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Tempo Perdido de Legião Urbana, Uma Reflexão sobre o tempo, a vida e a Juventude

No artigo de hoje vamos falar sobre uma canção que já algum tempo eu gostaria de analisar e conhecer mais a fundo. 

Não é a minha preferida da Banda Legião Urbana, mas com certeza é mais uma pérola poética de Renato Russo, escrita em um momento de inspiração e criatividade.

Os Antecedentes e a Inspiração para a composição.

Apesar de ser uma canção lançada no ano de 1987, o processo criativo da obra começou muito tempo antes.

Há quem diga que ela junta pedaços de outras duas composições de Renato Russo.

A primeira, uma canção chamada “Gente Obsoleta” de 1977. Essa canção nunca entrou em nenhum trabalho da Legião Urbana. Mas foi dela que Renato tirou a melodia de Tempo Perdido.

Ouvindo a música fica evidente que os dedilhados de violão foram tirados dela para serem utilizados.

Essa obra, composta na adolescência de Renato Russo, fala de um cara que gastou todo seu dinheiro para impressionar alguém.

Essa música pode ser ouvida em uma fita demo de 1981, gravada por Renato Russo em conjunto com o amigo André Pretorius.

Na verdade, só tivemos acesso a essa música, porque a fita foi dada como presente à namorada de André. 

Então em 2016 a então namorada de André na época, decidiu tornar pública a gravação.

O verso inicial de tempo perdido, foi tirado de outra canção que Renato Russo compôs em 1977, que dizia : “Todos os dias quando acordo de manhã não tenho mais o tempo do dia que passou, mas tenho muito tempo para acabar com essa indecisão de ter a sinceridade em perigo”. Essa foi a segunda canção.

Essa canção nunca foi concluída e não chegou a fazer parte do repertório do Aborto Elétrico, nos tempo de Brasília. Coincidentemente o nome da faixa seria 1977, se fosse lançada.

Como dito em outro artigo, algumas músicas do disco Dois do Legião Urbana, foram herdadas da fase do Aborto Elétrico e da fase do Trovador Solitário, em que Renato Russo fazia parte.

Uma terceira influência seria a obra do escritor Francês Marcel Proust, intitulada “Em busca do tempo perdido”. Como citado na biografia de Renato Russo escrita por Carlos Marcelo.

É normal a obra da Legião Urbana ser inspirada em obras literárias. Como na obra de Proust, o tempo que passou seria o passado e a impossibilidade de recuperar o passado. 

O processo criativo e a Composição

Voltando a composição da música propriamente dita, ela foi retomada no carnaval de 1985. Num período em que Renato Russo estava concentrado com seus amigos em uma casa de Brasília.

Esse retiro ou processo de reclusão no feriado de carnaval, se deu em Brasília, na casa dos pais de Dado Villa Lobos. Pois os integrantes da banda e outros amigos queriam passar um feriado sem carnaval, se dedicando às suas canções.

Na casa estava também o escritor de “Feliz Ano Velho”, Marcelo Rubens Paiva, segundo dizem, Renato Russo estava com dificuldades em terminar a letra e ofereceu uma parceria a Marcelo.

Mas esse recusou o convite, alegando não estar apto a escrever letras de música. Em entrevista posterior, Marcelo Rubens Paiva dá a entender que sua única participação na composição da letra foi a frase: “Temos todo tempo do Mundo”.

Vale dizer que no final,  Renato Russo é o único compositor de Tempo Perdido. 

Esta era uma fase de Renato Russo, em que tentava fazer protestos sem utilizar uma linguagem panfletária.

Analisando a Letra de Tempo Perdido.

Como na obra de Proust, a música começa refletindo sobre a passagem do tempo, a impossibilidade de recuperar o passado

Perdemos o passado, ele não volta, então o que podemos fazer é viver o presente e o futuro que é o tempo que nos resta enquanto estivermos vivos. Porque o futuro é inevitável.

Apesar de falar na primeira pessoa, ele dá a entender que fala sobre um coletivo, nós, parecendo que o que vem passando se estende a toda uma geração.

Pois a letra canção parece falar da força da juventude em se opor a sistemas autoritários.

Existe um contexto para isso, porque foi escrita em um período de mudanças, com o fim da do regime militar e o início da democracia no Brasil.

E com certeza a obra trata-se de uma reflexão acerca da passagem inevitável do tempo e da condição efêmera da vida.

Apesar disso, sempre podemos mudar nossas prioridades e nossos modos de viver, de que devemos nos dedicar ao que realmente é importante para nós.

O processo de gravação e produção da música.

As gravações da música foram realizadas no Estúdio RGB, em São Cristóvão, e contou com a guitarra de Dado Villa Lobos, a bateria de Marcelo Bonfá e o baixo de Renato Rocha

Existe uma segunda parte instrumental acústica, onde todos os instrumentos são tocados por Renato Russo.

Tempo Perdido se tornou a sexta faixa do lado B do álbum Legião Urbana 2, segundo álbum da banda lançado em julho de 1986. O compacto promocional  foi enviado às  rádios em 24 de junho de 1986.

A música estourou nas paradas nacionais, pessoas de gosto apurado, chegaram a comparar o novo sucesso ao trabalho da banda inglesa The Smiths

Na época Renato Russo ficou chateado, com o tempo ele passou a achar tempo perdido realmente parecido com os smiths e até contribuiu para o amadurecimento do Legião Urbana em sua musicalidade.

Para se ter uma ideia da importância da música, ela ocupa a 21ª posição da lista dos 100 maiores discos da música brasileira, indicados pela Rolling Stones Brasil. 

É o segundo álbum mais vendido da banda com mais de 1,8 milhão de cópias e o tempo perdido foi um grande sucesso e se tornou um dos clássicos da Legião. 

Existe um vídeo clip oficial, dirigido por José Emilio Rondeau. O vídeo conta com imagens de vários astros da juventude como Brian Wilson, Jimi Hendrix, Bob Marley e Bob Dylan. Mick Jagger, entre outros.

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