A Legião Urbana é um dos nomes mais icônicos do rock brasileiro, e seu primeiro disco, lançado em 1985, marca o início de uma jornada musical que deixaria uma marca indelével na cena musical do país. Com a votação apertada dos membros do canal, decidimos mergulhar na história fascinante deste álbum e explorar as curiosidades que cercam o grande sucesso “Será”. A seguir, apresentamos uma análise detalhada das nove curiosidades sobre essa canção emblemática e o contexto em que ela foi criada.
1. A Composição de “Será”
A primeira curiosidade sobre “Será” é que, apesar de ser a faixa de abertura do álbum, ela foi uma das últimas a ser escrita. Em 1983, a banda ainda estava se formando e Renato Russo havia criado a maioria das músicas que viriam a compor o disco, como “Teorema”, “Petróleo do Futuro” e “Geração Coca-Cola”. Naquela época, a formação da banda era composta por Renato Russo no vocal e baixo, Dado Villa-Lobos na guitarra e Marcelo Bonfá na bateria. Foi somente no final de 1983 e início de 1984, durante um período de viagens frequentes ao Rio de Janeiro para gravações, que “Será” foi finalmente escrita. Este processo de produção foi repleto de desafios e incertezas, refletidos nas letras da música, que questionam se a banda conseguiria superar as dificuldades e se consolidar no cenário musical.
2. Influências e Referências
A segunda curiosidade envolve a influência da música internacional sobre “Será”. Os dois primeiros versos da canção são notavelmente semelhantes aos de “Say Hello, Wave Goodbye”, uma canção da banda britânica Soft Cell. O refrão dessa música, que começa com “Take your hands off me”, possui uma sonoridade que remete aos versos iniciais de “Será”. Dado Villa-Lobos, em sua autobiografia, confirmou que essa semelhança é uma citação intencional, uma prática comum na época, embora essa referência não tenha sido oficialmente creditada no disco da Legião Urbana. Outras influências notáveis na obra da banda incluem o uso de temas clássicos como o “Cânone de Pachelbel” em “O Teatro dos Vampiros” e a melodia de “O Bêbado e a Equilibrista”.
3. A Busca pelo Produtor
A terceira curiosidade gira em torno da busca da Legião Urbana por um produtor que acreditasse no potencial da banda. Durante suas viagens ao Rio de Janeiro, a banda tentou trabalhar com três produtores diferentes antes de encontrar José Emílio Rondon. Inicialmente, Marcelo Sussekind, conhecido por seu trabalho com os Paralamas do Sucesso, produziu algumas gravações, mas estas não foram aprovadas pela gravadora. Em seguida, Hulk Ferreira, que havia trabalhado com Raul Seixas, também foi descartado devido a desentendimentos criativos. Finalmente, uma fita com as gravações da banda caiu nas mãos de José Emílio Rondon, um jornalista musical que ficou impressionado com a música “Será”. Sua percepção sobre a letra, que capturava os desafios e a esperança da banda, levou-o a oferecer seus serviços como produtor. Sem experiência prévia na produção de discos, Rondon acreditou na banda e ajudou a moldar o som que viria a definir o primeiro álbum da Legião Urbana.
4. O Bloco de Corda
A quarta curiosidade diz respeito ao uso de um instrumento pouco comum em “Será”: o bloco de corda. Semelhante a um xilofone, o bloco de corda é composto por placas de metal ou plástico que produzem um som de sininho. Esse instrumento é utilizado no refrão da música e foi sugerido por José Emílio Rondon para dar à faixa um toque que lembrasse “Born to Run”, de Bruce Springsteen. Embora o encarte do álbum creditasse Marcelo Bonfá como o responsável pelo bloco de corda, há uma divergência, pois Renato Russo também reivindicou a autoria dessa parte. Esse pequeno detalhe é um exemplo das várias contribuições criativas que ajudaram a moldar o som inovador do álbum.
