Nesse artigo vamos analisar a canção Roda Viva de Chico Buarque de Holanda e saber comå obra foi erroneamente associada a uma crítica ao regime militar brasileiro.
Roda Viva é uma canção composta por Chico Buarque de Holanda, inscrita no festival da Record no explosivo ano de 1967.
Essa canção ficou em terceiro lugar, na colocação geral, ficando atrás de Disparada, interpretada por Jair Rodrigues, que é outro prato cheio para outro programa.
Roda Viva também foi lançada em disco de vinil, no álbum, Chico Buarque de Holanda, Volume 3, no mesmo ano de 1967.
Uma Canção de Protesto em Épocas de Turbulência Política
Curiosamente o mesmo ano em que foi editado o Decreto Institucional Número 5, ou AI 5, que aumentava em muito a repressão do governo contra tudo que pudesse ser considerado subversivo.
Em função da situação política que vivia o país, Roda Viva ganhou um caráter de música de contestação ao governo militar e passou a ser associada como um dos hinos de resistência ao regime do presidente Emílio Médici.
Mas isso não é o que pretendia seu autor.
Essa música havia, originalmente, sido escrita como parte de uma peça de teatro homônima, que não tinha a conotação política que a mesma ganhou no festival.
Na verdade, tratava-se da história de um ator que se sentia massacrado pelo sistema de trabalho do Mundo do Show Business, com pouca liberdade para criar e se expressar.
Mais se tratando de regime militar, qualquer coisa que possa ser interpretada como um pedido de liberdade ou crítica, se torna um ato subversivo e suspeito de incitação à desordem.
Pois afinal o mundo dos espetáculos também faz parte do sistema capitalista, e também vive em função do lucro.
Alias é um negócio muito lucrativo, não nos dias de hoje claro, pois os espetáculos de teatro e musicais estão proibidos, pelo menos por enquanto.
Daí para associar a crítica de Chico Buarque ao Regime Militar, foi um pulinho.
Rosa Luxemburgo e a Crítica ao Nazismo
Logo os trechos da música passaram a ser associados a questões políticas, como a associação feita entre o termo linda roseira, com a revolucionária socialista alemã, Rosa de Luxemburgo.
Ou quando o termo Roda Viva, é comparado a suástica nazista, do movimento nacionalista alemão que assassinou a mesma Rosa Luxemburgo. Pois a suástica dá a ideia de uma roda em movimento.
Logo alguns críticos achavam que o autor estaria comparando o regime militar ao regime nacional socialista.
O próprio autor diz que na época escreveu a peça com base nas experiências que vivia, no mundo do teatro de revista, pois se sentia atordoado e não sabia como lidar com a fama e a agitação do meio artístico, por isso escrevia para extravasar suas aflições.
Podemos entender que a Roda Viva está associada a uma força que não temos nenhum controle, que arrasta as pessoas ao ritmo do tempo e das circunstâncias de sua época.
O movimento da Roda faz o autor se sentir desorientado e às vezes até desanimado.
Crítica ao regime ou não, Roda Viva passa a ideia de inconformismo e expressa necessidade de mudanças, e como nos dias atuais, essas palavras são perigosas.
O Ataque ao Teatro e o Comando de Caça aos Comunistas.
Um fato curioso é que durante uma apresentação da versão paulista da peça, no teatro Galpão, a mesma foi invadida, em junho de 1968, por um grupo paramilitar de extrema direita, o Comando de Caça aos Comunistas ou CCC, e os atores em pânico foram espancados.
Mais, acredita-se que esses queriam invadir o espetáculo vizinho, Feira Paulista de Opiniões, que realmente tratava de política, mas a sessão havia encerrado, então, para não perder a viagem eles invadiram a peça Roda Viva.
Entre os agredidos estavam nomes conhecidos, como Marília Pêra e André Valli.
Outra curiosidade é que durante muito tempo essa música foi tema de abertura do programa homônimo da TV Cultura.
A análise de “Roda Viva” revela a complexidade de interpretar obras artísticas em tempos de repressão e censura. Embora a canção de Chico Buarque tenha sido adotada como um símbolo de resistência ao regime militar, sua mensagem original era mais introspectiva, refletindo as angústias pessoais e profissionais do autor. No entanto, a capacidade da obra de ressoar com diferentes audiências e contextos políticos é um testemunho do talento de Chico Buarque como compositor e da universalidade de sua música.
“Roda Viva” é, acima de tudo, uma canção sobre a luta contra as forças que nos oprimem, sejam elas políticas, sociais ou pessoais. E é exatamente essa versatilidade de interpretações que faz dela uma obra-prima da música brasileira, capaz de inspirar e desafiar gerações.
Se preferir, ouça um podcast sobre o assunto.
Vídeo de Chico Buarque falando sobre a música:
Vídeo original, apresentado no festival de 1967.
A segunda colocada no festival em 1967 foi a canção “Domingo no Parque” com Gil e os Mutantes e não “Disparada”, como mencionado no texto. Disparada ganhou o festival de 1966.
Certo.