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Tex Willer: O Eterno Justiceiro do Velho Oeste

 Poucos personagens nas histórias em quadrinhos resistem ao tempo com tanta dignidade e vitalidade quanto Tex Willer. Criado em 1948 por Giovanni Luigi Bonelli (roteiro) e Aurelio Galleppini (arte), o ranger texano atravessou gerações e fronteiras, tornando-se um dos maiores ícones do faroeste nos quadrinhos mundiais. E não estamos falando apenas de longevidade — embora ela impressione: mais de 75 anos ininterruptos de publicações, em dezenas de países, e com milhões de leitores ao redor do globo.

Tex não é apenas um herói de bang-bang. Ele é um símbolo de justiça, coragem, honra e conhecimento histórico. Um personagem que, ao mesmo tempo em que entretém com balas e perseguições, educa com contexto histórico, apresenta culturas indígenas e desafia a corrupção onde quer que ela esteja.

Neste artigo, vamos revisitar a trajetória desse verdadeiro mito dos quadrinhos, mergulhar em sua origem, personagens e legado, e entender por que Tex Willer continua relevante até hoje.

O nascimento do ranger: uma lenda que começou em 1948

Tudo começou no dia 30 de setembro de 1948, com a publicação da históriaIl Totem Misterioso”. A primeira frase já mostrava a tensão típica das aventuras: “Por todos os diabos, será que ainda estão nas minhas costas?”. Estava lançado o cowboy que, com seu chapéu, revólver e senso inabalável de justiça, conquistaria leitores em todo o mundo.

Curiosamente, Tex começou como fora-da-lei, um homem marcado por tragédias pessoais, que buscava justiça com as próprias mãos após o assassinato de seu pai e irmão. Essas experiências moldaram seu caráter forte e o levaram a ser muito mais do que um pistoleiro: Tex se torna um defensor implacável dos inocentes, um símbolo da retidão moral.

A construção de um universo rico e historicamente verossímil

Desde as primeiras tiras em preto e branco — publicadas em formato semanal na Itália —, as aventuras de Tex se destacavam por um detalhe fundamental: o comprometimento com a verossimilhança histórica. Cada ambientação, cada referência cultural, cada elemento do Velho Oeste era fruto de pesquisa meticulosa. Bonelli queria que os leitores não apenas se divertissem, mas também aprendessem.

Ao longo dos anos, as histórias exploraram a cultura indígena navajo, os conflitos da Guerra Civil Americana, o cotidiano dos pioneiros, a expansão para o Oeste, os trens, diligências, minas de ouro e saloons, a corrupção política, e até missões internacionais, com Tex enfrentando criminosos no México, Canadá, América do Sul e Oceania.

Essa abordagem cultural, aliada ao ritmo ágil das tramas, foi uma das chaves para o sucesso internacional do personagem. Afinal, Tex fala de um passado real, mas com uma energia narrativa atemporal.

Tex Willer: o homem, o mito, o ranger

Tex é um Texas Ranger, autoridade máxima da lei em seu estado, mas sua atuação vai muito além. Por sua bravura e ética, é respeitado por xerifes, soldados, líderes indígenas e até por seus inimigos. Ele também é chefe da tribo Navajo, casado com Lilyth, a Lírio Branco, e pai de Kit Willer, o Pequeno Falcão.

O que move Tex não é apenas o dever legal, mas um profundo senso de justiça. Ele detesta a corrupção, confronta o abuso de poder e defende os mais fracos — e o faz com punhos, armas e palavras afiadas. Seu rifle, revólver, faca e laço são ferramentas, mas sua maior arma é sua honra inabalável.

Além disso, Tex é estrategista, carismático e, muitas vezes, sarcástico. Seu companheiro de aventuras, o eterno Kit Carson (também conhecido como “Cabelos de Prata”), oferece o contraponto ideal: rabugento, pessimista, mas leal até a última bala.

Companheiros fieis e inimigos memoráveis

Ao lado de Kit Carson, Tex conta com Jack Tigre, o silencioso e letal guerreiro Navajo, e com seu próprio filho, Kit Willer, corajoso e inteligente.

Mas o universo de Tex também é povoado por vilões marcantes, que vão muito além do simples bandido de western. Mefisto, Tigre Negro, El Muerto, Jane, Zhenda, O Mestre e tantos outros se destacam por sua astúcia, misticismo ou crueldade.

Aliás, Tex não tem medo de confrontos sobrenaturais, viagens espirituais ou elementos místicos. Sua coragem transita entre o racional e o inexplicável, sempre com os pés no chão — mas pronto para o desconhecido.

O fenômeno editorial no Brasil

No Brasil, Tex estreou em 1971 pela Editora Vecchi, passando depois pela RGE, Globo e, atualmente, sendo publicado com enorme zelo pela Editora Mythos. São dezenas de coleções:

  • Tex Normal
  • Tex Coleção
  • Tex Ouro
  • Tex Gigante
  • Tex Edição Histórica
  • Tex Almanaque
  • Tex Minisséries
  • Tex Graphic Novels
  • Tex Férias

Cada uma dessas linhas atende um perfil de leitor: do nostálgico ao colecionador, do novato ao apaixonado por aventuras completas.

A saga de Tex também chegou a Portugal, com edições pela Polvo Editora, e teve até uma adaptação cinematográfica: o filme Tex e il signore degli abissi, lançado no Brasil em 1985.

O segredo da longevidade

Mais do que um personagem de quadrinhos, Tex é um símbolo cultural. Seu sucesso contínuo pode ser atribuído a uma série de fatores:

  • Histórias bem escritas e bem desenhadas
  • Ação constante sem sacrificar o conteúdo
  • Personagens profundamente humanos e carismáticos
  • Compromisso com a história real e com as culturas indígenas
  • Um protagonista ético, firme e carismático

Ao contrário de muitos personagens contemporâneos, Tex nunca foi reinventado à força. Ele evolui dentro de sua essência. E isso, talvez, seja sua maior força: autenticidade.

Tex hoje: mais atual do que nunca

Em um mundo repleto de incertezas, onde os herois modernos muitas vezes se perdem entre dilemas morais e reboots duvidosos, Tex Willer permanece sólido como uma rocha. Ele representa aquilo que muitos procuram: um heroi justo, íntegro, confiável.

Se você ainda não leu nenhuma aventura de Tex, o momento é agora. Com dezenas de edições disponíveis, graphic novels modernas e histórias clássicas impressas, há um mundo inteiro de westerns à sua espera.

E lembre-se: quando você ouvir um disparo no deserto e vir um cavalo galopando ao longe, pode apostar — é Tex, o Águia da Noite, a caminho de mais uma missão.