A jornada do Biquíni Cavadão é um testemunho impressionante de como uma banda pode emergir do anonimato para o estrelato, mesmo sem a preparação ou experiência tradicionalmente associadas ao sucesso musical.
O início da banda remonta a um sarau escolar, onde um grupo de jovens, em sua maioria sem habilidade musical, resolveu fazer barulho. Para sua surpresa, esse “barulho” se transformou em sucesso instantâneo, motivando-os a aprender a tocar instrumentos e a compor músicas.
A formação do Biquíni Cavadão começou em 1979, no Colégio São Vicente de Paulo, na zona sul do Rio de Janeiro. Bruno Gouveia, natural de Ituiutaba, Minas Gerais, foi transferido para lá pelos seus pais.
No início, Bruno teve dificuldade em fazer amizades, mas acabou conhecendo Mauro, que lhe apresentou o mundo da música pop e do rock and roll através do rádio. Outro amigo importante foi André Fernandes, conhecido como Sheik, filho de um dos fundadores da Rádio Cidade, uma referência na radiodifusão carioca.
Durante sua adolescência, Bruno desdenhava um pouco do rock nacional, preferindo o que vinha de fora. No entanto, com o surgimento de bandas como Lulu Santos, Blitz, Erva Doce e Kid Abelha entre 1981 e 1983, ele começou a mudar sua perspectiva.
Essas bandas tinham conexões pessoais próximas a Bruno, o que facilitou seu envolvimento nos bastidores da cena musical carioca.
Em 1983, Bruno foi estudar no Reino Unido, onde testemunhou a ascensão do New Wave e do pós-punk, movimentos que estavam mudando a face da música pop e do rock. Ao voltar para o Brasil, cheio de novos discos e influências, Bruno estava pronto para mergulhar de cabeça na música.
O embrião do Biquíni Cavadão surgiu em um sarau do colégio, onde Bruno e seus amigos decidiram fazer uma paródia musical como forma de protesto. Eles adaptaram a música “Ich liebe dich” do Trio, uma banda alemã, e apresentaram a versão intitulada “Eu Não Te Amo, Você Não Me Ama”. A apresentação foi um sucesso estrondoso, tornando-os populares na escola.
A banda ainda não sabia tocar instrumentos de verdade, mas isso começou a mudar rapidamente. Sheik comprou um baixo e começou a ter aulas, e outros membros da banda seguiram o mesmo caminho.
O nome Biquini Cavadão foi sugerido por Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, durante uma conversa em seu Fusca, e acabou sendo adotado pelo grupo.
A primeira composição original da banda foi “Tédio”, criada em 1984. Eles gravaram uma fita demo que chegou às mãos de Beni Borja, do Kid Abelha, que decidiu produzir uma gravação profissional da canção.
Herbert Vianna contribuiu com as guitarras, e a música foi transmitida pela primeira vez na rádio Fluminense FM em 25 de novembro de 1984, marcando o início da trajetória pública do Biquíni Cavadão.
O sucesso de “Tédio” nas rádios impulsionou a banda a assinar com a gravadora Polydor. Em janeiro de 1985, eles gravaram “Tédio” e a nova canção “No Mundo da Lua”, ambas produzidas por Beni Borja e com guitarras de Herbert Vianna. As fotos para o compacto foram tiradas na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro.
Enquanto o compacto ganhava popularidade, a banda se apresentava em shows curtos, pois tinham poucas músicas no repertório. Essa fase inicial foi marcada por críticas e dúvidas sobre a competência musical dos jovens.
No entanto, o Biquíni Cavadão perseverou, participando de programas de TV e shows, expandindo seu público e estabelecendo-se como uma força emergente no rock brasileiro.
Em março de 1985, o Biquíni Cavadão fez seu primeiro show considerado profissional no Circo Voador, no Rio de Janeiro. A banda, ainda sem guitarrista fixo, começou a resolver esse problema com a indicação de Carlos Coelho, que se juntou ao grupo pouco depois.
Com o avanço de 1985, “Tédio” estourou nas rádios do país, e a banda começou a ser reconhecida nacionalmente. A morte de Tancredo Neves, em abril daquele ano, criou um clima de tédio e desilusão no país, que se refletiu no sucesso da música. A banda continuou a ganhar popularidade, aparecendo em revistas e programas de TV.
Apesar das dúvidas iniciais sobre a longevidade de sua carreira, o Biquíni Cavadão provou seu valor, continuando a compor e se apresentar. Eles passaram a enfrentar os desafios do mercado fonográfico, como a expectativa de gravadoras e a necessidade de tocar ao vivo para conquistar o público.
O primeiro compacto do Biquíni Cavadão vendeu mais de 20 mil cópias, solidificando sua presença na cena musical brasileira. A banda, agora mais madura e experiente, estava pronta para abraçar seu lugar no panteão do rock nacional. A história do Biquíni Cavadão é um exemplo inspirador de como a paixão pela música e a determinação podem transformar jovens inexperientes em estrelas consagradas.