo Carlos também destacou a diversidade do line-up.

Desafios e Tretas no Palco

A primeira noite do festival apresentou uma mistura de estilos, mas não foi isenta de problemas. A apresentação de Erasmo Carlos, por exemplo, foi marcada por vaias e objetos arremessados pelo público. O livro Dias de Luta: O Rock e o Brasil dos Anos 80 de Ricardo Alexandre descreve como a performance de Erasmo, vestindo couro e franjas, enfrentou um volume insuficiente e a rejeição de um público predominantemente fã de heavy metal.

Na sequência, a segunda noite trouxe uma programação mais leve, com artistas como Ivan Lins, Elba Ramalho e James Taylor. No entanto, o destaque foi para a estreia dos Paralamas do Sucesso no festival. A participação dos Paralamas foi crucial para o sucesso do evento, especialmente considerando que sua presença foi possibilitada pelo empresário Zé Fortes. Na época, a banda estava em ascensão, mas ainda não havia alcançado a fama nacional completa.

O Papel dos Paralamas do Sucesso

A entrada dos Paralamas no Rock in Rio foi marcada por uma estratégia inteligente. Zé Fortes, reconhecendo a importância do festival, fez contatos diretos com Roberto Medina, organizador do evento. Apesar de um primeiro disco que não teve grande sucesso, os Paralamas eram conhecidos no Rio por suas apresentações enérgicas e cativantes. A negociação para incluir a banda no lineup foi um marco importante para sua carreira.

Durante o festival, os Paralamas enfrentaram um ambiente de nervosismo e preparação apressada. Marcello Sussekind, produtor dos primeiros discos da banda, sugeriu que a banda fizesse exercícios físicos para acalmar a ansiedade antes de subir ao palco. A criatividade foi evidente quando a banda improvisou o cenário com vasos de plantas, incluindo uma Palmeirinha e uma Begônia, criando uma atmosfera única.

Superando Adversidades

A apresentação dos Paralamas no Rock in Rio foi um sucesso retumbante. Com um repertório de 13 músicas e um bis no final, a banda conquistou o público, apesar das dificuldades iniciais. O palco, que inicialmente parecia um desafio, foi transformado em um local de celebração e energia.

No entanto, a experiência não foi isenta de dificuldades. Pedro Ribeiro, responsável pela montagem do palco, enfrentou problemas com os técnicos estrangeiros, que falavam apenas inglês e demonstravam pouca paciência. A tensão entre as bandas e a equipe técnica foi um reflexo das dificuldades enfrentadas pelos artistas brasileiros em um festival de grande escala.

A Reação do Público e a Impactante Presença Internacional

A quarta-feira do festival trouxe uma nova chance para os Paralamas brilharem. Herbert Vianna, vocalista da banda, aproveitou a oportunidade para interagir com o público, abordando as tensões das noites anteriores e promovendo uma conexão positiva com a plateia. A performance, marcada por uma sinergia notável entre a banda e o público, consolidou ainda mais a reputação dos Paralamas.

A sexta-feira e o sábado continuaram a mostrar a diversidade e o impacto do festival. A presença de bandas internacionais como os Scorpions contrastou com as dificuldades enfrentadas por bandas nacionais. O show de A Blitz, com sua performance exuberante e cenografia elaborada, foi um exemplo de como o festival conseguiu captar o espírito vibrante do rock brasileiro, mesmo diante de desafios.

Legado e Reflexões

O Rock in Rio de 1985 foi um divisor de águas para a música no Brasil. O festival não apenas colocou o país no mapa dos grandes eventos musicais internacionais, mas também destacou a crescente cena do rock dos anos 80. As críticas e os desafios enfrentados pelas bandas brasileiras, como Kid Abelha e Eduardo Dusek, foram um reflexo das complexidades de apresentar música nacional em um palco global.

O impacto do festival também foi evidente nas carreiras das bandas. Enquanto Kid Abelha enfrentou problemas internos e Barão Vermelho lidava com mudanças, os Paralamas do Sucesso emergiram como os verdadeiros vencedores do Rock in Rio, aproveitando o impulso para se tornar uma das bandas mais proeminentes do rock brasileiro.

Como destacou José Fortes em Os Paralamas do Sucesso: Vamos Bate-Lata, o sucesso do Rock in Rio foi impulsionado pela geração de rock dos anos 80, que abriu os olhos para o potencial do mercado musical no Brasil. A visão de que o festival foi uma representação dos Estados Unidos no Brasil, conforme mencionado por Everton, também reflete as tensões entre o rock nacional e a influência internacional.

Em suma, o Rock in Rio de 1985 foi um marco significativo na história da música brasileira, oferecendo uma plataforma para a expressão musical e provocando mudanças que ressoam até hoje. O evento não só abriu portas para novas oportunidades, mas também deixou uma marca indelével na memória cultural do país.

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