5. A Estrutura de “Será”
A quinta curiosidade envolve a estrutura da música “Será”. A gravadora tinha reservas quanto à estrutura da canção, que seguia um formato não convencional de verso-refrão-verso-refrão. A ideia de cortar e reorganizar a fita para atender às expectativas da gravadora levou a um impasse, e a música foi finalmente lançada com sua estrutura original, que acabou se revelando acertada. A versão final de “Será” passou por quatro mixagens diferentes, ganhando mais apelo e intensidade a cada versão. Apesar das dificuldades enfrentadas, Renato Russo e José Emílio Rondon ficaram satisfeitos com o resultado, que preservava o impacto emocional e a mensagem da canção.
6. O Lançamento e o Impacto Inicial
O álbum foi lançado em 15 de fevereiro de 1985, embora a data original de lançamento estivesse prevista para novembro do ano anterior. O atraso foi em parte devido ao Rock in Rio, que havia atraído a atenção para outros projetos musicais. Assim, “Será” só começou a tocar nas rádios por volta da metade do ano. Esse atraso causou certa apreensão na banda, mas quando a música finalmente entrou na programação das rádios, a Legião Urbana começou a receber convites para programas de televisão, como o de Chacrinha, e entrou no ritmo da indústria musical. O sucesso de “Será” ajudou a consolidar a banda no cenário nacional, e o disco começou a ganhar reconhecimento.
7. Comparações e Influências
À medida que “Será” se tornou um sucesso, comparações entre Renato Russo e o ícone da Jovem Guarda, Jerry Adriani, começaram a surgir. Adriani, ao ouvir a música pela primeira vez em uma rádio, ficou surpreso com a semelhança de estilos vocais. Quando se encontram nos estúdios da Rede Bandeirantes em São Paulo, Adriani foi sincero ao comentar sobre a semelhança das vozes, mas também fez questão de ressaltar que Renato Russo não deveria se preocupar com críticas negativas. Essa interação entre os dois artistas exemplifica a maneira respeitosa com que a nova geração do rock brasileiro se relacionava com os ídolos da música popular.
8. O Significado da Letra
A oitava curiosidade explora o significado da letra de “Será”. Renato Russo descreveu a canção como uma música esperançosa, e em sua discografia legionária, ele considera “Será” imbatível. Arthur Dapieve, por outro lado, interpretou a canção como uma reflexão sobre crescer sem perder a inocência. O filósofo Marcos Carvalho Lopes, no livro “Canção, Estética e Política: Ensaios Legionários”, observa que a letra critica a ideia de uma relação baseada na posse e no domínio, e sugere que a verdadeira relação amorosa não deve ser uma de controle. Essas interpretações mostram a profundidade da mensagem contida na canção e sua relevância tanto no contexto da ditadura militar quanto nas questões universais sobre o amor e a liberdade.
9. A Questão do Texto
Por fim, a nona curiosidade se refere a um detalhe curioso na letra de “Será”. No encarte do disco, o trecho “Eu acho que isso não é amor” é interpretado como “É só que isso não é amor” em algumas versões ao vivo e demos. Esse desvio na letra gerou especulações sobre o motivo dessa diferença, mas não há registros claros em entrevistas ou biografias que explicam a discrepância. Essa variação adiciona uma camada de mistério à interpretação da canção e convida os ouvintes a refletirem sobre o verdadeiro significado das palavras de Renato Russo.
“Será” é mais do que apenas uma canção de sucesso; é uma peça central na história da Legião Urbana e um reflexo das complexidades da vida e da música na época. Desde suas referências e influências até as intrincadas questões de produção e significado, cada aspecto de “Será” contribui para a compreensão do impacto duradouro da banda. Ao explorar essas curiosidades, podemos apreciar ainda mais a profundidade e a relevância da Legião Urbana na cena musical brasileira. Para uma visão mais detalhada e completa, recomendo a leitura dos livros mencionados na descrição, que fornecem informações adicionais e contextos fascinantes sobre a obra e a carreira da banda.