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The Weeknd – Hurry Up Tomorrow é um fim épico para a trilogia

The Weeknd encerra sua trilogia com Hurry Up Tomorrow, um álbum cinematográfico e ambicioso que explora novos territórios sonoros.

Hoje, vamos mergulhar de cabeça no mais recente álbum do The Weeknd, Hurry Up Tomorrow. Estamos falando do sexto álbum de estúdio de Abel Tesfaye, um dos artistas mais influentes e bem-sucedidos da música pop e R&B contemporânea. Desde suas mixtapes revolucionárias até as produções altamente cinematográficas mais recentes, Abel tem sido uma força constante que molda o cenário musical moderno. Hurry Up Tomorrow chega como a peça final de uma trilogia iniciada com After Hours e continuada em Dawn FM.

Esse novo trabalho de 22 faixas e quase 90 minutos de duração promete uma viagem intensa e conceitual, repleta de experimentações sonoras e uma narrativa profunda. Com produção assinada por Mike Dean e Daniel Lopatin (mais conhecido como Oneohtrix Point Never), o álbum também conta com participações de artistas como Justice e Giorgio Moroder, consolidando uma estética puramente cinematográfica que mistura o passado e o presente da música eletrônica. Mas será que Hurry Up Tomorrow está à altura das expectativas? Vamos analisar tudo em detalhes.

O legado de The Weeknd até aqui

Antes de entrarmos de cabeça no novo disco, vale a pena lembrar a trajetória de The Weeknd. Abel Tesfaye surgiu no cenário musical em 2011, quando lançou três mixtapes rapidamente: House of Balloons, Thursday echoes of Silence. Esses trabalhos ganharam status quase mítico, especialmente após serem reunidos na compilação Trilogy (2012), que redefiniu o R & B moderno com uma abordagem mais sombria, melancólica e atmosférica.

Embora The Weeknd não tenha sido o único artista a explorar essa estética, sua influência foi a mais marcante e duradoura. Quando ele fez a transição para o mainstream, muitos duvidaram que ele pudesse manter sua essência. Mas Abel provou o contrário, lançando sucessos como Starboy e Can’t Feel My Face, que o consolidaram como um dos maiores hitmakers da última década.

Tudo mudou novamente em 2020 com After Hours, um disco que mergulhou profundamente nas influências do synthpop dos anos 80. O álbum foi um divisor de águas, trazendo faixas como Blinding Lights, que se tornou a música mais tocada da década, colocando Abel mais uma vez como um dos maiores trendsetters da indústria musical.

Logo em seguida, Dawn FM elevou ainda mais o conceito artístico de The Weeknd, explorando uma narrativa quase metafísica de transição entre vida e morte, envolta em uma produção futurista e introspectiva. Agora, Hurry Up Tomorrow chega para completar essa trilogia de maneira grandiosa.

Uma experiência cinematográfica

A primeira coisa que salta aos ouvidos em Hurry Up Tomorrow é sua fluidez impressionante. Cada faixa parece se conectar organicamente à próxima, criando uma experiência quase cinematográfica. A narrativa se desenrola como um filme, explorando temas como fama, vício, isolamento e redenção, enquanto Abel alterna entre faixas introspectivas e momentos eletrônicos grandiosos.

A abertura do álbum já deixa claro a ambição do projeto. A faixa Back to Me é uma homenagem evidente a Michael Jackson, com vocais impecáveis e uma produção rica em sintetizadores pulsantes, que lembram a parceria de Quincy Jones com o Rei do Pop.

Logo em seguida, Cry for Me nos leva de volta à era Trilogy, mas com uma reviravolta moderna. A canção mistura elementos de R & B melancólico com batidas latinas e sintetizadores envolventes. O resultado é um dos momentos mais emocionantes do disco, refletindo sobre abandono, sucesso e o peso das expectativas.

Uma das maiores surpresas é São Paulo, uma faixa que incorpora o funk brasileiro de forma ousada e irresistivelmente dançante. É um dos momentos mais groovy do álbum, mostrando que The Weeknd ainda está disposto a se arriscar e explorar novas sonoridades.

Altos e baixos na segunda metade

No meio do disco, Hurry Up Tomorrow desacelera um pouco, explorando baladas mais introspectivas e interlúdios sombrios. Faixas como “Baptized in Fear” criam uma atmosfera de pesadelo, enquanto Open Hearts oferece um contraste mais otimista, com um refrão explosivo e cativante.

Ainda assim, a segunda metade recupera o ritmo com músicas como Enjoy the Show e Given Up on Me, que remetem diretamente ao som característico das primeiras mixtapes, mas com uma produção mais polida e sofisticada.

O grande final

O álbum termina de forma épica com uma sequência de faixas que mostram o auge da criatividade de The Weeknd. Take Me Back to LA e Big Sleep mergulham no synthpop mais sombrio, enquanto The Abyss traz a participação de Lana Del Rey, criando um dos momentos mais melancólicos e hipnotizantes do disco.

Finalmente, Without a Warning encerra o álbum em grande estilo, com Abel soando revigorado e confiante, mesmo refletindo sobre as dificuldades que enfrentou ao longo dos anos. É um momento de redenção e aceitação, que fecha a trilogia com chave de ouro.

No geral, Hurry Up Tomorrow é um álbum ambicioso e multifacetado que consolida The Weeknd como um dos maiores artistas de sua geração. Embora tenha alguns momentos mais fracos no meio do disco, o projeto é uma prova do talento de Abel como contador de histórias e visionário musical. É o tipo de álbum que exige múltiplas audições para ser totalmente absorvido, mas que recompensa quem se aventura por essa jornada musical cinematográfica.

Se After Hours era sobre a glória e a queda, e Dawn FM explorava a transição entre dois mundos, Hurry Up Tomorrow Representa o Renascimento — um encerramento digno para uma das trilogias mais criativas e ousadas da música pop moderna.

Se preferir, ouça um podcast sobre o assunto.